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Marcos Caetano
Segunda-feira, 03 Setembro de 2001, 17h34
terraesportes@terra.com.br

Mano a mano


Buenos Aires, 25 de junho de 1978. Exatamente às cinco horas daquela fria tarde portenha, o amargo e brilhante Jorge Luis Borges iniciava sua palestra frente a umas cinco almas no auditório da Universidade de Buenos Aires. Uma platéia tão reduzida para ouvir a “charla” do mais consagrado escritor argentino de todos os tempos poderia parecer estranho. Poderia, se deixássemos de considerar que naquele exato instante, a três quarteirões dali, a Seleção Argentina adentrava a cancha para conquistar a primeira Copa do Mundo de sua história.

Dizem que Borges marcou a palestra para o absurdo horário como protesto contra a ditadura militar, que certamente se aproveitaria – como se aproveitou – da vitória da seleção celeste e branca para prolongar seu regime de trevas. Sem dúvida, esse foi um dos motivos. Mas depois de ter vivido na Argentina por alguns anos, posso afirmar com conhecimento de causa que ele faria a palestra naquele dia e hora fosse qual fosse o regime político vigente. Borges simplesmente detestava futebol. E eis aqui o meu ponto: houve uma época em que nossos vizinhos eram os amargos, os tristes, os góticos. Hoje a situação se inverteu. Basta analisar como jogam as seleções dos dois países para tiramos conclusões sobre quem tem o futebol alegre e sambista e quem parece representar a sofrida escola tangueira.

Mas continuemos falando de argentinos, já que nossos rivais de toda a vida serão também os próximos adversários do Brasil nas eliminatórias. Certa feita, em terras platenses, a eterna discussão sobre o chamado futebol-arte e o futebol-de-resultados teve um de seus mais eletrizantes rounds. De um lado, representando o futebol aberto, bonito e às vezes flertando com a irresponsabilidade, César Luis Menotti, “el Flaco”. Do outro, o inventor da tática do “achique” – que no castelhano boleiro significa encurtar espaços – o pragmático Carlos Bilardo, “el Narigón”.

Como ambos os treinadores chegaram ao ápice de suas carreiras com a conquista de uma Copa do Mundo, a controvérsia ganhou – bem ao gosto portenho – contornos dramáticos e passionais. Os defensores de Menotti afirmavam que, sem Maradona, de nada teriam servido as táticas cautelosas do Narigudo em 86. Já os bilardistas lembravam que, graças às táticas ofensivas do Magro, a trave do Monumental acabou convertida em Sítio Histórico Nacional – após aparar caprichosamente o chute de Resenbrink, aos 44 do segundo tempo da final de 78, que desempataria o jogo e fatalmente entregaria o título para a Holanda.

Como sempre ocorre em situações semelhantes, a verdade nunca é exclusividade de um dos lados. Porque se o time de 78 era uma tese e o de 86 sua correspondente antítese, não é necessário ser um estudioso da dialética para concluir que a seleção atual é a síntese das duas escolas. E é isso que a torna tão perigosa, efetiva e candidatíssima ao título de 2002.

Não há mistérios sobre a Seleção Argentina. O time-base é manjado. No gol, seu único ponto fraco: o irregular Burgos. O time joga com três zagueiros, sempre com um na sobra: Sensini, Samuel e Ayala. Zenetti e Sorín são laterais habilidosos, que atacam e defendem com igual desenvoltura. Os volantes são excepcionais. Simeone é duríssimo na marcação, mas passa a bola com qualidade. Já Verón é hoje o mais completo jogador do mundo. O número um, fazendo a ponte entre defesa e ataque, é Ortega – e às vezes Aimar – ainda que em minha opinião o habilidoso Riquelme jogue mais que ambos. No ataque, Crespo e Batistuta dispensam comentários.

É possível que o Brasil arme um time desses? Sinceramente, acho que sim. Vamos imaginar juntos, amigo leitor, uma Seleção Brasileira ideal. Que tal esta? Marcos, Juan, Antônio Carlos e Mauro Silva; Cafu, Vampeta, Juninho Pernambucano, Juninho Paulista e Roberto Carlos; Rivaldo e Djalminha. Se o amigo não aprova Cafu, que jogue Beletti. Na zaga, podem entrar Lúcio, Roque Júnior, Marinho ou até Mauro Galvão. No ataque, com Romário e Ronaldinho em forma, a vaga é deles. Não importa. Com qualquer dessas escalações teremos um melhor goleiro, uma dupla mais ofensiva de alas e um ataque mais experiente e habilidoso. Na defesa, graças à entressafra, não conseguiremos mesmo batê-los.

Deixei para o final o que considero o ponto chave para ganharmos a Copa: os volantes. Eduardo Costa e Tinga são aplicados e contam com a confiança de Felipão. Mas a dupla sulista jamais conseguirá superar os argentinos. Por duas razões: em primeiro lugar porque nossos rivais têm, entre todas as seleções do mundo, a melhor marcação de saída de bola. Além disso, trocam passes com habilidade e precisão muito acima da capacidade dos favoritos do nosso treinador. Assim, se não quisermos assistir os argentinos roubando todas as bolas dos pés limitados dos titulares do último jogo, temos que substituí-los por Vampeta e Juninho Pernambucano – que marcam duro, mas sabem distribuir o jogo.

Se recuperarmos a audácia e a qualidade que sempre caracterizaram o futebol brasileiro, teremos uma chance de calar as alegres cuícas que parecem ter se incorporado à música dos gramados argentinos – e afastar de uma vez por todas a sinfonia de mil tristíssimos bandoneões, que insiste em servir de trilha sonora para as atuações da nossa Seleção.

 

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