Vivendo jornada dupla, Daniel Serra fala sobre WEC e Stock Car
Tri da Stock e bi em Le Mans, piloto fala sobre diferenças entre os carros, adaptação a categorias diferentes e a temporada 2023 do WEC
Não é exagero dizer que Daniel Serra é dos maiores nomes de sua geração no automobilismo brasileiro. Na Stock Car, categoria em que corre desde 2007, é tricampeão (2017 a 2019) e dono de 22 vitórias. Fora do país, faturou nada menos que duas vezes as 24 Horas de Le Mans (2017 e 2019), uma das corridas mais prestigiadas do mundo, na categoria LM GTE Pro.
O currículo invejável credencia Daniel a viver uma jornada dupla no esporte a motor. No Brasil, luta pelo tetracampeonato da Stock (que chegou perto em 2022), atuando pela Eurofarma RC; fora do país, defende a Kessell Racing no Campeonato Mundial de Endurance (WEC), a maior categoria de corridas de longa duração do mundo, a bordo de uma Ferrari 488 GTE Evo.
Em entrevista exclusiva para o Parabólica concedida no fim de semana de Stock Car em Interlagos, Serra falou sobre diferenças entre os carros GT e os Stock, a rotina de se revezar entre duas categorias tão distintas entre si e sobre o campeonato do WEC 2023. E ainda revelou o que almeja para esse ano.
Comparação difícil
Do alto se sua longa vivência na Stock Car – que vem desde a juventude, quando viu de perto o pai, Chico, ser também um tricampeão –, e com um currículo vencedor nos GTs do WEC, Daniel Serra é o piloto mais qualificado para comparar os carros das duas categorias. E mesmo ele tem certa dificuldade de traçar paralelos: “São carros completamente diferentes. O carro do WEC, hoje, deve ser por volta de 12 segundos mais rápido que um Stock Car. Não dá para comparar muita coisa”.
Entre o que Serra conseguiu citar de diferenciais, se destacam a tocada e a margem para ajustes nos carros: “Em um carro você consegue carregar mais velocidade, consegue acreditar mais no freio, um carro tem controle de tração e outro não tem”, frisou. “E lá [no WEC] você tem muito mais a mexer no carro do que aqui [na Stock]. Aqui a gente é muito mais limitado.”
Complemento
A experiência tende ser um fator enriquecedor para um piloto de corridas. Passagens por categorias distintas potencializam características distintas. O caso de Daniel não é diferente. Ao falar sobre como a bagagem em uma categoria pode ajudar em outra, o piloto destaca a competitividade de uma e o refinamento de outra.
“Acho que os dois me ajudam um no outro. Em termos de competição, de corrida, de disputa, a Stock sempre me ajuda para outros lugares. E, ao mesmo tempo, quando eu vou lá para fora, essa questão de poder mexer muito mais no carro, trabalhar muito mais coisas, desenvolver as coisas, acaba me desenvolvendo como piloto. Acho que uma complementa a outra.”
Virando a chave para lá e para cá
Viver em dois mundos diferentes tem suas dificuldades. No dia 15 de abril, corrida em Portugal pelo WEC. Uma semana depois, em São Paulo pela Stock. Apenas mais uma semana até outra rodada do WEC, dessa vez em Spa-Francorchamps, na Bélgica. Além do óbvio desgaste físico, poder haver a questão esportiva: adaptação a carros tão diferentes entre si não é imediata. E é aí que a experiência ajuda.
“Não existe um trabalho específico para que eu consiga mudar o chip tão rápido. Acho que com a experiência de estar andando lá fora e aqui, isso vai acontecendo naturalmente”, conta Serra.
“Mas adapta rápido. O primeiro out que você dá ali é um pouquinho estranho porque a posição de guiar é muito diferente, são carros completamente diferentes. Então, eu estranho um pouquinho. Mas no meio do primeiro treino você já está conseguindo extrair, já está adaptado com o que é preciso para o carro.”
Daniel explica como o trabalho prévio das equipes, que começa bem antes das atividades de pista, ajuda a acelerar o processo de virada de chave: “Para toda etapa, existe uma preparação pré-evento que a gente faz com a equipe. A gente não chega do nada, senta no carro e anda. Acho que toda essa preparação pré-evento já começa a te colocar no clima do evento que você está indo, e aí fica mais fácil adaptar.”
Concorrência forte pelo campeonato
A temporada de 2023 do WEC já teve duas corridas até o momento. Na primeira, em Sebring, EUA, Daniel Serra e seus colegas levaram a Ferrari 488 a bom 3º lugar na categoria. Na segunda, em Portugal, um fim de semana mais difícil e apenas o 10º posto. Algo em comum às duas provas foi vencedor: a Corvette Racing. A Kessel Racing, time de Daniel, ocupa o 5º lugar entre as equipes.
Pensando em campeonato, o bom desempenho do carro norte-americano preocupa: “Eu acho que o Corvette está na frente. Essa última etapa ele ganhou com 30kg no carro, porque lá a gente também tem esse lastro do sucesso. Eles tinham 30kg e venceram”, reforça o paulista.
Título do WEC ou o tri de Le Mans?
É bem verdade que o Corvette começa a abrir uma vantagem considerável na pontuação. Mas o WEC tem mais em jogo do que “apenas” o campeonato. A corrida que marca a metade da temporada tem tanto peso quanto: “Eu acho que tem que ir corrida por corrida, e, obviamente, focar 100% na corrida de Le Mans”.
Questionado sobre o que mais gostaria de vencer esse ano, entre o título do WEC e a corrida de Le Mans, Serra foi sincero: “Se eu estivesse no meu primeiro ano, eu preferiria ganhar Le Mans. Como eu já ganhei Le Mans duas vezes, obviamente eu quero a terceira, mas se eu tivesse que escolher, eu escolheria o título para ter os dois.”
Parabólica no WEC
Daniel Serra está vivendo o privilégio de correr em fins de semanas seguidos em duas das mais aclamadas pistas do mundo: Interlagos e Spa-Francorchamps (ele nos revelou gostar mais de Spa). As 6 Horas de Spa, próxima etapa do mundial de Endurance, começam no sábado (29) às 07h45.
Assim como as duas etapas iniciais do campeonato, a corrida de Spa terá transmissão oficial gratuita no Brasil! A equipe do Parabólica conduz a exibição do evento no canal do WEC no YouTube, mas você pode acompanhar aqui mesmo, no site. Eis mais uma ótima oportunidade para vermos o multitalentoso Daniel Serra em ação!
