Brasileirão expande transmissão para o exterior e vê novas possibilidades para os clubes
Reconhecimento e possibilidade da entrada de novas marcas no país são apontados como oportunidades a médio e longo prazo
Com uma grande quantidade de atletas e treinadores estrangeiros, além de um nível técnico cada vez mais alto, uma vez que consagrados jogadores retornaram ao país, o Campeonato Brasileiro tem chamado atenção do exterior.
Nos últimos dias, a empresa 1190, detentora dos direitos de comercialização internacional da competição, fechou contrato para a exibição no Oriente Médio, norte da África e Polônia. Anteriormente, quem já havia garantido as transmissões foi a plataforma One Football. Para os clubes, a visibilidade deve permitir novas oportunidades de negócios que envolvem reconhecimento internacional, produção de conteúdo diversificado e a possibilidades de marcas de fora se sentirem atraídas em investir no país.
- Toda forma de fazer um campeonato forte nos interessa. E essa diversificação nas transmissões é uma delas. O Brasileirão é um dos campeonatos mais fortes e disputados no mundo e é muito bom que tenha apelo internacional também. Vejo com excelentes olhos e como uma ótima forma de receita e de valorizar a marca dos clubes e do campeonato - afirma o presidente do Avaí, Júlio César Heerdt.
Presidente do Internacional, Alessandro Barcellos destaca os benefícios de ter a competição transmitida fora do país.
- Além de possibilitar engajamento dos ativos em outro continente, agrega benefícios às marcas envolvidas e aos patrocinadores com comercialização e visibilidade. É um conjunto de fatores que reúnem valor ao 'produto' futebol e principalmente aos times. Temos que estar atentos a essas movimentações, para que no futuro possamos melhorar cada vez mais as receitas com esses novos ativos - aponta o mandatário colorado.
- É muito importante para a valorização da competição internacionalmente. O Campeonato Brasileiro tem evoluído bastante em questão de organização e nível técnico, e até por isso creio que a edição deste ano será muito positiva nesses aspectos. Esse processo da venda dos direitos internacionais pode trazer novas e boas receitas aos clubes brasileiros em breve - afirma o vice-presidente do Cuiabá, Cristiano Dresch.
Outro presidente que faz uma consideração importante é o do Fortaleza, Marcelo Paz. Segundo ele, existe uma falsa sensação de que o futebol brasileiro é conhecido mundialmente.
- Conhecida é a seleção brasileira, nossa camisa amarela e grandes craques como o Neymar. As marcas do futebol brasileiro não são conhecidas ao redor do mundo se comparado, por exemplo, com Real Madrid, Barcelona, Bayern de Munique, Manchester City, entre outros. Na medida que o nosso campeonato é transmitido para outros países, o mundo passa a conhecer o Fortaleza e todos os clubes que o disputam. Isso pode gerar um novo mercado consumidor para os times, como camisas, produtos licenciados, plataformas de streaming, redes sociais, entre outros. Atualmente o futebol brasileiro vende para fora o artista, que é o jogador, mas não vende o espetáculo que é o jogo, e uma iniciativa como essa faz com que começamos a vender o espetáculo.
A transmissão dos jogos para o exterior não é novidade no futebol brasileiro. Na temporada passada, a Paramount + passou os 380 jogos do Brasileirão para os Estados Unidos, com narração em inglês, em acordo de exclusividade fechado até o fim de 2023.
Na ocasião, os detalhes foram divulgados em parceria com a 1190 Sports, que fez uma fusão com a Global Sports Rights Management (GSRM), responsável pela comercialização dos direitos internacionais de transmissão da Série A.
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Especialistas fazem ponderações
Especialista em inovação e novos negócios na indústria do esporte, Bruno Maia ressalta que apesar da transmissão internacional representar um avanço, vai exigir também das partes envolvidas um planejamento em questão de transparência e estabilidade com o decorrer dos anos.
- Não é mera disposição numa grande rede de grande alcance que vai tornar o produto brasileiro interessante. Isso é só o início de um trabalho, leva tempo, depende da estabilidade e clareza da qualidade do produto, e o futebol brasileiro ainda carece muito disso, ainda que seu formato já esteja bem entendido e consagrado - alerta Bruno Maia, especialista em inovação e novos negócios na indústria do esporte, sócio da 14, agência de conteúdo estratégico, e que lançou em 2020 o livro e o curso "Inovação é o Novo Marketing".
Maia vai além e cita o exemplo positivo da NBA como algo que pode servir de referência para o mercado nacional.
- É preciso entender que o campeonato é mais importante que os clubes para valorizar o produto, e com ele sendo bem visto lá fora, se escolhe um time para torcer e aproveitar esse produto. Por exemplo, como o produto NBA é atrativo, eu escolhi o San Antonio Spurs para acompanhar e me sentir mais inserido na emoção de acompanhar o campeonato como torcedor e não meramente como espectador. Essa é a grande dificuldade encontrada pelo futebol Brasileiro. Isso leva tempo, disciplina, percepção, promoção do produto. São alguns dos fatores que bem trabalhados podem gerar o interesse do pessoal lá de fora.
Na opinião de Fábio Wolff, da Wolff Sports, agência de marketing esportivo especializada em captação de patrocínios, a novidade é um bom negócio desde que seja bem trabalhada por quem está transmitindo.
- A transmissão de jogos do Campeonato Brasileiro no exterior pode fazer com que aumente o interesse das marcas estrangeiras, desde que obviamente essa distribuição seja feita de uma forma com que as imagens das partidas cheguem com frequência e bem distribuídas. Esse era um problema que nós tínhamos de o Campeonato Brasileiro ser pouco visto fora do país e desde essa concorrência em que uma empresa estrangeira comprou os direitos, ela vem trabalhando para que os canais de distribuição aumentem. Se aumentar, é muito provável que nós tenhamos uma demanda de empresas estrangeiras interessadas no campeonato.