Brasil brilha na edição 2022 da Gymnasiade, na França
Delegação brasileira teve 230 representantes e terminou a competiçãor na 2ª posição, atrás apenas da França, anfitriã. Competição reuniu estudantes-atletas de 69 países
Quarenta e cinco ouros, 45 pratas e 36 bronzes, num total de 126 medalhas. A delegação brasileira encerrou a Gymnasiade, na França, com uma campanha histórica e na vice-liderança do quadro geral de conquistas. O título ficou com os anfitriões, que somaram 130 pódios e 51 ouros. A competição esportiva escolar reuniu 3,4 mil atletas de 69 países e foi encerrada neste domingo, 22.05, na região da Normandia. A equipe nacional embarcou com 230 representantes de 22 Unidades Federativas e atuou em 20 modalidades.
O Brasil ainda saiu da competição com o troféu fairplay da Gymnasiade, premiação destinada à delegação considerada mais simpática e que recebe mais atenção dos demais participantes.
Inspiração campeã
Ulianópolis é uma cidade de estimados 62 mil habitantes no interior do Pará, a cerca de 400km de Belém. Um município que não tem pista oficial de atletismo, mas que é o berço de um fundista que encantou a Normandia durante a Gymnasiade. É de Ulianópolis que surgiu Elias Santos, atleta de 17 anos e 1,82m que conquistou o ouro nos 800m rasos do atletismo.
Ele fechou os 800m em 1min50s38, melhor marca de sua carreira, que já inclui títulos nacionais Sub-18 e ouro sul-americano em revezamento. O tempo valeu índice para o Mundial Sub-20, que será em Cali, na Colômbia, no segundo semestre.
-É gratificante vir de uma cidade pequena, do interior, representar o Brasil num Mundial desse nível e sair com o título. É a primeira medalha de ouro do Pará no atletismo num evento desse patamar- orgulhou-se o fundista, que foi um dos porta-bandeiras da delegação na cerimônia de abertura.
As primeiras passadas vieram cedo, por volta dos seis anos, influenciado pelos pais, também esportistas. Elias treina usualmente num circuito de mil metros na praça central de sua cidade, e não titubeia quando alguém pergunta de sua inspiração e exemplo.
-O Joaquim Cruz é minha inspiração. Ontem, minha final foi baseada na estratégia dele no ouro que ele conquistou nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984. Fiz os primeiros 400m no pelotão e guardei tudo para os últimos 200m. Deslanchei nos 120 metros finais e cheguei inteiro, fazendo dancinha-, disse o fundista, que ainda integrará o revezamento brasileiro.
Elias teve uma surpresa inesperada quando voltou ao hotel.
-Tinha uma mensagem de Whatsapp do Joaquim Cruz me dando os parabéns pelo resultado. Fiquei até meio sem ação. Foi sensacional- afirmou.
Consultado pela reportagem, o campeão olímpico não mediu elogios ao novo talento.
-O Elias me enviou uma mensagem em fevereiro para se apresentar e perguntar se poderíamos falar. Liguei, conversei com ele e o pai dele. Desde então, tenho acompanhado as competições dele. É um garoto extrovertido, confiante, dedicado e cheio de vontade de melhorar no dia de amanhã. Tenho o maior prazer de ajudar de alguma forma- disse Joaquim Cruz.
200m de ouro de Tainara
Uma trilha similar à de Elias foi cumprida na Normandia pela catarinense Tainara Mees, uma velocista especialista nos 100m que retorna ao Brasil com o ouro numa prova em torno da qual não tinha grandes expectativas: os 200m.
-Quando fiz a seletiva em Aracaju para vir à Gymnasiade, só participei dos 100m. Não fiz os 200m porque estava lesionada. Mas aqui surgiu a oportunidade de fazer os 200m. Fiz e conquistei o ouro com meu melhor tempo na carreira: 24s12", celebrou a catarinense de Itapiranga, no extremo oeste do estado. O resultado também valeu para ela o índice para disputar o Mundial Sub-20 de Cali, na Colômbia.
O ouro foi uma fração da trajetória de Tainara. Ela ainda volta da França com duas pratas na bagagem, nos 100m e no 4 x 100m.
-Não gostei tanto da minha performance nos 100m. Minha característica principal é a explosão na saída do bloco. Não acertei bem na final, mas fiquei feliz demais com o ouro e as duas pratas- comentou. Na prova de revezamento, a atleta de 17 anos e 1,80m fez a última perna da corrida.
Para ela, tão importante quanto competir é a oportunidade de viajar, conhecer outras referências técnicas e táticas e viver as diferenças culturais que marcam um megaevento com tantas nações reunidas.
-Não tem coisa melhor que representar o Brasil numa competição grande e viver essas experiências. Meu sonho sempre foi estar em um Mundial. Hoje estou aqui e consegui um título. Vai certamente ficar marcado na minha história- concluiu.