Se eu estivesse na situação de Michael Jordan, dirigindo um time de
jogadores medíocres, também pensaria da mesma maneira: "Sozinho, faço muito
mais do que esses incompetentes". Talvez isso tenha motivado o rei a bater
uma bolinha em quadras de Chicago, nos últimos dias, o que levantou as
especulações sobre um novo possível retorno.
Contra sua vontade, pesa a consciência. Jordan se retirou no auge,
talvez como nenhum outro mortal possa fazer. Saiu da NBA como campeão, com o
arremesso vencedor que entrou para a história. Uma saída célebre, para ser
lembrada por séculos. Agora, ele pode jogar tudo isso pela janela. Basta voltar, e fracassar.
Eis o dilema de MJ: seguir o coração ou a paixão? Ofertas não faltam.
Qual o time que não gostaria de contar com Jordan? Ele tem as portas abertas, não apenas nas equipes, mas também na cúpula da NBA. Desde a segunda aposentadoria do astro, o público fugiu das quadras, os ginásios
estão a cada jogo mais vazios, o espetáculo está perdendo a graça.
A NBA não vai morrer, mas sem Jordan ficou menos atraente. É por isso
que qualquer sinal que indique para o retorno de Michael desperta o
interesse dos fãs. É como se houvesse uma corrente, uma força de pensamentos
positivos, para ajudá-lo a tomar a decisão. Pelos torcedores, não haveria
dúvida: Jordan, seu lugar é na quadra!
E o que diriam os críticos? Estariam sedentos para desfilar seu
veneno, dizer que está acabado, que deveria ficar em casa ou jogando golfe.
As comparações seriam inevitáveis: estatísticas das várias fases de sua
carreira seriam colocadas para mostrar que ele já não é o mesmo. Ou alguém
acredita que, se voltar, Jordan será tão bom quanto foi?
O rei está com 38 anos, teve uma lesão grave no dedo ao cortar um
charuto, o que reduziu sua habilidade. Dizem que ele já não pode mais
segurar a bola com apenas uma mão, que era uma de suas jogadas mágicas para
iludir o marcador. Dois anos depois de se retirar, o arremesso também não
deve ser tão preciso. Sem falar na impulsão, que consagrou suas enterradas
voadoras, que lhe valeram o apelido de Air Jordan.
Quanto ao dinheiro, Jordan está literalmente montado na grana. Ainda
consegue faturar dezenas de milhões de dólares em publicidade. Portanto,
essa não é a questão. A geração de seus filhos, netos e bisnetos está mais
do que garantida.
Deve-se considerar também seu enorme ego. Jordan sempre foi um
vencedor, e sempre jogou para vencer. Não admitia a derrota, lutou a vida
toda para se colocar na posição para triunfar. Nem que para isso tivesse de
mover montanhas, levando junto seus companheiros, técnicos e dirigentes. Por
isso, a indicação de que, se realmente estiver disposto a voltar, Jordan
poderia atuar no Lakers, ao lado de seu guru Phil Jackson e de jogadores
(Shaquille O'Neal e Kobe Bryant) capazes de ajudá-lo a mais uma conquista.
Mas tudo isso pode ser desconsiderado neste momento. Se Jordan está
mesmo disposto a voltar, ele deve pensar apenas nele. Ninguém fez mais pelo
basquete do que ele. Sua carreira será sempre lembrada como a do maior
jogador de todos os tempos. O que ele pode fazer agora é se divertir. Isso
mesmo: jogar por pura diversão. E nós, pobres mortais, iremos adorar! Como
sempre.