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Wanderley Nogueira
Segunda-feira, 03 Setembro de 2001, 17h54
terraesportes@terra.com.br

Eu vi


Como sempre faço, vou gravando no meu anotador eletrônico tópicos que não posso nem devo esquecer numa cobertura. E, historicamente, quero deixá-los aqui. Desejo dividi-los com os leitores. Os episódios de São Januário mostraram incompetência e desrespeito. Os dirigentes não sabem e não querem aprender a organizar eventos. Aqui seguem apenas algumas anotações feitas naquela tarde que não sairá da memória com facilidade. 1) Difícil acesso ao estádio de São Januário. Ruas estreitas e dezenas de barracas sobre as calçadas vendendo alimentos e bebidas sem nenhum controle de qualidade e higiene. A torcida caminhava pelas pistas dos automóveis, com o trânsito inteiramente confuso. Conforto zero. 2) Nas portarias, milhares de pessoas entravam com ingressos e sem ingressos. Todo mundo passava pelas entradas. Um descontrole total. Disseram que todos os 35 mil ingressos tinham sido vendidos. Antes mesmo de o jogo começar todos já sabiam que o estádio receberia uma perigosa superlotação. 3) De maneira inédita, a final da Copa João Havelange teria apenas uma torcida no estádio. O Vasco, segundo Eurico Miranda, queria que "o São Caetano se dane...". Nem na varzea existe mais esse tipo de comportamento deselegante. O adversário sem ingresso, sem torcida, quase nem com a presença da sua própria diretoria. No primeiro jogo, o São Caetano reservou 3 mil ingressos aos torcedores do Vasco, mas a recíproca não ocorreu. 4) O portão de acesso ao gramado foi trancado com um cadeado, e o São Caetano não pôde pisar no campo antes do jogo começar. A equipe do São Caetano ficou presa dentro do vestiário. Sem espaço para aquecimento e sem permissão para dar uma olhadinha no campo de jogo. 5) Quase todas as emissoras de rádio que foram transmitir a partida ficaram na lateral do campo, num buraco, com seus equipamentos colocados no chão e sob um calor de 40°C. Os operadores técnicos conseguiram caixotes e pequenas mesas para colocar os materiais, mas Eurico Miranda apareceu e determinou que as bancadas improvisadas fossem retiradas. Tudo ficou jogado no chão. Alguns profissionais foram atendidos no departamento médico, vítimas do forte calor sobre suas cabeças. 6) Ausência da incompetente ABRACE- Associação Brasileira de Cronistas Esportivos e da péssima anfitriã Associação dos Cronistas do Esportivos do Estado do Rio de Janeiro. Nenhum apoio, nenhuma preocupação, nenhuma articulação para facilitar o trabalho de jornalistas, radialistas, fotógrafos e técnicos na final da Copa João Havelange. 7) Coletes vermelhos foram distribuidos aos profissionais da imprensa que chegavam ao gramado pelos funcionários do Vasco e, quando os coletes terminaram, todos os outros puderam entrar. Outro grave descontrole. Ninguém sabia quem era ou não profissional de comunicação. 8) Dezenas de torcedores do Vasco da Gama em torno do campo de jogo. Todos eles integrantes de torcidas uniformizadas e com a bandeira do Vasco nas costas. Nenhuma segurança para o espetáculo. O jogo estava quase começando, e o local estava repleto de torcedores. Pior: o incompetente quarto árbitro conhecia vários deles e foi cumprimentá-los. Não tomou nenhuma providência para retirar os bicões do campo. Uma organização viciada e de péssima categoria. 9) Oscar Roberto de Godói viu claramente que em torno do gramado existiam dezenas de pessoas que não poderiam estar lá e não tomou nenhuma providência para "limpar" o campo. 10) Alguns repórteres de rádios do Rio de Janeiro e tambem de jornais do Rio de Janeiro cantavam com os torcedores uniformizados gritos de guerra. Uma total falta de profissionalismo e isenção. 