"E agora José?", pergunta o mestre Carlos Drummond de Andrade, na exuberância
de seus versos, na mensagem mágica de sua poesia, na clarividência sublime,
ainda que em uma só linha. Sempre gostei de poesia. Para mim, o "batatinha
quando nasce" contém em sua forma singela a mesma mensagem dos versos
antológicos de Carlos Drummond de Andrade.
Como leitor de poesia, tenho o direito a essa heresia. Foi assim ao reler o "José", fiquei imaginando se
seria permitido a esse humilde jornalista esportivo substituir por Leão
(nome do técnico da Seleção), ao invés de "José" na obra do poeta mineiro.
Assim, num exercício simples de leitura, poderíamos traçar um hipotético
paralelo do personagem da poesia com a atual situação do técnico da Seleção
Brasileira. Dessa forma, num determinado momento, encontraríamos a seguinte
situação:
"E agora, Leão? Está sem carinho, está sem discurso, já não pode
beber, fumar já não pode. A noite esfriou, o riso não veio e não veio a
utopia, e o jogo acabou, e tudo fugiu, e tudo mofou, e não veio a vitória, e
agora Leão?"
São coisas e atos vulgares da vida retratando o homem (técnico
comum) sofrendo a confusão do tempo. E o técnico fica vazio sem nada que lhe
sirva. E o técnico se desilude, pois o mais acessível deixa de vir, como
também não vem aquilo que pensa para ser feliz. Emerson Leão, é provável,
deve gostar de poesia. Gosta de falar difícil, empolado, suas palavras
precisam ser traduzidas. Que bom seria se o técnico da Seleção soubesse que
o futebol é por si só uma poesia. Por isso deve ser simples, sua prática e
seus versos devem estar ao alcance de todos.
Drummond não foi só o maior
poeta, seria também o maior dos comentaristas esportivos. Se fosse vivo, o
mestre deveria apreciar o comentário de Ricardo Teixeira a respeito do
empate contra o Peru: "uma porcaria!"