Miami Heat: defesa forte, ataque emperrado e temporada inconstante
Matheus Gonzaga e Pedro Toledo analisam o desempenho do Heat na fase regular em 2020/21
O Miami Heat foi a maior sensação da bolha. Não é sempre que um quinto colocado chega a uma final de NBA, sendo competitivo e roubando dois jogos, mesmo desfalcado, contra um time de LeBron James. Entretanto, esta temporada do Heat tem sido, no mínimo, inconstante. A equipe ocupa o quarto lugar do Leste, mas tem campanha semelhante a Atlanta Hawks (quinto) e New York Knicks (sexto). A defesa de Miami continua ótima, figurando no sétimo lugar da liga. Entretanto, parece que seu ataque extremamente coletivo e inventivo não tem funcionado, ocasionando no fato de a equipe ser apenas o 20º da liga nesta temporada.
O Heat ainda segue um sistema similar ao da temporada passada, baseado em movimentação de bola (67% de seus arremessos são assistidos, maior marca da liga), sendo a equipe que mais corta para a cesta e também a mais que usa handoffs na liga. O problema é a queda de eficiência. A equipe, que antes gerava 1.07 pontos por posse na jogada, passou a gerar 0.97. Isso se deve bastante a uma adaptação dos adversários em marcar Duncan Robinson, peça central do esquema de handoffs. Os arremessadores da equipe, como um todo, estão tendo um ano abaixo do anterior, convertendo 35.3% de suas tentativas, 21ª marca da NBA. A equipe ainda se destaca em cavar lances livres e finalizar perto da cesta (estão entre os maiores volumes da liga e acertam 65.5% das tentativas, segunda maior marca da NBA), especialmente graças a Jimmy Butler (65%, em quase sete tentativas) e Bam Adebayo (72%, em quase seis). O ataque da equipe depende muito de ambos, especialmente de Jimmy. Sem ele em quadra, o Heat consegue cinco pontos a menos por 100 posses de bola, número bem significativo. O curioso do astro é que, apesar de ser um péssimo arremessador de três, e ter um aproveitamento bem ruim na meia distância, sua capacidade de infiltrar e de cavar faltas o torna altamente efetivo, enquanto pontuador, sendo extremamente positivo nesse quesito (60% de True Shooting).
Além disso, Jimmy é um excelente defensor. Ele lidera a NBA em roubos de bola e novamente impacta o Heat. A equipe é cinco pontos por 100 posses melhor com ele em quadra também nesse lado da quadra. A métrica D-LEBRON o coloca como o sexto melhor defensor da liga dentre as posições de 1 a 3 (naturalmente, jogadores de garrafão tendem a ter maior impacto).
E falando em defesa, Adebayo também é altamente valioso. Apesar de estatisticamente não estar entre os melhores protetores de aro, e não ter um impacto tão grande na temporada regular comparado a jogadores como Rudy Gobert, sua versatilidade é insanamente valiosa nos playoffs. Por conta da capacidade de marcar o perímetro e o garrafão em altíssimo nível, o pivô se torna um defensor de elite na pós-temporada.
No sentido mais tático, o principal destaque defensivo de Miami é o fato de ser o terceiro time que cede menos tentativas no garrafão (o tipo de arremesso mais valioso do basquete) em toda a NBA, sob o preço de ceder muitas bolas de três pontos. Entretanto, os adversários do Heat têm acertado apenas 35% de suas tentativas do perímetro, o que faz com que sofram nas mãos do time de Erik Spoelstra.
O Miami Heat não me parece um candidato ao título, mas também não parecia no ano passado. Seu ataque é emperrado e depende muito das infiltrações de Butler. Entretanto, os ajustes geniais de Spoelstra e a excelente defesa da equipe podem fazê-la subir de patamar e fazer uma sequência boa nos playoffs. Eu não apostaria nisso, mas coisas mais estranhas já aconteceram na NBA.
* Por Matheus Gonzaga e Pedro Toledo (Layups & Threes)