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Wanderley Nogueira
Segunda-feira, 03 Setembro de 2001, 17h47
terraesportes@terra.com.br

O exemplo


Num canto do estádio do Morumbi, em São Paulo, um dirigente do São Caetano dizia que "tem sido muito difícil convencer o César que é preciso atender aos convites que recebe da imprensa... ele atende alguns, mas foge da maioria. Sempre que pode, diz que tem compromissos, inventa viagens ou desliga o telefone...".

O melhor lateral-esquerdo do futebol brasileiro tem verdadeiro pavor de perguntas sobre o seu passado. Como é do conhecimento do público, quando jovem, César foi acusado de roubo e ficou preso por quase dois anos. Ele e outros garotos teriam roubado uma pequena importância da bilheteria do C.A. Juventus. Como sabem os leitores, historicamente, o Juventus nunca teve grandes arrecadações...

Ele deixava a cadeia e treinava no São Caetano. Não podia ser escalado pois no final da tarde voltava à prisão. Cumprida a pena, liberado, começou efetivamente a sua vida profissional. Ele fica pálido quando sente que o jornalista vai perguntar sobre o assunto. Morre de vergonha. Acha que a sua reputação será arrebentada.

Talvez, para alguns falsos moralistas isso ocorra. É possível que para defensores dos " intocáveis valores morais" César seja um homem marcado. Mas, como repórter eu também perguntaria sobre o assunto. Essa é a história que deve ser contada. Um jovem que errou, pagou sua pena e saiu recuperado, algo raríssimo diante do nosso falido sistema penitenciário.

Grande César. Um exemplo, um titular absoluto na vida. Deu a volta por cima, com classe, com dignidade, com talento, com esforço.

Acho que o César deveria ter orgulho de contar a virada da sua vida. Só consegue isso quem é forte, quem tem personalidade e segurança. Reputação? Para parecer alguma coisa , é preciso ser alguma coisa. E César é muita coisa . Merece respeito e admiração. César vai descobrir que reputação é o que os homens pensam de nós; caráter, o que Deus sabe de nós, diz o pensador.

César precisa acabar com o medo de tocar no assunto. Ele é um vencedor. Aproveitou a oportunidade que surgiu à sua frente e recuperou-se integralmente. Não teve o Estado velando por ele. Ele sonhou e construiu.

Ultrapassou os desafios da vida . Considero César um sujeito ereto e destemido. Tem postura para pregar a importância da luta para dar uma retumbante mudança de vida e um esplendido triunfo final. Hoje, César não deve ter nenhum motivo para envergonhar-se do passado.

 

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