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Vettel sofre em queda de braço com Aston Martin e prepara 'tour do adeus' na F1

Sebastian Vettel tem lá seus erros em 2022, mas é inegável que é quem tira mais de outro carro problemático da Aston Martin. Agora, porém, vê o adeus se aproximar

18 ago 2022 - 04h00
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O tetracampeão Sebastian Vettel faz as últimas corridas na F1
O tetracampeão Sebastian Vettel faz as últimas corridas na F1
Foto: Attila Kisbenedek/AFP / Grande Prêmio

VETTEL ANUNCIA APOSENTADORIA DA FÓRMULA 1 AO FIM DE 2022

O fim está próximo. O que for que Sebastian Vettel sinta atualmente quando entra num carro de Fórmula 1 para atividades oficiais de fim de semana, vai sentir somente mais nove vezes. Com 2022, termina uma das carreira mais laureadas de todos os tempos no Mundial. Somente dois pilotos venceram mais que Vettel, só três conquistaram mais títulos. E por mais que não dê para afirmar que vai passar a régua na história dele na F1 estando no auge, é possível dizer, sim, que pelo menos será no melhor ano, tecnicamente falando, desde 2019.

Já faz muito tempo que a vida de Seb não se resume às pistas. E é claro que a primeira coisa que muitos leitores vão imaginar é o ativismo com relação às mudanças climáticas, coisa em qual Vettel mergulhou de cabeça com compreensão para ser mesmo um fator importante por mudanças. Outras questões sociais fundamentais também foram representadas pelo piloto nos últimos tempos, mas é com as mudanças climáticas que ele realmente está intimamente ligado. Mas não é somente o ativismo e as causas sociais.

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É também uma questão de criar as duas filhas mais velhas e o filho mais novo longe dos holofotes. As crias de Vettel não aparecem nunca no paddock da F1 e o filho mais novo não teve sequer o nome anunciado publicamente. Tirar as crianças do eixo de uma vida pública é importante também para o piloto.

O anúncio da aposentadoria é um verdadeiro poema que poucas pessoas poderiam escrever.

"O tempo é uma rua de mão única, e quero ir com ele. Olhar para trás só vai te atrasar. Estou ansioso para correr em pistas desconhecidas e encontrar novos desafios. As marcas que deixei na pista ficarão até o tempo permitir e a chuva as lavará. Novas marcas serão estampadas", disse uma parte anúncio.

E as marcas são indeléveis. Desde que entrou no grid e estreou no GP dos Estados Unidos de 2007, já na parte final da temporada, então com 20 anos, Vettel disputou 291 corridas e terá mais nove pela frente. Assim, chegará aos 300 GPs. Neste período, venceu 53 vezes, foi a 122 pódios, anotou 57 poles e conquistou quatro títulos mundiais. Números de um peso-pesado histórico.

Sebastian Vettel e a Red Bull dominaram a F1 no início da década de 2010 (Foto: Reprodução/Red Bull)

"As perguntas que ele fazia eram muito boas para um piloto jovem e tinha a vantagem de estar 100% comprometido com a Fórmula 1, ou outras categorias. Na F1, quando chegou ao nosso time, trouxe sangue novo, novas ideias, era muito exigente e perguntava bastante. Entrava em detalhes, algo que é muito importante, e estava sempre de bom humor, ainda que tenha tido alguns problemas com o carro no começo. Mas empurrou a equipe para ir adiante e, como resultado, venceu uma corrida com a Toro Rosso, naquela corrida em Monza. Foi a primeira vitória dele e da Toro Rosso. A forma que ele trabalhava… Estava claro para mim que ele se transformaria num piloto grande. Depois, ganhou quatro campeonatos. Mas eu já estava convencido que ele seria campeão mundial na F1 se estivesse no lugar certo, na hora certa", lembrou Franz Tost, o chefe dos tempos de Toro Rosso.

Sebastian está empatado com Alain Prost como tetracampeão mundial, atrás apenas de outros três pilotos com mais conquistas; é o mais jovem da história a fazer pole e vitória no mesmo fim de semana (21 anos e 73 dias, GP da Itália de 2008) e o mais jovem da história a fazer pole, vitória e volta mais rápida (21 anos e 353 dias, GP da Inglaterra de 2009). É, junto de Nigel Mansell em 1992, o piloto com mais vitórias partindo da pole num mesmo ano (nove, 2011). Vettel é o terceiro piloto com mais vitórias e mais voltas lideradas, o quarto com mais poles e o sétimo com mais corridas na história.

