Uma noite de silêncio no Beira-Rio e barulho nas ruas
Quem esteve no Beira-Rio na noite de quarta-feira para assistir o último amistoso da Seleção Brasileira - vitória por 1 a 0 sobre Honduras - antes do embarque para o Chile, onde será disputada a Copa América, teve uma noite às avessas: barulho na rua e silêncio dentro do estádio. O público de 22.305 espectadores estava bem longe dos recordes recentes registrados na casa colorada, e a consequência disso foi uma partida monótona, dava até para ouvir um ou outro gritando.
Vários foram os fatores que justificam o clima morno. A começar pela chuva que afastou a massa dos torcedores do Caminho do Gol, um trajeto que tem se repetido desde a Copa, a moral baixa pelo 7 a 1 contra a Alemanha no ano passado e mais recentemente os escândalos de corrupção da Fifa que tem respingado fortemente sobre a Confederação Brasileira de Futebol.
Antes da partida o clima era frio nos arredores do estádio. A calmaria só foi quebrada pela chegada de um grupo de cerca de uma dezena de manifestantes que pedia o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Os seguranças se aproximaram e pediram que eles se manifestassem na calçada porque não tinham ingresso.
Logo depois chegou um outro grupo denominado Povo do Clube, de torcedores ligados ao Internacional, que gritavam palavrões além de “a CBF é a vergonha do Brasil” com faixas e sinalizadores. Eles foram os mesmos que espalharam faixas de protesto pela cidade.
Dentro do estádio o clima era bem mais calmo. Dunga optou por começar o jogo com um time sem Neymar e deixou o ambiente ainda mais morno. O silêncio dentro do estádio era algo semelhante ao que se vê em partidas pelos campos de várzea, quando dá para ouvir um ou outro torcedor xingando tudo que vê pela frente.
Mas o clima era mais família na noite de quarta. Se ouvia um ou outra manifestação em protesto a atuação do juiz Gary Carreno, que não dava qualquer falta e demorava a autorizar a entrada de jogadores, cobranças de falta e laterais por motivos diversos... preciosismo.
Avalanche adolescente no aquecimento de Neymar
O silêncio mesmo foi quebrado quando Neymar participou do aquecimento atrás do gol. Isso provocou um grande deslocamento de adolescentes em direção à mureta vizinha ao campo. Mas logo acabou o primeiro tempo. Outro momento de quebra da monotonia foi no gol de Firmino aos 12min.
Festa no escuro e com música do Senna
No intervalo as luzes foram apagadas e a locutora do estádio avisou: “está na hora de começar a festa”.... as luzes piscavam e começa a tocar – inexplicavelmente - a música da vitória de Ayrton Senna. A cena repetiu o que o Internacional tem feito nos intervalos dos jogos da Libertadores com o torcedor participando da festa com a iluminação dos celulares.
Mas aí começou o segundo tempo
Na segunda etapa parecia que a coisa ia andar com a entrada de Neymar. A torcida o ovacionava muito, mas o romance não durou muito tempo à medida que o ataque brasileiro não se mostrava muito efetivo.
Por conta do comportamento do árbitro, Dunga gritou muito na beira do campo, e um tímido coro ensaiou um “Dunga, Dunga”, mas foi só isso. Em determinado momento, para a torcida, parecia que era um jogo de Neymar contra Honduras, com muito protesto nas faltas cometidas pelos hondurenhos contra o atacante-estrela do Brasil.
Mas o jogo andava e o que se via em campo não animava a torcida. O jogo seguia morno, sem que o Brasil demonstrasse a superioridade esperada pela torcida para uma partida contra uma equipe como Honduras. Tanto que, aos 43min, começaram as vaias seguidas de muitos torcedores deixando o estádio.
Por fim, o jogo terminou sem que a torcida visse o futebol que esperava. Sortudos foram os torcedores atendidos por David Luiz que estavam ao lado do túnel na saída. Ele foi o único que parou para fotos.
“Esperava mais”
Depois de um jogo sem muita emoção, a torcida se sentiu um pouco decepcionada depois de ter gasto valores que variaram entre R$ 120 e R$ 350 pelos ingressos e enfrentando uma noite chuvosa para ver a qualidade do futebol de craques de renome internacional.
“Esperava bem mais, fiquei bem decepcionada. Achei que seria um jogo mais animado, até porque o adversário era Honduras. Eu estava até animada antes do jogo, mas acabei ficando desanimada”, disse Lauren Kafer, 19 anos, afirmando ainda que com atuações como essa, fica difícil da torcida esquecer do 7 a 1.
Mas mesmo assim ela não perdeu a esperança e tentava ao menos ver Dunga de perto através do vidro durante a coletiva de imprensa ao lado da irmã, Laura, e do pai, Francisco. “Poderia ter sido melhor, mas faz parte”, completou o progenitor.
Também na expectativa de ver Dunga, Gabriel Lloja lamentava o que tinha visto. “É a primeira vez que eu venho, mas jogaram muito mal. Se soubesse que ia ser assim não tinha gasto um dinheirão, tinha assistido em casa no quentinho”, lamentava. No entanto, ele diz que se tiver oportunidade vai acompanhar outros jogos da Seleção.