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Wanderley Nogueira
Terça-feira, 05 Junho de 2001, 18h50
terraesportes@terra.com.br

Guerrilha


A Confederação Sul-Americana de Futebol anunciou oficialmente que a Copa América será mesmo na Colômbia. O país corria sério risco de perder o evento diante dos graves problemas que enfrenta há muito tempo.A violência impera nos quatro cantos da Colômbia. Os números são assustadores e apontam entre outros dados macabros, mais de 26 mil homicídios. Neste instante, existem 4 mil seqüestrados em todo o território colombiano.

Há uma verdadeira batalha entre guerrilheiros - todos vinculados aos grupos de narcotraficantes- e facções paramilitares. Direita x esquerda . Todos os últimos governos da Colômbia mostraram-se incapazes e impotentes. O atual, liderado por Andrés Pastrana, tenta vender uma imagem doce ao exterior, mas os fatos do cotidiano desmentem as autoridades. Bombas, tiros e até camponeses decapitados deixam trêmulos os colombianos.

Mas os prefeitos e o presidente da Colombia juraram aos dirigentes das Confederações de futebol do continente que "a segurança será plena e irrestrita". E eles acreditaram! Ora, se essa garantia pudesse mesmo ser oferecida, os colombianos não estariam vivendo num verdadeiro estado de terror. O presidente da República diz que seu governo já tomou todas as medidas para assegurar a segurança das pessoas envolvidas na competição.

Delegações, torcedores e jornalistas estarão seguros na Colômbia, segundo Pastrana. Os jogadores não acreditam nisso. Os torcedores nem irão e os jornalistas escalados já começaram a aumentar o valor do seguro de vida.

A Colômbia é um país lindo e com pessoas simpáticas e inteligentes. Há alguns dias, o jornal El Tiempo, o de maior prestígio no país, apresentou um editorial com o título "No a la Copa América". De forma racional, o texto diz que é um absurdo o governo dizer que garante a segurança dos estrangeiros. E os colombianos, pergunta o jornal. A decisão do governo em bancar de todas as maneiras a Copa América beira a irresponsabilidade.

Os dirigentes dos paises envolvidos não tiveram a coragem de dizer o que falam pelos corredores. Nenhum deles arriscou sugerir uma mudança de sede diante das autoridades colombianos. Claro, poucos entre eles viajarão para a Colômbia. O governo Pastrana não pensou na Colômbia ao insistir em realizar a competição. Pensou apenas na imagem, naquilo que os outros diriam diante de uma desistência ou substituição. Boa parte da opinião pública colombiana entende que se o governo pensasse mesmo no melhor para o país deixaria para receber a Copa América numa outra oportunidade. Agora, porém, só resta acreditar no pacto entre guerrilheiros e paramilitares...

 

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