Mulheres e esporte a motor: a longa jornada pela participação
Nos últimos anos, muito se faz para que as mulheres façam parte do esporte a motor. Embora obstáculos ainda apareçam, não se volta atrás
Não vai muito longe o tempo em que papel de mulher no esporte a motor era de simples adorno. Embora uma mulher tenha tido um papel importantíssimo no desenvolvimento do automóvel no seu início (sugiro procurar a história de Bertha Benz), sempre foi um elemento totalmente marginal no processo.
Ganhar espaço foi um trabalho lento, porém sem volta. Algumas iniciativas aconteceram na década de 60 e 70, inclusive chegando na F1 ( a única mulher que pontuou foi Lella Lombardi, em 1975). Outras categorias também tiveram mulheres no comando, como Janeth Guthrie na Indy e Michele Mouton no Rally. Porém, complicado.
Mas não podemos ignorar a força da mulher nos bastidores: Se não fosse a ajuda de sua noiva e depois esposa Hazel, Colin Chapman teria muito mais trabalho para fundar a Lotus. A história de Virginia Williams em relação a Frank Williams é outro exemplo de que, sem a participação feminina, não teríamos certas situações.
Aos poucos, as mulheres foram chegando em outros campos. Inicialmente, ligadas à área de comunicação. Posteriormente, chegaram na parte de logística, materiais e engenharia. E chegamos ao ponto de termos mulheres no comando de equipes, especialmente na F1.
Mas e mulheres na pilotagem? Os esforços pontuais apareceram em vários locais. Mas o apelo de imagem era mais levado em consideração do que o talento em si. Talvez o caso mais emblemático foi o de Danica Patrick, que competiu na Indy e na NASCAR e, por mais que mostrasse desempenho, muitos se empolgavam com a sua beleza.
A questão é: o que fazer para ter mais mulheres pilotando e se envolvendo com o esporte a motor? Ainda é forte a visão de que “carro não é coisa de menina” entre muita gente e este é um fator que trava. Nem entrar o problema do custo, que o esporte a motor não é algo barato...
Temos várias iniciativas para este incentivo. Várias equipes procuram programas de inclusão em seus quadros, envolvendo não só mulheres, mas pretos e outras minorias. A FIA estruturou um programa chamado “Girls On Track”, que procura levar meninas para conhecer o esporte a motor e desenvolver talentos em conjunto com a Ferrari. Havia a W Series, uma categoria voltada para ajudar a melhorar o nível das pilotas, mas que não se sabe ainda se seguirá por questões financeiras.
A F1 tentou entrar nesta onda ao anunciar a criação da F1 Academy, que seria equivalente a F4, mas voltada somente para mulheres. Ainda se há uma dúvida muito grande da efetividade desta iniciativa, que será comandada por Susie Wolff, ex-pilota e chefe de equipe da Venturi (atual Maserati) na F-E. Mas a categoria tenta fazer sua parte.
Temos ações em outras categorias, embora se discuta se vale a pena fazer uma segregação das pilotas, tal como a W Series e a F1 Academy, ou partir para a inclusão. A atual pilota da F3, Sophia Floersch, nunca foi favorável a estas categorias exclusivas. Outras mulheres também pensam desta forma e não estão erradas. A ExtremeE exige que as equipes tenham um piloto e uma pilota.
O importante é que a quantidade vai aumentando em vários lugares e não somente no automobilismo, mas temos exemplos na motovelocidade (Ana Carrasco é um deles). Para o bem do esporte, é mais do que necessário que venham as mulheres não só do lado de fora, mas também no volante. Que não fiquem somente nas telas e arquibancadas.