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Caminho do penta: ‘kit sexo’ barrado, malandragem de herói e cambalhota da vitória

Seleção saiu do Brasil desacreditada após dificuldade para se classificar e conquistou o título com redenção de Ronaldo

20 nov 2022 - 05h00
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Confiança contra a Alemanha e bebedeira, Luizão relembra conquista do penta:

Entre gritos de 'burro' e pedidos por 'Romário', o Brasil de Luiz Felipe Scolari optou por colocar Zeca Pagodinho para tocar e seguiu no ritmo de 'Deixa a vida me levar (vida leva eu!)' até conseguir confirmar o hit de Ivete Sangalo e deixar 'rolar a festa'. Essas duas canções deram o tom entre os 23 convocados para ir em busca do pentacampeonato mundial no Japão e na Coreia do Sul.

Os quatro anos entre a dolorosa derrota na final para a França em 1998 e a classificação para Copa de 2002 foram de muita turbulência no time canarinho. Vanderlei Luxemburgo, Candinho e Emerson Leão ocuparam o comando na beira do gramado até a chegada de Luiz Felipe Scolari.

Foram muitos vexames em campo e muitas polêmicas fora das quatro linhas. O vice-campeonato em Paris virou motivo de CPI em Brasília, mediante a suspeita de que a Nike, patrocinadora da Seleção Brasileira, teria vendido o jogo para os franceses. E até o mal-estar de Ronaldo na decisão foi motivo de desconfiança. Não à toa a pressão era enorme nos arredores da CBF e Granja Comary.

Apesar da campanha popular, Felipão foi irredutível e não chamou Romário para a disputa do Mundial. O treinador apostou todas as suas fichas no Fenômeno, que era uma incógnita por causa das duas cirurgias no joelho, e em Luizão, que foi o grande herói na classificação do Brasil para a Copa. O artilheiro do Corinthians marcou duas vezes na vitória decisiva contra a Venezuela para carimbar o passaporte brasileiro para Ásia.

A cumplicidade entre Felipão e Luizão é algo que permanece até hoje, como apontou o ex-centroavante em entrevista exclusiva para o Terra para o especial O Caminho da 6ª estrela, que resgata a história de cada um dos cinco títulos do Brasil em Copas do Mundo a partir da memória dos próprios heróis.

Seleção Brasileira em foto posada antes da final da Copa do Mundo de 2002
Seleção Brasileira em foto posada antes da final da Copa do Mundo de 2002
Foto: Alaor Filho / Estadão

O artilheiro revelou que foi um dos primeiros a pegar o telefone e ligar para o técnico após a dolorosa derrota do Brasil para a Alemanha por 7 a 1 em 2014: "Você foi campeão do mundo. Infelizmente, os caras não jogaram, mas passou. Você é penta."

O carinho ao se referir a Felipão fica evidente em cada manifestação do ex-atacante, que faz questão de elencar adjetivos para elogiar o comandante, que encerrou a carreira de treinador neste ano e vai seguir no futebol como diretor técnico. "É um grande homem, um cara maravilhoso, fantástico, que fez o Brasil sorrir de novo."

Em uma conversa descontraída por telefone, Luizão contou causos da conquista do pentacampeonato. O ex-atacante curtia dias de descanso com a família no interior de São Paulo e preferiu não encontrar a reportagem pessoalmente. Durante os contatos foi possível ouvir que o clima era realmente de diversão.  

Luizão foi o responsável por classificar o Brasil para a Copa do Mundo de 2002
Luizão foi o responsável por classificar o Brasil para a Copa do Mundo de 2002
Foto: Arquivo CBF

Se você se recorda da Copa do Mundo de 2002, vai se lembra que o Brasil saiu perdendo para a Turquia e deixou todo mundo com a pulga trás da orelha: 'Será que vamos ser eliminados logo de cara?', afinal o clima entre torcedores e jogadores era de desconfiança após a sofrida classificação da Seleção. A tensão com o gol de Hasan Sas no final do 1º tempo também tomou conta do vestiário verde e amarelo.

