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Wanderley Nogueira
Segunda-feira, 03 Setembro de 2001, 17h40
terraesportes@terra.com.br

Missão dolorosa: criticar Guga


Não é uma missão fácil criticar algumas pessoas. Já imaginaram alguém criticar a Madre Tereza de Calcutá ou o Frei Damião? Será atropelado pelo volume da indignação.

Hoje, guardadas as devidas proporções, encontrar equívocos no comportamento de Gustavo Kuerten é caminhar rumo a crucificação. Mas vale correr o risco esperando encontrar pelo caminho alguns corajosos seguidores e atentos observadores.

Guga é um tenista fantástico e ocupa justamente o primeiro lugar mundial. Mas eu não espero só isso de campeão. Ele, na minha opinião, não deve ser somente eficiente na sua atividade. Um campeão diferenciado faz muito mais.

Tá bom. Sei que quando se é muito jovem, tudo é ótimo. Tudo é maravilhoso, qualquer programa é genial. Você certamente lembra das coisas que fazia. Mas um campeão tem alguns compromissos com os seus fãs e nao pode ignorá-los. É o conjunto da obra.

Não basta apenas ser competente na execução do seu trabalho. Campeão tem que agir como ídolo, quando consegue chegar nesse ponto. E é o caso do Guga. Nao engoli, como alguém que comprou uma bandeira para saudá-lo no aeroporto, a decisão do meu ídolo de seguir para o Havaí.

Nada contra o calor, as ondas, o surfe, as mulheres bonitas e a distância do proletariado. Cada um realiza o sonho que puder realizar, mas um campeão/ídolo tem algumas outras missões. Uma delas é não provocar decepções. Faz parte do show.

As ondas do Havaí e tudo que as cercam poderiam esperar mais alguns dias. Ser recebido pelos seus milhões de fãs, horas depois de chegar ao topo do esporte, é uma emoção que Guga não vai poder contar aos seus netos. Por decisão dele.

Nem os milhões de apaixonados torcedores vão poder contar que aplaudiram e prestaram homenagens ao grande vencedor. Ele talvez não sinta falta disso, mas a torcida sente e muito.

Fiquei ainda mais frustrado quando vi que o meu campeão largou as ondas em troca dos abraços dos políticos. Bastou chamá-lo para que ele desse um bico na prancha.

Aparentemente para Guga, há torcedores e torcedores. Mas não é só esse escorregão de Guga que tem me incomodado. Não sigo, como jornalista, os passos do tenista pelo mundo. Mas conheço inúmeros profissionais que por missão fazem isso e diariamente fazem relatórios de queixas.

Contra Guga e seus ``assessores``. Tudo é difícil, tudo é complicado e a relação da assessoria de imprensa com os jornalistas é de terror. Nada é possivel, nada é articulado, nada é acertado. Nem mesmo resposta depois de consultas jornalistas recebem.

Pregam os ``assessores`` de Guga que ele precisa de privacidade. É outro argumento frágil quando o país vê o idolo surfando no Havaí acompanhado pela camera de UMA emissora de televisão. Só uma.

Outra postura incômoda é como um idolo e sua família pedem privacidade e ao mesmo tempo entregam fotos exclusivas para a nada privativa revista Caras.

Guga continua sendo meu ídolo atual no esporte, mas fora da quadra precisa entrar no jogo. Ainda é tempo de perceber que campeão/ídolo tem que ser eficiente fora da partida...

 

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