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Wanderley Nogueira
Segunda-feira, 03 Setembro de 2001, 17h43
terraesportes@terra.com.br

As muletas


Wanderley Luxemburgo tem sido a grande atração do Corinthians nos últimos jogos. Ele e suas muletas. Quando o ônibus da delegação se aproxima, os repórteres fotográficos, os cinegrafistas, os repórteres de rádio e jornal se preparam para registrar o desembarque do treinador. Os jogadores quase nem são notados.

Terno, gravata, seguranças do clube e o seu , particular, o grandalhão Chicão. Lá vem Luxemburgo. Muletas prateadas, gesso no tornozelo de uma perna e curativo no joelho da outra. Suado, pelo esforço de apoiar-se nas muletas. Os seguranças ficam ao lado, esperando serem chamados para auxiliá-lo ou mesmo impedir que ele leve um tombo. Afinal, os fios dos microfones toda hora enrroscam nas muletas.

É quase um ritual. Só falta uma música característica para grandes momentos. Na estréia, contra o Fluminense, "ninguém" sabia se o treinador ficaria na tribuna ou no banco de reservas. Os seguranças prepararam uma cadeira para ficar ao lado do banco e um automóvel para levá-lo à tribuna.

Esperavam apenas a decisão do "chefe". Luxemburgo decidiu ir para o campo . O time entrou e ninguém ligou. O foco estava voltado para a entrada de Luxemburgo, amparado pelas muletas.

Espertamente, ele decidiu ir para o banco de reservas. O Pacaembu era só corintiano e a chance dele ser hostilizado era quase nenhuma. Foi o que aconteceu. O time reagiu e jogou melhor. Além disso, Marcelinho o premiou com uma expulsão logo no inicio do jogo.

Depois do jogo, Luxemburgo disse que "talvez, contra o Palmeiras ficarei na tribuna...é muito longe até o banco. É complicado...". Mas no domingo lá estava Luxemburgo, com as muletas indo para o banco. A decisão surgiu depois que ele soube que o número de corintianos era muito maior e alguém o lembrou que o "público fica muito distante do banco" e seria muito difícil sofrer qualquer tipo de constrangimento acentuado.

O time venceu e outra vez o treinador foi aplaudido e ouviu com orgulho;" Uh Luxemburgo...Uh Luxemburgo...Uh Luxemburgo...".

Tudo isso faz parte dos planos de Luxemburgo para minimizar a confusão criada na vida dele nos últimos tempos. Quer ouvir que "só ele mesmo é capaz de dar jeito num time de futebol...", ter a convicção que a torcida do Corinthians o tem como ídolo, em seguida pagar as dívidas que tem com a Receita e contar com a ineficiência das investigações que tentam provar sério envolvimento com a transferência de jogadores.

Já fala que não deixou de sonhar com a seleção e que retornou ao trabalho usando muletas, em nome do amor. Essa é a tática.

 

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