Parece que é uma tarde de outono como outra qualquer.
Engano. De início, acho que as tardes de outono não são
iguais nunca, jamais. Há sempre uma diferença na folha
que cai, no vento que sopra. Sem querer, me lembro do
filósofo que escreveu: "Não nos banhamos, nunca, duas
vezes nas mesmas águas dos rios". Assim, tudo passa,
tudo se esvai, nos escapa pelos vãos dos dedos. Um sonho
termina em pesadelo como um chute de Ricardinho no
último minuto.
Devaneios à parte, esta tarde de sábado
não pode ser igual às outras por uma razão muito
simples, como um gesto, um olhar, um aperto de mão, o
beijo que não foi dado. É tudo tão fugaz. O retorno à
realidade nos mostra que domingo joga o Corinthians. Joga
não, decide um título. Seria tão banal, pois o alvinegro é o time que mais ganhou títulos no Campeonato
Paulista. É o primeiro, o único.
Assim, a tarde de
domingo será diferente. Ribeirão Preto começará a
decidir, a escrever uma data que será histórica. Um time
simples (é tão difícil ser simples!), campestre,
sertanejo, que abre alas em meio aos canaviais para
encontrar o campo de futebol para treinar. O Botafogo é
hoje, como tantos, um quadro de futebol de jovens.
Cheios de esperanças, até inocentes, que acreditam no
poder das orações para ganhar um campeonato. Quem sabe?
A fé remove montanhas. Quem dirá driblar uma defesa?
Depois do jogo uma voz haverá de relembrar: "A tua fé te
salvou". Do outro lado o Corinthians, esse eterno
fenômeno. Como tremenda força popular, não se consegue
explicar. No seu comando, um treinador ungido por uma
força desconhecida que através do trabalho consegue
embaralhar o raciocínio mais lógico. Ora, a lógica.
Então, no dia 20 de maio de 2001, teremos um jogo de
futebol como tantos outros. Seria tudo muito simples, se
fosse só isso. Mas esse dia será diferente. Não fosse
por outra razão, porque joga o Corinthians, essa força
estranha.