Foi o mais jovem da história a vencer uma prova, quando triunfou de maneira inesperada na Itália, em 2008, pela pequena Toro Rosso. O recorde depois foi superado por Max Verstappen, mas ainda é Seb o campeão mais jovem de todos os tempos: tinha 23 anos e 134 dias quando comemorou o título de 2010. Já que conquistou quatro campeonatos seguidos, também é o bi, tri e tetracampeão mais jovem de todos. Quando encerrar a carreira, terá 300 GPs.

"Ele continuará correndo conosco até o GP de Abu Dhabi de 2022, que será o 300º GP dele. Vamos dar a ele uma despedida incrível", assegurou Lawrence Stroll, dono da Aston Martin.

Portanto, tudo isso foi dito para ressaltar como Vettel é um grande. Por mais que tenha caído de rendimento vertiginosamente após aquele GP da Alemanha de 2018, é um nome histórico.

Sebastian Vettel vai para tour de despedida e tenta fazer máximo pela Aston Martin (Foto: Aston Martin)

Vettel perdeu as duas primeiras corridas do campeonato atual, o GP do Bahrein, por conta de um diagnóstico positivo de Covid-19. E nem precisava ser atualizado: o carro da Aston Martin abriu o ano como uma atrocidade. Sem pontos e encarando a realidade de que o segundo ano com o emblema da marca inglesa não havia mudado a queda de patamar no grid com relação aos tempos de Racing Point.

Das 11 corridas que participou, foi melhor que Stroll em seis. Uma diferença pequena, é verdade, mas que não traduz o abismo entre eles. Vettel tem quatro vezes os pontos de Stroll, 16 a 4, e praticamente só foi pior quando errou ou teve problemas.

E é verdade que a frequência dos erros tem sido maior do que se gostaria, mas, no fim das contas, dá para desonerar o piloto quando se nota que tira muito mais rendimento do bólido que o companheiro. Vettel tira o máximo da Aston Martin. A Aston Martin sabia bem que não conseguiria evoluir o carro para um nível competitivo nos próximos anos com Stroll e um jovem, porque Vettel tem sido o desenvolvimento.

Por isso, foi atrás de Fernando Alonso. E por isso, antes de Alonso, quando ainda não tinha a decisão final de Vettel, queria manter o tetracampeão de qualquer jeito. Foi o que o chefe Mike Krack, que chegou neste início de ano, foi a público afirmar. Krack se deparou com uma Aston Martin que tinha um buraco institucional na parte esportiva, quando chegou, no começo de 2022. Havia um vácuo de poder, onde o chefe anterior, Otmar Szafnauer, já não dava as cartas e sabia que Lawrence Stroll queria mexer na cabeça da parte esportiva. Quando começou a trabalhar, notou que precisava de um parceiro na pista para desenvolver o projeto. Teria de ser Vettel.

Neste ano, mesmo nas corridas derradeiras da primeira parte do campeonato, quando a Aston Martin conseguiu se colocar em situação um pouco melhor para buscar pontos, a sanha de ser um bólido difícil de guiar ainda foi bem viva.

Vettel quer ajudar a tornar o esporte mais limpo (Foto: Ben Stansall/AFP)

"Olhando de cara, nosso ritmo hoje parece bastante bom — nossas jornadas longas foram bem competitivas, e acho que fizemos um trabalho sólido como equipe. Mas o carro ainda é bem complicado de pilotar", reconheceu após os treinos livres do GP da Hungria. Vettel terminou pontuando, assim mesmo, ao sair com o décimo lugar.

Na corrida anterior à Hungria, na França, para qual a Aston Martin levou uma série de atualizações, Vettel foi claro. "As atualizações ajudaram, mas ainda falta aderência".

Também nesse mesmo fim de semana, na corrida em Paul Ricard, Vettel fez uma brincadeira de certa forma cáustica, mas que é boa para sintetizar o nível de dificuldades com o carro verdade. O tetracampeão foi convidado a fazer voltas de demonstração no TT1 'Green Pea', carro produzido em 1922, como comemoração do centenário do primeiro GP da história da Aston Martin. Depois de guiar o carro de 2022 pela primeira vez, concluiu que tinha sido "um pouco mais rápido que consegui com o carro de 100 anos".

E tem sido assim. Seb faz o possível, mas ainda é pouco numa equipe capenga que tenta entender o que a Fórmula 1. Vettel nada tem com isso. Que, pelo menos, consiga terminar a carreira com alguns pontos e, quem sabe, um pódio derradeiro.

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