Monaco: a difícil comparação entre F1 e F-E na mesma pista
Após o último ePrix, muitas vozes se apressaram em fazer comparações entre a F-E e a F1. Não é tão simples assim...
Muita gente torce para que a F-E corra em um mesmo traçado que a F1 para ter algum parâmetro de comparação entre as duas. Afinal de contas, não é de hoje que se diz que a categoria elétrica de monopostos é o futuro do automobilismo e que, para sobreviver, a F1 tem que olhar para ela.
Pela escolha da F-E de fazer suas corridas em circuitos urbanos, a comparação se tornava cada vez mais difícil. No México, o circuito Hermanos Rodriguez recebe ambas as categorias, mas a categoria elétrica usa uma configuração bem diferente da F1.
Com a entrada de Monaco no calendário da F-E, a possibilidade apareceu e, após algumas provas, o mesmo traçado passou a ser usado em 2021. Então as comparações passaram a aparecer.
Na semana passada, enquanto a F1 ia para Miami, a F-E correu em Monaco. E foi uma prova bem animada, com várias possibilidades. Ao fim de tudo, a organização contabilizou 116 ultrapassagens. Um número impressionante.
'You can't overtake in Monaco' 😏⚡️#MonacoEPrix pic.twitter.com/wvmcsgKV01
— ABB FIA Formula E World Championship (@FIAFormulaE) May 6, 2023
Logo, surgiram as vozes de que “dá pra ultrapassar em Monaco” e “o problema da F1 em Monaco é o tamanho dos carros”. As redes sociais então foram bastante animadas neste sentido. Porém é preciso ver tudo com calma...
Para começar, segue um comparativo das medidas da F-E e F1
Logo se nota que o F-E é mais curto e estreito do que o F1. Isso ajuda em circuitos mais cheios de curvas como são os de rua. Pois um carro mais curto e com um entre eixos menor, além de boa parte do peso concentrado no centro, vai ser mais fácil de contornar as curvas e mudar a direção (os mais técnicos chamam de movimento polar de inércia). O que prejudica os carros da F-E neste aspecto é o peso 9que vem principalmente das baterias).
Além do peso, um ponto que deixa a F-E para trás é diferença entre pneus: os elétricos usam um pneu praticamente de rua, enquanto a F1 usa pneus específicos, com muito mais aderência.
Ainda temos a aerodinâmica: mesmo com as mudanças de regulamento, a F-1 tem um carro que depende muito mais da pressão gerada pelo fluxo de ar. A F-E também usa do efeito solo e tem algumas simulações de aerofólios, mas estes não são tão determinantes no desempenho do carro.
Sem contar que a dinâmica da F-E é muito diferente. A categoria foi pensada para ter o Modo Ataque, o que aumenta muito mais as disputas, ainda mais quando se tem carros muito parecidos. Sem contar que as frenagens são mais progressivas, tem que começar mais cedo. Isso tem impacto não só na regeneração de energia (mais eficiente na F-E), mas nas ultrapassagens.
Além do mais, a nova situação da categoria com o GEN3 levou a uma situação de ser muito mais gestor de energia, o que leva a quem estar na frente segurar o ritmo e acaba levando o pelotão ficar mais junto, o que motiva mais trocas de posição.
A questão do tamanho, citada antes, é importante? Ajuda. Porém, mesmo quando a F1 tinha carros bem menores do que os atuais, as ultrapassagens eram bem escassas em Monaco.
Porém, a principal situação que impede uma comparação mais aprofundada: as categorias têm concepções extremamente diferentes. A F1 libera cada equipe para fazer seu carro, dentro de regras estabelecidas. Já a F-E é uma categoria monomarca onde as equipes têm pouca liberdade de ação. Mesmo os trens de força traseiros têm muita restrição para desenvolvimento (os dianteiros por enquanto são os mesmos para todos) e os itens onde os times podem mexer um pouco são a suspensão traseira (dentro de limites) e o software de gestão de energia (que são monitorados pela FIA).
Algo que a F1 pode olhar para a F-E no sentido de deixar o carro menos dependente da aerodinâmica. De certa forma, a mexida no regulamento feita para 2022 é uma tentativa neste sentido e ajudaria muito a ter mais disputas de pista. Só que o batalhão de técnicos faz a vida da FIA e da Liberty ser mais difícil...
Claro que podemos fazer análise superficiais, mas ainda são animais tão diferentes e levam a ter esta dificuldade de equalizar, mesmo em um mesmo circuito. Porém, podemos ver que a diferença entre as partes vem reduzindo e a F-E pode sim considerar abraçar sem medo os circuitos permanentes.