Na volta do intervalo, Ronaldo conseguiu deixar tudo igual em um voleio meio sem jeito. A virada só veio graças ao jeitinho brasileiro de Luizão. O artilheiro entrou em campo, arrancou, foi puxado fora da área, mas caiu depois da linha da grande área, levando o juiz a marcar pênalti. Ainda bem que não tinha o VAR naquela época, né?

"Foi pura malandragem. A gente tinha tido uma palestra com o Arnaldo [Cesar Coelho, ex-árbitro e comentarista de arbitragem], falando da malandragem. Eu queria fazer o gol, mas tava sem forças, aí eu cai e o juiz marcou o pênalti", relembrou aos risos.

A vitória contra a Turquia, os vídeos de festa nas ruas pelo Brasil e a confiança de Paulo Paixão, preparador físico da Seleção, que repetia que o título viria, aumentaram o otimismo de um grupo que conseguiu fechar bem a primeira fase com vitórias tranquilas contra a China e a Costa Rica.

Apesar da fama de 'bagunceiros', o camisa 21 afirmou que o grupo era 'tranquilão' e que 'não teve muita farra' nos momentos de folga. Na preparação para a Copa, Felipão ficou bravo após uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo dizer que os jogadores receberiam um 'kit sexo', com revistas masculinas para ajudar a passar o tempo. Kaká, que era o caçula do grupo e evangélico, seria o único fora da 'lista de recebidos'. A entrega nunca chegou. Na concentração, os jogadores se divertiam contando piadas, jogando baralho e apostando quem fazia 100 metros mais rápido.

Para Luizão, o jogo mais difícil foi contra a Inglaterra, rival das quartas de final após o Brasil superar a Bélgica nas oitavas. Os ingleses saíram na frente, mas Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho --em um gol que não se sabe se ele queria cruzar ou chutar para a rede-- decidiram a classificação para a semifinal para reencontrar novamente os turcos. Dessa vez, foi o biquinho salvador de Ronaldo que levou a Seleção para a terceira final consecutiva de Copa.

"O jogo contra a Alemanha, a gente já sabia que ia ganhar, não foi um jogo que a gente teve medo de perder, tínhamos muita confiança. A gente passou o momento mais difícil contra a Inglaterra. Quando passamos e soubemos que o Ballack, principal jogador da Alemanha não ia jogar, isso aumentou ainda mais a confiança", relembrou Luizão.

Na decisão, Ronaldo levou a melhor contra o goleiro alemão Oliver Kahn e marcou os dois gols que definiram a conquista do pentacampeonato. O Mundial marcou a redenção do camisa 9, que saiu como grande nome da campanha brasileira e até 'apagou' as grandes atuações de Rivaldo. "Para mim, o melhor jogador da Copa foi o Rivaldo, ele não gosta muito de aparecer, e a imprensa do Brasil quando gosta de alguém, só gosta desse alguém, né?", alfinetou.

A festa do penta se estendeu durante todo o trajeto de volta para o Brasil. "O Vampeta veio bebendo o caminho todo. Eu bebi com o Vampeta as primeiras 12 horas e depois dormi as outras 12 horas. Lembro da Ivete [Sangalo] falando que a gente ia cair do trio", afirmou Luizão. A comemoração passou por Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro.

Na capital federal, Vampeta protagonizou uma das cenas mais icônicas daquela conquista. O meio-campista vestiu a caminha do Corinthians, clube que defendia na época, e deu cambalhotas na rampa do Palácio do Planalto após encontro com o então presidente Fernando Henrique Cardoso.

Em rápido encontro com a reportagem do Terra, Vampeta afirmou que a cambalhota foi um "momento único". "Momento de alegria, campeão do mundo. Se fosse para escolher alguém da atual Seleção, acho que o Richarlison, o pombo, pode repetir."

Vampeta deu cambalhota na rampa do Palácio do Planalto
Vampeta deu cambalhota na rampa do Palácio do Planalto
Foto: Alaor Filho / Estadão

*Com colaboração de Alexsander Vieira

Fonte: Redação Terra
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