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Guia Fórmula E 2023: Sette Câmara celebra revolução e "estresse" que espera do Gen3

Em entrevista exclusiva concedida ao GRANDE PRÊMIO, Sérgio Sette Câmara abordou o que esperar da Era Gen3 da Fórmula E, que se inicia em 2023, passando pelos problemas de confiabilidade, as possíveis mudanças na ordem de forças e mais ultrapassagens nas corridas

12 jan 2023 - 05h01
(atualizado às 07h49)
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O brasileiro Sérgio Sette Câmara também está de casa nova na Fórmula E
O brasileiro Sérgio Sette Câmara também está de casa nova na Fórmula E
Foto: Fórmula E / Grande Prêmio

A Fórmula E terá um novo protagonista a partir de 2023. E não se trata de nenhum piloto, em um grid com tantas mudanças em relação ao ano anterior, mas sim de seu novo carro — que promete dar o que falar. Oito anos após sua temporada inaugural, a categoria que se notabiliza por carregar o lema de ser ecologicamente sustentável apresenta sua terceira geração de monopostos. Nesta continuação do GUIA 2022/23 da Fórmula E, o GRANDE PRÊMIO apresenta o tão esperado Gen3.

A estreia da terceira geração de carros da Fórmula E, na verdade, deveria ter sido feita em 2022. No entanto, os planos da categoria foram adiados devido à pandemia e realocados para 2023, com um período maior de testagem para minimização de erros. A questão é que os equívocos apareceram mesmo assim e acabaram destacados na pré-temporada, assuntos que iremos tratar ao longo deste guia.

Primeiro, às especificações: o carro Gen3 possui 5,016 metros de comprimento, 1,7 metro de largura e 1,023 metro de altura. É menor do que o Gen2 em todos os três aspectos, o que influencia diretamente no peso: 840 kg incluindo o piloto, algo em torno de 60kg mais leve do que a geração anterior.

O mais importante, porém, funciona por baixo do chassi. O carro Gen3 é o primeiro da história da Fórmula E a ter sua unidade de potência dividida entre a parte dianteira e a traseira do veículo, o que confere ao bólido 150 kW de potência a mais do que seu antecessor — 350 kW a 200 kW. O aumento de potência faz com que o carro possa chegar a 321 km/h, 41 km/h acima do Gen2.

O novo Gen3 promete atingir velocidades nunca alcançadas na Fórmula E
O novo Gen3 promete atingir velocidades nunca alcançadas na Fórmula E
Foto: Fórmula E / Grande Prêmio

Nada se compara, entretanto, ao poder de regeneração de energia previsto pela Fórmula E para o novo carro. Em uma categoria na qual é fundamental o controle da bateria e a recuperação de energia através da frenagem e do coasting, a categoria revolucionou o conceito do carro e implementou a chamada frenagem regenerativa.

A partir de 2023, os carros da Fórmula E não terão mais freios hidráulicos. A frenagem dos carros será feita em função do motor dianteiro, que será responsável por recuperar energia ao mesmo tempo em que efetua a diminuição de velocidade. A categoria estima que até 40% da bateria regenerada pelos pilotos ao longo de uma corrida seja feita desta forma, o que mais do que dobra a capacidade dos Gen3 de recuperar energia — 600 kW, contra 250 kW dos Gen2.

Agora, aos problemas. O novo estilo de frenagem dos carros é vital para o aumento da capacidade de regeneração de energia previsto para os Gen3, mas já apresentou seus primeiros imprevistos — e eles podem ser muito graves.

A frenagem dependente do motor dianteiro do Gen3 simplesmente não conseguiu parar o carro de Sébastien Buemi em Valência, na pré-temporada da categoria realizada em dezembro, e o piloto atingiu o muro de proteção com força em uma das sessões de sexta-feira. Como resultado, o carro acabou destruído e a Fórmula E se viu obrigada a analisar os acontecimentos, já que uma falha técnica foi identificada logo antes da colisão.

Carro de Buemi precisou ser remontado pela Envision após acidente forte em Valência
Carro de Buemi precisou ser remontado pela Envision após acidente forte em Valência
Foto: Reprodução Twitter/@Albertdw98 / Grande Prêmio

Para entender o que causou a falha, é preciso compreender a configuração do trem de força da Fórmula E. A unidade de potência consiste, de uma forma geral, em três elementos principais: a bateria, o motor e o inversor de energia. O inversor é como uma ponte dentro do sistema, convertendo a corrente recebida pela bateria em uma outra corrente, esta de alta densidade, que é enviada ao motor. Durante a frenagem, essa corrente é invertida e isso possibilita a regeneração da bateria — uma tecnologia exclusiva da Fórmula E.

