O campo não fala. Ele grita!
Desde o planejamento bisonho no início do ano até as escolhas do técnico Renato Paiva. Involução do Botafogo tem as digitais de Jon Textor
Os escolhidos repetem uma expressão curiosa para expressar o momento irregular do Botafogo. Ela é a síntese de 2025: "O campo fala". Este reles cronista, com voz de fala no "botafoguismo", pede - por gentileza, claro -, licença à torcida alvinegra para alterar o verbo da sentença. "O campo grita". Ele alerta sobre todas as mazelas que acometem o Mais Tradicional nesta temporada. Desde o planejamento bisonho no início do ano até as escolhas do técnico Renato Paiva.
A estreia do Botafogo no Campeonato Brasileiro foi, no mínimo, promissora. Elencamos, neste espaço, os motivos pelos quais o Glorioso iniciou o torneio como um dos favoritos ao resgatar características de 2024. De lá para cá, porém, o time alvinegro, com duas vitórias e duas derrotas, caiu de rendimento. Na terceira rodada do Nacional, ocupa apenas a décima colocação. Deixou, assim, outros postulantes se descolar na tabela. Mas o pior é ter a pior campanha entre os cariocas. Na Libertadores, não estaria classificado para as oitavas de final.
De Paula e as 'saidinhas do Paiva'
O campo berra para o técnico Renato Paiva que insistir com determinadas situações pode causar desgastes e deixa o time engessado, principalmente depois da derrota para o Bragantino. De Paula só rendeu como meia em um amistoso de intertemporada. No "pega para capar", o camisa 6 bateu cabeça com Freitas, realizou a mesma função do capitão do time, e os dois tornam-se presas fáceis para a marcação adversária. Quase sempre encaixotado, o volante não dribla, não acelera, não tabela, não gira quando pega a bola de costas e entrega pouquíssima intensidade. Dos quatro gols com o treinador português, apenas um PK estava em campo como "10".
Com De Paula no meio, Savarino não rende como ponta, sempre tenta puxar para dentro e deixa Telles, um lateral que não vai a fundo e está em má fase, sem auxílio. O craque venezuelano já não anda nos seus melhores dias. Fora de posição, então, fica com poucas ações efetivas e some em grande parte das partidas.
Outra ideia que ainda não harmoniza com o elenco do Botafogo foi a "saidinha do Paiva". Troca de passes curtos. A bola passa por John, pelos zagueiros, por um dos volantes que recua até chegar nos laterais, já afundados pela marcação. Aí é bola para frente e que Jesus se vire na frente. O centroavante ainda se vira como pode, mesmo quando a pelota chega quadrada.
Textor e o planejamento bisonho
Se o Botafogo flerta com a involução, as digitais de John Textor estão nas raízes deste processo de enfraquecimento do elenco. O sócio majoritário da SAF do clube alvinegro é o maior responsável por deixar a equipe dois meses sem treinador. Em 2024, Artur Jorge também pegou o bonde andando. Mas o Glorioso iniciou o ano com um treinador, por pior que ele seja, diferentemente de um "tampão", como Carlos Leiria, deslocado do sub-20 para os profissionais e mais perdido do que cachorro em dia de mudança.
Paiva, sempre disponível no mercado desde 1º de janeiro, poderia testar todos os seus conceitos futebolísticos no Campeonato Carioca, um torneio sem importância e ideal para estes tipos de experimentos. Teria tempo de sobra até para aprimorá-los, caso entendesse que a repetição traria benefícios ao time. Ninguém o condenaria se escalasse de De Paula como o último homem de meio de campo, Telles no gol ou Barboza no ataque. Ou seja, defecaria com mais propósito para o Estadual.
Com Paiva, o Botafogo também enxergaria a Supercopa do Brasil e a Recopa com mais respeito, dois torneios que o Alvinegro ignorou e passou vergonha. Mas Textor queria uma grife, esbarrou na própria soberba, voltou as atenções para o Lyon e teve que contratar um treinador que não era nem o plano.
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