Dunga aplica remédios fracos, e ferida do 7 a 1 ainda dói
Quando o juiz Marco Rodríguez apitou o final do jogo no Mineirão, a Seleção Brasileira virou um paciente em estado terminal. Tinha sofrido sete agressões fortes de um alemão e certamente teria que lidar com consequências graves para o resto da vida. A família ficou sem saber como proceder para buscar um tratamento. Acabou chamando um médico que tem experiência em recuperações desse tipo, mas pouco conhecimento científico. Ele usou diversos tipos de remédios, mas poucos surtiram efeito. Recentemente, ele também sofreu um golpe duro e viu que aquele 7 a 1 é uma ferida aberta que vai demorar para estancar.
Para muitos, o técnico Dunga não era o médico ideal para o caso. A CBF poderia ter sido mais criativa na busca pela cura e até se apressou em seu diagnóstico, pois se empolgou com a manchete de um jornal espanhol e acreditou que o 7 a 1 foi apagado depois da vitória em um amistoso contra a Argentina.
Pelo menos dentro da Seleção Brasileira o diagnóstico nunca foi esse. Dunga e seus comandados assumiram um discurso padrão que foi repetido inúmeras vezes, já que o assunto surge em qualquer entrevista coletiva: "o que aconteceu na Copa do Mundo jamais será esquecido, mas não podemos ficar pensando nisso. Nada vai mudar". Alguns jogadores, como Luiz Gustavo e Ramires, até disseram que o vexame inspira. "Para mim isso serve como motivação. É nisso que me motivo em todas oportunidades. Sempre tento fazer um jogo melhor, continuar evoluindo e ajudar a Seleção, porque a nossa tradição merece vitórias e esperamos em breve ser campeões do mundo", projetou o volante do Wolfsburg.
Mas o fundo do poço também contempla discursos bonitos, então é preciso ver o que foi feito na prática para que a Seleção não vá para lá de novo. Em primeiro lugar, o remédio mais óbvio foi aplicado: renovação no elenco. Dunga fez infiltrações imediatas de jogadores que foram até injustiçados na Copa do Mundo: Danilo, Miranda, Filipe Luis e Willian mereciam mais espaço há muito tempo e enfim viraram titulares absolutos com Dunga. No elenco que disputou a Copa América, neste ano, 16 não estavam no grupo da Copa de 2014. É uma renovação significativa.
Mas há um porém: como foi dito antes, Dunga tem experiência em recuperações e por isso usa métodos antigos. Em 2006, depois do Brasil fazer feio na Copa do Mundo, ele assumiu e quis fazer uma grande reformulação no elenco. Afastou jogadores importantes, como Kaká e Ronaldinho, muito criticados após o Mundial. Depois, aos poucos, começou a incluí-los no grupo de novo. E agora ele tem feito o mesmo aos poucos, já que Thiago Silva e Daniel Alves são exemplos de jogadores que, a princípio, pareciam perder espaço. Mas já terminaram a Copa América como titulares. O tratamento dele parece ser curto demais.
Uma renovação não se baseia só em nomes. Também é preciso ter novas ideias. E Dunga conseguiu mostrar pelo menos uma que é importante: o Brasil não tem sequer um centroavante de destaque atualmente, então precisa aprender a jogar sem isso. Pelo menos no início do tratamento isso teve um resultado excelente, com os remédios Diego Tardelli e Roberto Firmino fazendo gols e sendo decisivos. Porém, na Copa América eles fizeram pouco efeito. Agora resta observar se o médico vai trocar o tratamento ou apenas os medicamentos.
Aliás, a Copa América foi um ótimo exame para vermos como estava o andamento verdadeiro da recuperação da Seleção Brasileira. E o diagnóstico foi péssimo: o goleiro mostrou insegurança, a dupla de zaga teve que ser trocada, os volantes foram o ponto mais fraco, e o ataque não funcionou sem Neymar. Apenas cinco jogadores se salvaram - Daniel Alves, Miranda, Filipe Luis, Willian e Robinho.
Pior: o a Seleção deixou claro que ainda não superou mentalmente o abalo de um ano atrás. O time perdeu a cabeça com facilidade, como contra a Colômbia. Não soube administrar jogos fáceis, como contra a Venezuela e Paraguai. Além disso, o time inteiro deu péssimas declarações após a eliminação. Thiago Silva, por exemplo, mostrou mais uma vez como ficou abalado por causa de um erro. Não é mais o capitão, mas ainda é o símbolo de um elenco traumatizado.
O pior efeito colateral de toda essa crise é ver como o Brasil perdeu respeito internacional. Desde o primeiro jogo após a Copa, contra a Colômbia, já ficou claro que por muito tempo a Seleção vai ser provocada pelos rivais por causa do 7 a 1. Eles fizeram cartazes irônicos, assim como os argentinos durante a Copa América. A imprensa chilena repetiu diversas críticas e disse que Brasil é um time comum sem Neymar. Dunga tentou rebater, mas concluiu com um pedido desesperado: "Eles precisam bater no que temos de melhor (Neymar). Nós não podemos bater".
A cada piada, parece que alguém encosta com força em uma ferida aberta. Vai doer muito por um logo tempo. Mas é possível cicatrizar se forem usados os remédios certos. O problema é que o Brasil ainda está longe de encontrar o tratamento ideal.