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Esqueça luxo da NBA: no Brasil, bola laranja é Libertadores

13 fev 2015 - 12h46
(atualizado em 20/7/2015 às 16h50)
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"Mas o jogo do Palmeiras não foi na quarta-feira?", perguntou ao repórter o taxista responsável por levá-lo até o Allianz Parque na noite desta quinta-feira, para acompanhar à partida entre Palmeiras e Flamengo pelo NBB 7. Ele se referia ao duelo do time comandado por Oswaldo de Oliveira contra o Rio Claro, pelo Campeonato Paulista. O questionamento é justificável - já que o clube alviverde é mais conhecido por causa do futebol do que pelos outros esportes. Ao mesmo tempo, porém, não deixa de ser sintomático.

Pelo tamanho que tem, o basquetebol está longe de ocupar, no coração do brasileiro, o espaço que deveria. Ou melhor: que merecia. Duas vezes campeão mundial com os homens, uma vez com as mulheres, responsável em cinco oportunidades por colocar o País em um pódio olímpico... O esporte praticado com a bola laranja é tradicionalíssimo, mas há muito tempo está adormecido em solo verde e amarelo. Só agora é que tem voltado a evoluir - principalmente por causa da criação do NBB, em 2008, e do estreitamento de relações com a NBA.

NBA fez jogos no Brasil recentemente; laços estreitados
NBA fez jogos no Brasil recentemente; laços estreitados
Foto: Matthew Stockman / Getty Images

É um erro deixar de lembrar, entretanto, que o basquete brasileiro não morreu. Ele, que tantas alegrias proporcionou aos torcedores nacionais em um passado não tão distante, ainda existe, é bastante praticado e tem identidade bem definida no País do futebol - e que cada vez mais também tem se tornado o País do vôlei e até do MMA.

Mas esqueça todo o luxo e glamour da NBA, principal liga da bola laranja do planeta. No Brasil, o basquetebol tem jeito de Copa Libertadores da América, torneio que a cada ano reúne os clubes de futebol mais fortes da América do Sul e que é conhecido por ser o oposto da riquíssima e muitas vezes fria Liga dos Campeões da Europa.

Entenda abaixo:

Ingresso? Que ingresso?

Nos EUA, turistas e torcedores pouco fiéis precisam desembolsar grande quantia de dinheiro para conseguir ir ao ginásio assistir a uma partida da NBA. Existem aqueles que compram carnês caríssimos no início do ano para ter lugar cativo em cada jogo de uma equipe, e isto diminui a oferta de bilhetes durante o restante da temporada.

No Brasil, contudo, não é bem assim que acontece. Ingressos a R$ 30 são considerados caros. A prática mais comum é a da gratuidade. O Palmeiras, por exemplo, não cobra bilhetes na entrada do seu ginásio. Basta chegar, passar pela catraca e entrar. Sem pagar nada. Quando a capacidade é atingida, os portões são fechados.

Entradas para jogos de basquete no Brasil são muito baratas - quando custam algo
Entradas para jogos de basquete no Brasil são muito baratas - quando custam algo
Foto: Daniel Ramalho / Terra

Acanhado é mais gostoso

Nada de imponência. Os ginásios utilizados na NBB são, em sua maioria, mais do que acanhados. Há poucas casas do basquetebol brasileiro que suportam públicos superiores aos 5 mil. Isto nem seria rentável a um clube, já que as médias de torcedores por jogo na liga brasileira sequer se aproximam deste número.

Diferentemente dos EUA, que têm ginásios acostumados a receber mais de 15 mil pessoas, o Brasil se caracteriza por sediar partidas em locais menores e mais "aconchegantes" ao torcedor. Os enormes Nilson Nelson (em Brasília, para até 16 mil pessoas) e Arena da Barra (no Rio de Janeiro, para pouco mais de 15 mil) são exceções.

Ginásios de basquete no Brasil são muito menores que as arenas americanas
Ginásios de basquete no Brasil são muito menores que as arenas americanas
Foto: JB Anthero / Divulgação

Torcida visitante separada

É bastante comum na NBA ver torcedores de equipes diferentes misturados nas arquibancadas de um ginásio. O amarelo dos Los Angeles Lakers e o vermelho do Chicago Bulls, por exemplo, marcam presença em quase todas as arenas dos EUA - independente do jogo.

No NBB, porém, não é bem assim que funciona. Quando há um número expressivo de torcedores visitantes em uma partida, eles são imediatamente posicionados em um ponto estratégico - isolado dos fãs mandantes.

Apesar de a rigidez não se comparar à do futebol - que até torcida única tem cogitado -, ela é bem maior em relação à da Terra do Tio Sam. Nesta quinta, por exemplo, torcedores do Flamengo, que sequer estavam vestidos de vermelho e preto, tiveram de sentar em locais distantes dos palmeirenses no Palestra Itália. Mesmo assim, houve princípio de confusão.

