R3 Cup oferece base sólida e abre portas da Europa a jovens pilotos brasileiros
Há muito pouco tempo, dava para contar nos dedos de uma só mão o número de pilotos brasileiros que conseguiam chegar ao exterior nas categorias de base mais fortes da atualidade. Hoje, graças à visão de Alan Douglas e ao trabalho da Yamaha, o motociclismo brasileiro ganhou um novo rumo
Começo esta análise pedindo um empréstimo a Diogo Moreira. Afinal, quem melhor do que o piloto que passou por uma das bases mais bem constituídas do motociclismo mundial para dizer o que a R3 Cup South America representa para o esporte nacional? E, nas palavras do piloto da Moto3, o que a categoria faz é deixar uma "porta aberta para entrar na Europa".
Diogo não é parte desta geração de pilotos impactada pelo trabalho de Alan Douglas e da Yamaha. O caminho dele passou pelas mãos de Alexandre Barros e da cervejeira Estrella Galicia 0,0, mas o jovem hoje baseado na Espanha foi bastante claro em Goiânia ao dizer ao GRANDE PRÊMIO que a R3 Cup tem o que "faltava no Brasil".
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O motociclismo guarda muitas diferenças em relação ao automobilismo nacional e tem uma posição muito mais fragilizada. Faltava um lugar onde os jovens pudessem começar e, mais do que isso, uma maneira para que eles pudessem fazer a transição para a Europa, onde é necessário estar para chegar aos campeonatos mundiais. E é justamente isso que a R3 Cup faz.
O ex-piloto Alan Douglas trouxe ao Brasil uma fórmula que não é inédita, mas que não tinha sido tão bem aplicada aqui. É o modelo de sucesso da Red Bull Rookies Cup: motos iguais, uniformes padronizados e campeonato baseado no talento. A grande diferença é que a R3 usa a YZF-R3, uma moto de rua adaptada para a competição, enquanto a série que acompanha algumas das rodadas europeias do Mundial de Motovelocidade é feita com protótipos.
Além da fórmula de sucesso, a R3 Cup tem aquilo que é o grande sonho de consumo de todo mundo que ama verdadeiramente esporte a motor: o envolvimento de uma fábrica. E a Yamaha não está lá apenas cedendo as R3. A casa dos três diapasões está presente de corpo e alma.
A marca de Iwata fornece as motos, traz da rede de concessionários parte dos mecânicos que trabalham no fim de semana, está presente nas reuniões com representantes do braço da América Latina da FIM (Federação Internacional de Motociclismo), que envia representantes às etapas para indicar melhorias e orientar um trabalho que o Brasil não estava acostumado a fazer.
Na minha visita à categoria, em Goiânia, eu vi de perto a preocupação em criar um ambiente saudável para os jovens pilotos, um ambiente de competição, sim, mas que preserve a amizade e o respeito entre eles. Afinal, por mais que eles estejam ali buscando um caminho profissional, é preciso ter em mente que eles ainda são adolescentes e tratá-los como tal.
Com os jovens que competem na Europa presentes na etapa, como foi o caso de Moreira, mas também de Humberto Maier, o Turquinho, que disputa o Mundial de Supersport 300; de Enzo Valentim, campeão da R3 Europeia em 2022; de Eduardo Burr, que está no Espanhol de Superbike; e dos irmãos Meikon e Ton Kawakami, que competem no exterior já há algum tempo e hoje estão, respectivamente, no Espanhol de Superbike e no Mundial de Supersport 600; os pilotos daqui tiveram a chance de competir com suas jovens referências ou de simplesmente receber conselhos e orientações.
Meikon, do alto de seus 20 anos, aproveitou a experiência com a língua espanhola para passar o briefing para os pilotos sul-americanos presentes no grid. Valentim, de 18, mostrou enorme maturidade ao dizer que, mesmo que ainda tenha um enorme caminho profissional a percorrer, já tem vivência o suficiente para transmitir conhecimento aos mais jovens. Tudo isso faz uma enorme diferença, pois eles aprendem também uns com os outros.
Quero destacar, ainda, a presença de Diogo Moreira. Ele veio convidado por um patrocinador, mas, por razões óbvias — é o competidor desta geração que mais longe chegou no esporte, ainda que esteja apenas no começo da caminhada profissional dele —, era o homem a ser batido no fim de semana. Todos os pilotos queriam derrotar o titular da MSi. E ele estava lá se divertindo, rindo, brincando, conhecendo uma nova moto, jogando bola e até subindo no pódio. Mas, além de tudo isso, estava também emprestando a visibilidade que já tem para os colegas e para a categoria. Acompanhado do pai, Diogo estava em casa. Literalmente. E foi bom vê-lo assim! Assim como é legal para a torcida ter a chance de vê-lo correr em território nacional, algo que o Mundial não fará tão cedo.
A R3 Cup é um sopro de ar em um esporte que precisava justamente disso. Além do custo acessível, o fator premiação é um ponto forte importante. Gustavo Manso, campeão neste ano, tem 60% de desconto para disputar a competição na Europa em 2023. Kevin Fontainha, que foi o vice, que tem 40% de desconto para a mesma categoria. É um fomento importante. Uma espécie de bolsa de estudos que facilita a transição para o Velho Continente.
Talvez a R3 Cup não seja o ponto de partida do primeiro campeão mundial brasileiro. Mas, enquanto categoria de base, ela é aquilo que o motociclismo brasileiro tanto precisava.
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