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Wanderley Nogueira
Segunda-feira, 03 Setembro de 2001, 17h43
terraesportes@terra.com.br

Pena ineficaz


Os responsáveis pelo futebol brasileiro precisam despertar também para o assunto doping. Vamos falar apenas das chamadas "drogas sociais". Cocaína e maconha, infelizmente, têm freqüentado o caminho de muitos atletas. Os especialistas afirmam que as duas não melhoram o rendimento esportivo. Diante dessa informação dos médicos, considero uma enorme bobagem punir os jogadores com suspensão. Não deixar um profissional exercer o seu trabalho é incorreto. É uma "terapia" ineficaz.

Se não influencia o rendimento, nem contra nem a favor, o trabalho não deve ser impedido. O caso do momento envolve Junior Baiano. Ele garante: "alguém deve ter colocado alguma coisa na minha bebida". É uma desculpa possível, mas imensamente improvável. Tecnicamente está provado que o atleta ingeriu a droga. Na urina não foi encontrado álcool.

A grande punição é a divulgação do assunto. Essa pena para o atleta profissional é pesadíssima. Entrevistas, fotografias e comentários machucam duramente.Então, parte da "pena" já foi cumprida. Para concluir a punição, o acusado deveria fazer trabalhos comunitários ligados ao esporte.

Conversar com os garotos das escolinhas do clube, explicar a bobagem que fez, o arrependimento, dizer que não recomenda ambientes perigosos e que droga não casa com esporte. Além disso, o "condenado" deveria participar de reuniões com pessoas que tentam escapar do vicio e até mesmo conhecer a caótica situação daqueles que foram inteiramente dominados pelas chamadas "drogas sociais".

No mundo todo, a tendência é encontrar penas alternativas e eficientes. Nada de colocar na cadeia ladrões de bicicletas, nada de trancafiar dependentes que não são marginais. E, no esporte, nada de impedir de trabalhar alguém que comprovadamente não utiliza a droga para melhorar o seu rendimento físico. Considero um absurdo afastar do futebol por um período o zagueiro Junior Baiano.

A luta contra as drogas daria um bom passo se a "pena" ao jogador determinasse por algumas semanas sua presença em clínicas de recuperação, levando o seu drama. Explicando que, além de combater as drogas - participou até de campanhas do governo -, seu "escorregão" afetou profundamente sua carreira profissional.

Truncar por algumas semanas o trabalho de Júnior Baiano é imposição de uma lei ultrapassada e inócua.

 

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