Script = https://s1.trrsf.com/update-1734630909/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

Nelson Piquet relembra o dia em que superou Senna em teste na Brabham

Confira trecho do novo livro do ex-piloto que traz relato do primeiro encontro entre os dois brasileiros na Fórmula 1

15 ago 2020 - 21h11
Compartilhar
Exibir comentários

Exatamente 30 dias depois de conquistar o bicampeonato de Fórmula 1 com a Brabham em Kyalami, Piquet voltaria a acelerar, em teste em Paul Ricard. Riccardo Patrese não voltaria para o time no ano seguinte. A Brabham precisava de um segundo piloto para 1984 e ninguém melhor que o recém-corado bicampeão para estabelecer as voltas de referência para os pilotos que ambicionavam o cockpit que era do italiano. Até aí, nada demais.

Nos anos 80 eram muito comuns testes em que diversos pilotos experimentavam o carro na mesma condição e até no mesmo dia, para o time selecionar o contratado. E nada mais natural que o competidor mais experiente da equipe para ditar os parâmetros que os outros deveriam buscar.

O que tornou a jornada de 14 de novembro de 1983 relevante para o automobilismo brasileiro foi o nome dos envolvidos. Entre os pilotos a serem testados estava o então promissor talento da F3 Britânica Ayrton Senna da Silva. Ele já havia chamado a atenção de muitos times da F1 pela performance nas categorias de base. Era certa sua entrada na F1 em 1984. A dúvida era em qual equipe. E Senna soube valorizar o passe.

Ao longo de 1983 ele já havia testado pela Williams, McLaren e Toleman. Sempre com marcas impressionantes, às vezes até mais veloz que os titulares das equipes de F1. Veio então o teste com a Brabham.

"Claro que eu seria mais rápido. Eu tinha acabado de ser campeão mundial naquela Brabham. Se um cara que estava conhecendo o carro naquele dia conseguisse me superar, era hora de fazer a mala e ir embora para casa. Eu sabia que era um carro muito rápido e muito difícil de pilotar", declarou Piquet em entrevistas sobre o episódio.

Diz a lenda que ele apostou US$ 100 mil com Bernie que Senna não ficaria sequer no mesmo segundo de seu tempo referência, o que de fato aconteceu.

Já outra lenda, que o bicampeão havia vetado o novato, não é verdadeira. A Parmalat, principal patrocinadora da equipe, preferia um italiano na vaga aberta com a saída de Patrese. Agora ele revela mais detalhes daquele dia em conversa com Nelsinho Piquet.

Pai e filho

- Quando o Senna andou no mesmo carro do que eu, virei dois segundos mais rápido do que ele, 1s9. O dia que ele foi lá, que era o bam-bam-bam, virou mais rápido com a McLaren, virou mais rápido com não sei o que, sentou no meu carro, tomou dois. Acabei com ele por tudo, em Paul Ricard. Era uma pista que de manhã cedo, até às nove e meia, no máximo dez horas, virava rápido, mas depois não tinha jeito, virava lento, lento, lento... Aí lá pra umas quatro e meia, cinco da tarde, começava a virar rápido de novo.

- Até hoje é assim...

- Cheguei às oito da manhã em ponto, cumprimentei os mecânicos e tudo, e isso e aquilo. Ele já estava de macacão lá e tudo, um almofadinha... Aí eu fui lá no estacionamento, não tinha motorhome, lá atrás, parei meu carro longe pra c..., troquei a minha roupa lá, e isso e aquilo, voltei... Sentei no carro, alguém tinha andado com ele, e o cinto estava diferente. Muda o cinto, muda aquilo....

- E você ficou enrolando...

- Eu fui enrolando... Aí botaram quatro pneus novos, e falei "ô, tem dois jogos de pneus e você vai me dar o novo pra eu sair agora?! Bota o pneu velho aí, cara..." Aí jogaram um pneu velho, quando eu saí, já era 20 pras 9.

- O treino já tinha começado?

- Era oito da manhã, era eu e ele só.

- É que hoje em dia tem até horário pra respirar nas pistas...

- Aí arruma o carro, esquentou isso e aquilo... Aí botei o pneu novo umas nove da manhã, e dei uma volta pra morrer. Pensei "acertei tudo, vai ser difícil virar uma volta mais rápida do que essa". Aí para, bota mais asa, tira mais asa, com o mesmo pneu, volta o que era antes, bota o outro pneu.

- Aí você virou mais lento?

- Até melhorei um pouquinho. Andei mais um pouco, saí do carro umas dez horas ou mais. Ele sentou no carro, expliquei tudo pra ele, enrolei o máximo. Aí saiu com os mesmos pneus. Falei "o pneu tá bom ainda". Ele depois botou dois pneus novos, mas virava assim, três segundos mais lento. P..., ele ficou desesperado, mas desesperado...

- Você ficou lá o dia inteiro?

- Fiquei lá... Aí liberaram tudo de pneu que tinha de pneu pra ele. Botou pneu pra caralho, isso e aquilo. Quando foi no outro dia, o Mauro Baldi virou mais rápido do que ele, cravou ele.

- Quem é Mauro Baldi?

- Um italiano lá. O mais rápido que o Senna virou foi 1s9 mais lento do que eu.

- O Bernie estava lá?

- O Bernie foi embora no primeiro dia, assim que acabou o treino (gargalhadas).

- E o Senna tava com quem lá? Assessor, essas coisas...

- Nem lembro. Na McLaren, ele foi lá e virou mais rápido do que os caras, nem sei quem guiava lá naquela época. Aí foi não sei aonde e virou mais rápido do que os caras.

- Entendi. Foi testando em várias equipes...

- Aí sentou e olha o nabo que ele tomou. Aí botaram o Teo Fabi na equipe.

Estadão
Compartilhar
Publicidade
Seu Terra












Publicidade