Wanderley Luxemburgo tem sido a grande atração do Corinthians nos últimos
jogos. Ele e suas muletas. Quando o ônibus da delegação se aproxima, os
repórteres fotográficos, os cinegrafistas, os repórteres de rádio e jornal
se preparam para registrar o desembarque do treinador. Os jogadores quase
nem são notados.
Terno, gravata, seguranças do clube e o seu , particular,
o grandalhão Chicão. Lá vem Luxemburgo. Muletas prateadas, gesso no
tornozelo de uma perna e curativo no joelho da outra. Suado, pelo esforço
de apoiar-se nas muletas. Os seguranças ficam ao lado, esperando serem
chamados para auxiliá-lo ou mesmo impedir que ele leve um tombo.
Afinal, os fios dos microfones toda hora enrroscam nas muletas.
É quase um ritual. Só falta uma música característica para grandes
momentos. Na estréia, contra o Fluminense, "ninguém" sabia se o treinador
ficaria na tribuna ou no banco de reservas. Os seguranças prepararam uma
cadeira para ficar ao lado do banco e um automóvel para levá-lo à tribuna.
Esperavam apenas a decisão do "chefe". Luxemburgo decidiu ir para o campo .
O time entrou e ninguém ligou. O foco estava voltado para a entrada de
Luxemburgo, amparado pelas muletas.
Espertamente, ele decidiu ir para o banco de reservas. O Pacaembu era só
corintiano e a chance dele ser hostilizado era quase nenhuma. Foi o que
aconteceu. O time reagiu e jogou melhor. Além disso, Marcelinho o premiou
com uma expulsão logo no inicio do jogo.
Depois do jogo, Luxemburgo disse que "talvez, contra o Palmeiras ficarei na
tribuna...é muito longe até o banco. É complicado...". Mas no domingo lá
estava Luxemburgo, com as muletas indo para o banco. A decisão surgiu
depois que ele soube que o número de corintianos era muito maior e alguém
o lembrou que o "público fica muito distante do banco" e seria muito
difícil sofrer qualquer tipo de constrangimento acentuado.
O time venceu e
outra vez o treinador foi aplaudido e ouviu com orgulho;" Uh
Luxemburgo...Uh Luxemburgo...Uh Luxemburgo...".
Tudo isso faz parte dos planos de Luxemburgo para minimizar a confusão
criada na vida dele nos últimos tempos. Quer ouvir que "só ele mesmo é
capaz de dar jeito num time de futebol...", ter a convicção que a torcida
do Corinthians o tem como ídolo, em seguida pagar as dívidas que tem com a
Receita e contar com a ineficiência das investigações que tentam provar
sério envolvimento com a transferência de jogadores.
Já fala que não deixou
de sonhar com a seleção e que retornou ao trabalho usando muletas, em nome
do amor. Essa é a tática.