Mãe de Formiga 'dribla' medo de avião para assistir ao último jogo da filha com a camisa da Seleção
Celeste Maciel Mota se emociona ao falar dos desafios e preconceitos que a meia superou e garante: 'Ela passou por muita coisa, mas não desistiu, porque era o sonho dela'
Em seu último jogo com a camisa da Seleção Brasileira, Formiga contará com a torcida de uma espectadora bem especial nas arquibancadas da Arena da Amazônia. Celeste Maciel Mota, mãe da meia, assistirá pela primeira vez a um jogo da filha no estádio. Brasil e Índia se enfrentam às 22h (de Brasília).
Dona Celeste teve de superar o medo de avião para estar no estádio.
- Quando ela me falou para vir, eu respondi: "eu vou deixar nas mãos de Deus". Porque depois daquele acidente com aquela menina, a Marília Mendonça, eu fiquei muito… aí disse a ela: "Ele que sabe o que vai fazer". Deixei, deixei, e fomos conversando, ela me dizendo que já estava resolvendo isso e aquilo e eu respondia: "deixa Deus trabalhar". Quando chegou na segunda-feira, eu, que estive doente recentemente, amanheci me sentindo tão disposta que disse em oração: "É isso que o Senhor está me dizendo, que devo ir?'" Foi assim que decidi, pedindo a Deus que fosse piloto e copiloto para mim e todos que estavam ao meu lado. Não tive nervoso, não fiquei preocupada nem nada: vim tranquila. Não senti nada, nada, nada! - afirmou ao site da CBF.
A camisa 8 atribui à mãe a oportunidade de tentar sua trajetória no futebol. Até 1979 (um ano depois do nascimento de Formiga), mulheres eram proibidas por lei de praticarem o esporte.
A pioneira Dilma Mendes foi responsável por levar Formiga para uma equipe feminina. Dona Celeste lembra os primeiros passos da filha, que ela chama de "Mira", e de como Formiga deixou para trás os preconceitos:
- Eu já tinha quatro filhos para criar aos 28 anos, bem nova. Fiz de tudo por eles, corri atrás… Mira novinha? (risos) Ela era isso que está aí, minha filha. Ela nunca me deu trabalho nenhum, só este aí: queria ir para campo, jogar bola o tempo todo. Naquela época, tinha muito preconceito, muito. Diziam que ela seria moleque macho, que viraria "piveta", os irmãos ouviam isso e batiam nela para que ela não jogasse mais. Até o dia em que Dilma (Mendes) apareceu, me procurou para levá-la ao clube e eu disse: 'eu não vou responder por ela. Se ela disse que quer ir, eu tô aqui'. Ela quis, e eu a liberei".
Prestes a deixar a Seleção Brasileira, Formiga recebeu homenagens de diversas personalidades do futebol. Dona Celeste contou o que sente após ver sua filha escrever uma bela história com a amarelinha.
- Eu me sinto realizada demais, porque o que ela mais queria era isso. Ela passou por muita coisa, mas não desistiu, porque era o sonho dela - declarou.
Em seguida, contou que espera um "gostinho" especial por ver a filha em campo pela primeira vez.
- Pela TV, eu sempre vi. Como não ia assistir? Nunca perdi nenhum. Na última Olimpíada, acordava de madrugada, assisti a todos os jogos. Eu não ia ao estádio porque eu tinha medo. E eu pensava "poxa, mas só eu que nunca vou"... Mas te digo uma coisa: tudo acontece no tempo certo. Essa hora é agora. Eu vou poder vê-la se despedir, e o que espero para hoje é ver tudo que ela recebeu em troca pela luta dela. Se estou preparada para a emoção de hoje à noite? Tenho que estar. Até de avião eu vim! (risos)", concluiu.