Seleção se afastou da torcida, diz campeão do mundo de 1970
Dario, o Dadá Maravilha, fez parte do grupo que encantou o mundo em 1970 com o título da Copa do México. Bom frasista, às vezes folclórico e em outras, polêmico, ele hoje atua como debatedor da TV Alterosa, de Minas. De passagem pela concentração da CBF em Teresópolis, cidade serrana do Rio, Dario conversou com a reportagem do Terra e falou sobre uma constatação cada vez mais evidente para quem acompanha a Seleção: o distanciamento da equipe com o público.
Qual a principal mudança na rotina da Seleção brasileira, às vésperas de um Mundial, que você tem notado nos últimos anos?
Dario: Ficou tudo cada vez mais fechado. O trabalho da imprensa é limitado, muitos torcedores deixam o trabalho mais cedo, abrem mão de compromissos só pra ver os jogadores, e voltam para casa decepcionados. São barrados. Isso tira o entusiasmo deles e é ruim também para a equipe.
Por que isso ocorre?
Dario: É muita mordomia. No nosso tempo, a gente não tinha nem um décimo do que eles têm hoje e olha que estou falando de um período em que a Seleção era uma máquina de craques. Hoje é jatinho pra lá, helicóptero pra cá, suítes de não sei quantas estrelas. Os jogadores ficam no mundo deles e isso afasta a Seleção do torcedor.
Como seria possível mudar isso?
Dario: Não é complicado. Promove sorteios, deixa dez meninos de gandulas nos treinos, distribui bolas pra outros. Sorteia um que vai apertar a mão do Neymar, outro que vai ganhar uma camisa autografada. Deixa o público ver os treinos. Se o espaço é limitado, organiza fila com senhas, dá lanche pro pessoal. Isso marca as crianças pro resto da vida.
Como era em 1970?
Dario: Acabava o treino a gente conversava com os torcedores, com a imprensa, com os familiares. Ninguém mordia ninguém. Vinham também artistas visitar a equipe. Isso criava um laço do time com a torcida sem igual. Se você dá essa liberdade, a simpatia e o carinho aumentam. Deu certo em 1970, deu certo outras vezes. Não tem que ficar copiando o modelo do Real Madrid, do Barcelona.
Você dizia lá atrás que só helicóptero, beija-flor e Dadá Maravilha eram capazes de parar no ar - no seu caso, para fazer gols de cabeça. Mantém essa máxima?
Dario: Hoje tem o tal do drone, que deve ter sido desenvolvido a partir de estudos do fenômeno Dadá Maravilha. A verdade é que esse drone ferrou com a minha frase preferida.
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