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Wanderley Nogueira
Terça-feira, 04 Setembro de 2001, 15h40
terraesportes@terra.com.br

Contra Felipão


Sinto honestidade e competência no trabalho de Luiz Felipe Scolari e seu grupo. São pessoas simples, distantes de qualquer sintoma de arrogância. Os jogadores que estão na Copa América estão envolvidos pelo realismo que é necessário atualmente no futebol brasileiro. Sabem dos seus limites, reconhecem que não é o instante de vôos mais altos. É como se estivéssemos começando do zero. Acho mesmo que as coisas vão melhorar cada vez mais dentro do campo. Felipão e seu grupo de trabalho merecem a confiança do torcedor.

Infelizmente, não posso dizer o mesmo das outras áreas da Seleção Brasileira. A assessoria de imprensa da CBF, por exemplo, é amadora, ociosa, incompetente e pouco confiável. Atua apenas para complicar o trabalho dos jornalistas que acompanham a Seleção. Impede entrevistas, quebra acordos, privilegia alguns, cria regras especiais para outros. Dá informações exclusivas aos aliados do comando da CBF. Até, em alguns momentos, facilita contatos com a Seleção. Desde que o entrevistador esteja no rol dos subservientes. Em inúmeros momentos exerce a função de censora e é comum ameaçar com "vou vetar a entrevista....". A falta de respeito é integral.

Felizmente, a grande maioria dos jornalistas não se curvou diante dos assessores de imprensa da Seleção. Jornalistas que pelo celular tem contato direto com a diretoria da CBF são os preferidos. Diria até que, de certa forma, também integram a assessoria da entidade. Infiltrados, são os olhos e ouvidos da presidência da CBF. É complicado receber qualquer informação, por mais simples que seja. Até os deslocamentos da Seleção não são informados com facilidade e os jornalistas só descobrem o ridículo "furo" por captarem algo estranho no ar. Até mesmo a rápida escapada da Seleção ao shopping de Cali foi informada somente para alguns. Cobrir a Seleção é sentir permanentemente o temor de tomar bolas nas costas...A assessoria de imprensa da CBF trabalha para poucos "amigos da imprensa".

Os atuais assessores complicaram a vida de Wanderley Luxemburgo, de Emerson Leão e agora estão tornando desconfortável a vida de Luiz Felipe Scolari. Os responsáveis pela comunicação da CBF não se preocupam com equipamento de som nas entrevistas , não sabem selecionar quem está ao vivo ou não, desconhecem critérios óbvios de uma cobertura jornalística, ignoram o que é agendar e programar entrevistas . A assessoria de imprensa da CBF tem todas as características de uma empresa de segurança privada.

A Ambev e a Nike devem estar arrepiadas diante do amadorismo existente na relação Seleção/imprensa. Os patrocinadores gastam milhões de dólares e capitalizam quase nada no dia a dia. Ou será que pactuam com a guerra criada pela assessoria de imprensa da CBF com os jornalistas que acompanham os passos da Seleção? Não creio. Aparentemente, porém, a imensa desorganização não exclui nem quem paga a conta. Os representantes dos patrocinadores ficam claramente constrangidos com a falta de diálogo e organização entre jornalistas e assessoria de imprensa da CBF. Quando um diretor de uma emissora de televisão tentou explicar que a entrevista previamente acertada deveria ocorrer no horário estabelecido por motivos técnicos (falta de luz, transmissão por satélite) ouviu com ironia a seguinte frase: "isso é problema seu....". A insensibilidade e irresponsabilidade não têm limites. Certamente, os patrocinadores da Seleção já descobriram que na área de comunicação essa não é a Seleção Brasileira. A Ambev e a Nike estão patrocinando Samoa...

É extremamente importante que as associações regionais de imprensa esportiva se posicionem a respeito da verdadeira barreira imposta pelos "jornalistas" contratados pela CBF.

É fundamental que a Associação Brasileira de Cronistas Esportivos desperte para a situação. O assunto deve ser avaliado pelas entidades nacionais de jornalistas profissionais. São dezenas de jornalistas e suas empresas, prejudicados diariamente. A coleta de informações está sendo obstruída. Será ordem de Ricardo Teixeira?

 

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