Nos EUA, é comum ver torcedores visitantes "infiltrados" entre os fãs do time da casa
Nos EUA, é comum ver torcedores visitantes "infiltrados" entre os fãs do time da casa
Foto: Christian Petersen / Getty Images

Show?

Os americanos encaram o esporte (e principalmente o basquete) como entretenimento. Torcedores vão aos estádios e ginásios não só para torcer. A intenção é se divertir. Por isso, nos momentos em que as partidas estão paralisadas - seja em tempo-técnico ou intervalo -, mascotes e cheerleaders fazem o impossível para grudar o olhar das pessoas à quadra.

No basquete brasileiro, contudo, há apenas tentativas falhas de se fazer isto. Entre o primeiro e o segundo tempo do confronto entre Palmeiras e Flamengo, nesta quinta, no Palestra Itália, por exemplo, crianças foram chamadas ao centro da quadra para arremessar bolas da linha central. "Preciso arranjar seis, hein?", anunciou o locutor, ainda durante o primeiro tempo (sim, durante o jogo!).

Quando as escolheu, contudo, ele passou a atuar como narrador, gandula e até "recreador" dos mais de mil torcedores presentes nas arquibancadas. Um dos garotos incrivelmente encestou a bola à longa distância. O prêmio? Nada dos milhares de dólares da NBA. E sim um voucher para fazer compras na loja do Palmeiras. É mole?

No intervalo de Palmeiras x Flamengo, locutor virou até gandula
No intervalo de Palmeiras x Flamengo, locutor virou até gandula
Foto: Bruno Landi / Terra

Isto que é pressão

Esta aí o que mais justifica a comparação do NBB com a Copa Libertadores da América. A pressão que as torcidas exercessem nas partidas da liga brasileira de basquete se parece com a dos jogos do torneio continental de futebol e é infinitamente superior à dos fãs que vão aos confrontos da NBA.

Mesmo tendo praticamente menos da metade da capacidade dos ginásios americanos, as casas verde e amarelas são mais hostis aos jogadores adversários.

Nos EUA, os ensaiados gritos de "defesa" e "vamos lá" não chegam a assustar os atletas. Já no Brasil, as torcidas têm cantos de incentivo, de provocação e geralmente transformam os locais dos jogos em inferno aos rivais.

Não há tentativa de distrair os atletas visitantes com gestos durante os lance-livres, por exemplo, mas os gritos com viés futebolístico certamente mexem mais com o ambiente das partidas.

Torcedores no Brasil são mais participativos que os americanos
Torcedores no Brasil são mais participativos que os americanos
Foto: Cleomar Macedo / Divulgação

E o jogo jogado?

Os EUA são o país do basquetebol e, provavelmente, isto nunca deixará de ser verdade. O estilo de jogo americano é considerado o perfeito: aquele que alterna a hora certa de trabalhar no cinco contra cinco com o momento de atuar em velocidade na transição.

O esporte praticado no Brasil, por sua vez, ainda não tem uma grande característica que o define. Bate-se menos lances livres do que na Terra do Tio Sam (as partidas são menos físicas) e se arremessa mais bolas do perímetro (erros são, então, mais comuns).

Max Stanic elogiou basquetebol brasileiro
Max Stanic elogiou basquetebol brasileiro
Foto: Bruno Ulivieri / Divulgação

Para o ala-armador argentino do Palmeiras, Max Stanic, porém, o modo de se praticar basquete em solo verde e amarelo tem ficado cada vez melhor. Aos 36 anos, ele já atuou em centros poderosos do esporte, como Argentina, Itália, França e Espanha, e tem experiência suficiente para opinar.

"O basquetebol brasileiro está muito mudado. Não é mais o jogo de dez, 15 anos atrás, que era só correria e chutes de três. Agora, há jogadores de muita qualidade aqui, que já passaram pela Europa, pela NBA, e as partidas estão muito mais parecidas com as da Argentina de tempos atrás (quando a seleção albiceleste foi campeã olímpica em 2004)", disse.

"O NBB tem um nivel muito alto e a prova disto é que os times brasileiros conquistaram as duas últimas Ligas das Américas (Pinheiros, em 2013, e Flamengo, em 2014), e a Seleção venceu a Argentina (por 85 a 65 nas oitavas de final do último Mundial masculino)", completou.

E aí, o que você acha? O basquete brasileiro tem forças para voltar a ser vitorioso e se tornar poderoso internamente? Opine!

NBB: Mesmo com derrota, Palmeiras agradece apoio da torcida:
Fonte: Terra
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