11) Atrás dos gols e nas laterais, dezenas de seguranças do Vasco da Gama. Nenhuma neutralidade. O árbitro não teve coragem de exigir que no campo só estivessem profissionais da mídia em serviço, gandulas, comissões técnicas e policiais. "Coitado do São Caetano..." diziam alguns. " Aqui o bicho vai pegar...", falavam abertamente os invasores de uma área teoricamente restrita. 12) O jogo começou e, com pouco mais de 20 minutos, Romário sofreu uma contusão e saiu. Segundos depois, a confusão, a queda do alambrado e o elevado número de feridos. 13) A Policia Militar não sabia o que fazer. Corria de um lado para o outro, sem nenhum planejamento para a emergência. Os torcedores feridos estavam jogados sobre o gramado. Alguns bombeiros chegaram e começaram os atendimentos. Vieram mais ambulancias e até helicópteros. Tudo sem nenhuma organização e segurança. Ambulancias quase atropelavam os feridos e helices dos helicopteros raspavam cabeças. 14) Inconseqüentes, o comandante do policiamento e o presidente da Federação do Rio de Janeiro gritavam que o jogo iria prosseguir. Eurico Miranda comandava tudo. Mandava na policia, no oficial que se dizia comandante e na arbitragem submissa. Até a despreparada Defesa Civil da cidade do Rio de Janeiro dizia que tudo estava bem, seguindo o discurso de Eurico Miranda. 15) Godói viu o desespero de centenas de torcedores, gramado invadido, arquibancada derrubada, clima de terror, e não teve coragem de suspender o jogo, temendo Eurico Miranda. O árbitro Oscar Roberto de Godói foi uma enorme decepção. Não teve coragem, não teve iniciativa, não teve sensibilidade. Um cordeiro, naquele momento, a serviço da cartolagem. 16) Entrou no circuito o governador Garotinho. Mandou ordem para que a Defesa Civil interditasse o estádio e informasse ao "comandante" do policiamento que o jogo não deveria prosseguir. O policial informou ao árbitro, e a partida foi suspensa. 17) Cercado por repórteres que queriam saber se a decisão de encerrar era dele, Godói não respondia, caminhando para o seu vestiário. Depois, irritado, tenso, soltou um palavrão, pedindo que o deixassem em paz. Foi o mesmo Godói grosseiro e machão de algum tempo atrás. Mas, estranhamente, no caminho do vestiário, encontrou Eurico Miranda. O dirigente queria saber o que ele iria fazer. Godói disse que o jogo estava suspenso, por ordem do governador. Godói falou manso, baixinho, quase que pedindo desculpas ao poderoso Eurico Miranda. O presidente do Vasco ainda passou um "pito" em Godói: "...olha o que voce está fazendo... está aceitando uma determinação daquele frouxo... é a política metendo o bico no futebol...". Godói foi mesmo uma grande decepção. 18) Desde o início ficou muito claro que não existia nenhuma condição de jogo. Macas atravessando o campo, manchas de sangue no gramado, pessoas chorando e mesmo assim os "responsáveis" pelo jogo queriam a partida de qualquer jeito. 19) Alguns jogadores do Vasco foram para o campo de jogo dar uma tímida e patética "volta olímpica" para confirmar o título que não ganharam. Devem ter ido cumprir ordens de "alguém". Ridículo. Tiveram de driblar alguns feridos, ainda algumas macas e os evidentes sinais de cenas de terror para mostrar a "conquista". Outro grande vexame. 20) Seguramente 36 paises viram "ao vivo" todo aquele espetáculo em São Januário. 21) Um jornalista inglês, residente no Rio de Janeiro, disse que na Europa, sem dúvida, muita gente iria para a cadeia pelos atos de irresponsabilidade cometidos naquela tarde. Ele não disse que não existem problemas por lá. Apenas afirmou, e é verdade, que os culpados seriam punidos. Aqui não.

 

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