A questão é que o inversor do carro de Buemi simplesmente falhou, o que causou uma pane no carro e a consequente falta de frenagem do veículo. O suíço diminuiu o máximo que pôde, mas não conseguiu frear corretamente e poderia ter se envolvido em um acidente ainda maior. Em um calendário repleto de corridas em pistas estreitas e ladeadas por muros, o potencial de perigo fica evidente e suscita questionamentos.

Os problemas, entretanto, não param por aí. A bateria dos carros, produzida pela Williams, não apresentou a confiabilidade prometida e falhou nos primeiros testes, realizados ainda antes da pré-temporada de Valência. Diversas equipes reportaram falhas nos carros e ficaram paradas na pista, perdendo um tempo valioso que poderia ser usado para conhecer melhor o novo monoposto.

Tudo piorou quando os times perceberam que não conseguiriam novas peças em um curto espaço de tempo, com uma logística que se provou ineficaz — já que a Williams ainda trabalha em uma correção para os problemas — e gerou irritação. Na pré-temporada, a potência chegou a ser diminuída em alguns momentos para que fosse possível reduzir as chances de falha. Ainda assim, segue longe do ideal.

A Porsche foi uma das equipes que sofreram com problemas na bateria antes da pré-temporada
A Porsche foi uma das equipes que sofreram com problemas na bateria antes da pré-temporada
Foto: Fórmula E / Grande Prêmio

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As características externas também foram um problema nos testes de Valência. Consideravelmente mais leves do que os carros anteriores e absolutamente mais velozes, os Gen3 têm apresentado um alto grau de dificuldade de controle até para os pilotos mais experientes — que elogiaram a velocidade, mas se queixaram das constantes perdas de traseira.

Muitos erros puderam ser vistos no Circuito Ricardo Tormo, e a adaptação — em um período extremamente restrito de tempo para testes — precisa ser rápida, já que o calendário prevê circuitos apertados praticamente do início ao fim.

A própria velocidade elogiada pelos pilotos, inclusive, ficou abaixo do esperado. A Fórmula E previa carros até 5s mais rápidos do que seus predecessores, mas a realidade ficou muito longe do planejado.

A volta mais rápida da pré-temporada acabou registrada por Maximilian Günther, da Maserati, no último dia de testes: 1min25s127, apenas 0s636 mais veloz do que a marca estabelecida no período de preparação da última temporada dos Gen2, com Edoardo Mortara — 1min25s763.

Naturalmente, a diferença entre o que foi previsto e o atestado na pista se tornou motivo de críticas, mas os pilotos ainda defendem uma maior adaptação aos novos carros antes de qualquer julgamento — afinal de contas, a temporada 2021/22 reservou o quarto campeonato seguido dos Gen2, uma geração de carros já completamente conhecida pelas equipes em todos os seus aspectos.

Na pré-temporada, Günther marcou o tempo mais rápido da Era Gen3 até aqui
Na pré-temporada, Günther marcou o tempo mais rápido da Era Gen3 até aqui
Foto: Fórmula E / Grande Prêmio

Por fim, a falta de paciência das equipes com a categoria também tem intensificado alguns problemas, já que promessas não foram cumpridas por parte da Fórmula E e geraram insatisfação imediata. Os primeiros testes marcaram o ponto inicial de desgaste, com os problemas da bateria e a dificuldade para conseguir reposições, mas tudo piorou quando o novo regulamento esportivo foi anunciado.

Já incomodadas com a dificuldade da Fórmula E para resolver todas as questões envolvendo as baterias dos carros, as equipes viram a categoria aprovar uma regra que já tinha sido votada — e rejeitada por nove a um — anteriormente: a obrigação de escalação de pilotos novatos em ao menos dois treinos livres na temporada.

A regra, "copiada" da Fórmula 1, foi imediatamente rejeitada pelos times, que argumentaram ter uma nova geração de carros em mãos e destacaram a necessidade de estudar o novo monoposto de forma mais profunda.

Além disso, a possibilidade de uma batida com um novato ao volante é naturalmente maior, o que aumenta o nível de preocupação em um campeonato que já comprovou ter dificuldades de produzir peças sobressalentes. Alguns pilotos, inclusive, já admitem a possibilidade de perderem corridas em caso de acidentes na véspera, já que o tempo para reconstruir o carro pode não ser suficiente.

Entre tantas promessas e problemas, a Fórmula E se prepara para dar o pontapé inicial na temporada inaugural dos carros Gen3, que terão suas especificações preservadas até 2025. A partir de sábado (14), a categoria inicia o campeonato de forma oficial com o eP da Cidade do México, a ser disputado no Autódromo Hermanos Rodríguez.

Acesse as versões em espanhol e português-PT do GRANDE PRÊMIO, além dos parceiros Nosso Palestra e Teleguiado.

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