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Juarez Soares
Segunda-feira, 28 Maio de 2001, 20h05
terraesportes@terra.com.br

Fábula da redenção


Essa é uma história que aconteceu no Reino do Faz de Conta. Esse reino era vasto, populoso, sua gente gostava de festa, de dança, de música, de jogos. Mas a grande maioria dos súditos era pobre, vivia com dificuldade, nos mais longínquos rincões do imenso território. Sua população era dividida entre pobres, plebeus, ricos e nobres. Foi assim que no distante condado de Tingá, nasceu um dia, um predestinado plebeu. Sua família vivia com dificuldades, como todos seus vizinhos. Mas o jovem tinha qualidades, assim que seu pai esperançoso, modificou-lhe a idade para que ele pudesse trabalhar mais cedo, desde logo ganhar a vida, amenizando o sofrimento. E assim foi feito.

De batalha em batalha, de vitória em vitória, o jovem se destacou e se aproximou da casta nobre do Reino. Nos jogos da nobreza era quase sempre vencedor. Sua fama cresceu. E os menestréis das feiras, os jograis, os cantadores entoavam loas ao jovem mancebo. Até que um dia... Bem, até que um dia apareceu uma jovem no caminho do ditoso cavalheiro. Ninguém sabia de onde tinha surgido a donzela, a bem da verdade, nem era mais donzela. Não era feia nem bonita a jovem da nossa história. Mas briguenta e revoltada, atacou nosso herói de todas as formas. E foram tão violentos os golpes que o mancebo sucumbiu. Os menestréis, os cantadores, os jograis, que tanto elogiavam o guerreiro, fizeram de sua vida um inferno.

Houve até um jogral, calejado por presenciar tantas histórias, que não aceitou tantas acusações sem provas. Foi criticado até por antigos menestréis. E a jovem plebéia, quase virou princesa. O cavalheiro, expulso do convívio dos nobres, foi julgado na capital do Reino, por senhores, letrados, impolutos, encastelados num palácio, onde moravam a corrupção e os corruptos. Aniquilado, o jovem passou a viver à margem da sociedade do Reino. Até que um dia um poderoso senhor feudal, vendo seu condado perdido em meio a tantas derrotas, lembrou-se do mancebo execrado por todos.

Convidou-o a trabalhar no seu palácio, prometeu-lhe um futuro melhor, a reabilitação. Assim foi feito. E o céu de novo voltou a brilhar. De novo as vitórias, os tempos de glória. Nas feiras livres, de novo os menestréis de todo tipo, magros, altos, gordos, calvos, jovem e velhos, teciam loas, cantavam, os jograis faziam versos de louvor ao vencedor. Abriram de novo as portas de seus salões que o recebiam com reverência, faziam-lhe perguntas, queriam sua opinião, enalteciam suas qualidades. Nem se lembravam mais dos tempos passados.

Até a jovem donzela, que não era donzela desapareceu. Ninguém mais a convidava para festas e bailes, ninguém mais queria saber sua opinião. Dizem até que na festa de comemoração do último título conquistado, alguns nobres tentaram insinuar que os jograis, menestréis, cantadores das feiras livres mudavam muito facilmente de opinião. Afagavam e faziam reverência com a mesma facilidade com que apedrejavam. Eram fúteis, volúveis, inconseqüentes. O jovem mancebo, que já não era tão jovem, pediu para encerrarem o assunto: "A vida é assim mesmo", afirmou conformado.

Dizem que a partir de agora, ele não será mais o jovem plebeu de Tingá, mas será ungido o Duque de Luxemburgo. Ah! Em tempo. Ainda falta um julgamento que será feito pelos nobres que moram no palácio da corrupção. Mas essa é uma outra história que fica para uma outra vez!

 

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