Nos últimos tempos você, certamente, tem ouvido falar muito sobre "futebol sério". CPIs, denúncias, propostas anunciadas de reformulação, tudo em favor da "seriedade do futebol brasileiro". Nos últimos anos, sempre que a Seleção Brasileira joga em vários estados brasileiros, os dirigentes fazem uma verdadeira orgia com ingressos. Uma boa cota é distribuída politicamente e a outra parte é vendida aos torcedores. Mas a venda nunca é clara e séria. Aumentam os preços, fazem acordos com cambistas e exploram o máximo possível os torcedores. Ágio puro. Anunciam um valor arrecadado oficialmente e na realidade o valor é muito superior.
Nas partidas importantes realizadas no Campeonato Paulista - na capital e no interior - a irregularidade também tem ocorrido. Quando o estádio está lotado o número de torcedores anunciado, flagrantemente, é inferior ao público presente. Há derrame de ingressos sendo vendidos duas ou três vezes. Recentemente isso foi registrado em Ribeirão Preto, durante o jogo Botafogo e Corinthians. Uma frase ouvida num dos corredores do estádio, precisa ser levada ao leitor: “Esses jogos no interior servem para isso mesmo...ajudam os cofres dos clubes....". Ninguém se importa com o conforto dos torcedores, com os impostos que precisam ser recolhidos e a credibilidade que a organização do futebol tem a obrigação de gerar.
Vale mostrar aqui um exemplo que - outra vez - vem da Europa. O comitê disciplinar da Uefa confirmou a punição aplicada ao Galatasaray por causa de irregularidade nas vendas dos ingressos na final da Copa Uefa de 2000, realizada na Dinamarca, contra o Arsenal, da Inglaterra.
O comitê havia decidido multar a equipe turca, que vendeu mais caro os 12.149 ingressos para a partida contra o Arsenal, em US$120 mil, além de confiscar aproximadamente US$ 2 milhões arrecadados pelo clube com a cobrança do ágio. O Galatasaray recorreu a esta punição, e a Uefa também, pedindo aumento de multa para US$ 300 mil. As investigações do Comitê Disciplinar confirmaram a irregularidade. Com isso, a multa foi aumentada para US$ 200 mil e foram confiscados os mesmos US$ 2 milhões.
Essa medida vai acabar com a ganância e desonestidade dos clubes europeus? Claro que não. Mas a Uefa mostrou que quando a entidade conseguir detectar a malandragem, punirá.
No Brasil, os clubes recebem uma espécie de "sinal verdade" da CBF e das federações para que consigam o máximo possível com os ingressos que serão colocados à venda. Fazem até concorrência com os cambistas. Sinceramente, caro leitor, passa pela sua cabeça que um clube no Brasil será punido pela prática de ágio e de outras picaretagens?