Aqui do outro lado do mundo chegam as notícias da
Seleção Brasileira. Na falta de coisa melhor, faço uso
da imaginação. Imagino campos perfeitos de treinamento,
hotéis panorâmicos onde se hospedam os jogadores do
Brasil. Procuro ver, por exemplo, o técnico Emerson Leão
no saguão do hotel. Imaginando um trono, ele senta num
sofá modesto e confortável. Olha em torno, observa, faz
juízo de valor sobre pessoas e objetos. Olha em frente.
Pendurado na parede, um quadro, uma pintura, uma obra de
arte. O treinador sobe mais um degrau do seu imaginário
pedestal.
Não por acaso, ao seu lado está um jornalista.
Leão inicia, então, uma análise profissional, ou melhor,
quase profissional sobre a obra de arte. Repare, diz o
Marchand, brasileiro, caboclo, rude, mas entusiasmado:
"O quadro deixa transparecer um defeito. A parte de cima
foi pintada antes. A linha horizontal prova isso. A
parte de baixo foi pintada depois. Um azul mais forte
ficaria melhor." Surpreso, o jornalista descobre que o
treinador da Seleção gosta de arte, dos pintores do
Recife. Quadros mais puros, inteligíveis, racionais,
nada pornográfico.
Por certo, ele não compraria os
quadros da fase inicial do goiano Cyron Franco, onde
sempre aparecia um toque fálico. A outra visão que
descubro é Emerson Leão preocupado no jogo contra o
Canadá. Pouca gente no estádio, o Brasil joga mal, não
vai além do empate. Contra o Canadá, veja você meu
amigo! O time sai de campo vaiado, uma pena... A moldura
do quadro que se apresenta é desbotada. A linha
horizontal entre uma visão e outra é muito clara, divide
situações que se chocam. A linha entre a ilusão da
vitória e o sofrimento do empate é tênue, frágil, fugaz.
O técnico tem razão num detalhe: um pouco de azul mais
forte talvez seja melhor. Por que? Para alimentar nossos
sonhos.