Ingleses lembram 7 a 1 e constatam: "só Felipão foi punido"
Quase seis meses se passaram desde o histórico 7 a 1 sapecado pela Alemanha no Brasil em plena semifinal de Copa do Mundo. Mas este não parece ter sido tempo suficiente para que muitas pessoas tenham entendido o que aconteceu. Foi desta forma que o jornalista Jonathan Watts iniciou a sua coluna desta segunda-feira no jornal inglês The Guardian. Ela fala sobre o fatídico jogo disputado no Mineirão e constata: quase nada mudou no futebol brasileiro de lá para cá (no "aniversário" de um mês do 7 a 1, o Terra provou que ele não havia servido para nada).
O texto publicado por Watts classifica o 7 a 1 como um “apocalipse do futebol” e lembra que, desde aquele 8 de julho, duas correntes de pensamento se estabeleceram no País que sediou o último Mundial. Uma delas (o dos rebeldes e reformadores) via a goleada como um sinal de problemas estruturais do futebol brasileiro e acreditava que ela “serviria como estímulo para que o futebol sujo praticado no Brasil fosse superado”. A outra, segundo o jornalista, entendia o massacre como uma “exceção no excelente histórico da nação mais bem sucedida da história das Copas do Mundo”.
A discussão entre estes grupos, de acordo com Watts, durou menos de seis meses e o decepcionou. “Poucas cabeças rolaram. Debates sobre a construção de estádios que se tornaram elefantes brancos morreram. Protestos de rua são uma memória distante”, escreve o jornalista no The Guardian. “Enquanto existem resmungos ocasionais sobre o aparentemente inexistente impacto do torneio, parece haver muito pouco apetite para a mudança”, acrescenta a coluna.
Watts não tem dúvida de afirmar que “só Felipão foi punido” após o 7 a 1. O jornalista lembra que José Maria Marin segue como presidente da CBF (já tendo engatilhado como sucessor o seu aliado Marco Polo Del Nero), que Dilma Roussef foi reeleita à presidência do Brasil mesmo depois de ter sido vaiada e xingada em plena abertura da Copa e que o ex-ministro do Esporte, Aldo Rebelo, agora ocupa o ministério da Ciência e Tecnologia. “Na escada política, as repercussões do 7 a 1 foram ainda menos evidentes”, diz.
“A vítima de mais alto perfil do Mineirazo foi Luiz Felipe Scolari”, afirma Watts. O jornalista, porém, lamenta que a saída do treinador da Seleção não tenha representado um novo começo no futebol do País. “Longe disso”, escreve. “Seu substituo foi Dunga, um de seu antecessores”, constata. “A Seleção continua com o seu nonsense, priorizando o trabalho defensivo e tendo vencido os seis jogos disputados desde a Copa com um placar agregado de 14 a 1”, decreta.
Alemanha venceu o Brasil por 7 a 1 em uma semifinal de Copa do Mundo, mas, de lá para cá, pouca coisa mudou (Robert Cianflone/Getty Images)