Foi um almoço gostoso, descontraído, agradável, com ex-jogadores, ex-craques, de responsabilidade. Gente que tem gols, histórias para contar. Nada melhor para descontrair, nesses tempos em que Felipão continua desnorteado no comando da Seleção e Marcelinho Carioca sente faniquitos, quando o Corinthians sofre um gol.
Estávamos à mesa o amigo Washington, Badeco, ex-jogador da Portuguesa, Mirandinha, o legítimo, que jogou no Corinthians e São Paulo e Coutinho o mais afinado parceiro que Pelé teve durante sua brilhante carreira. O negócio é seguinte: os ex-jogadores já se organizaram e pretendem formar uma cooperativa, que possa uni-los, defender seus interesses, organizar suas funções profissionais, no atual estágio de suas vidas.
Uma idéia criativa, que poderá, dar um novo sentido a quem até alguns anos atrás brilhava dentro dos campos de futebol no Brasil. Acho que esses ex-jogadores não precisam falar como profissionais de ontem. Todos eles são cidadãos de hoje, com experiência e autoridade para falar da arte que os consagrou. Dar opinião sobre a atual situação do futebol brasileiro, opinar a respeito dos seus ex-clubes, que hoje vivem problemas. Foram craques no passado, são cidadãos hoje e sempre.
Coutinho está magro, elegante, amadurecido, otimista, confiante. Quando era jogador era bem mais retraído. Coutinho contou sobre o primeiro treino coletivo de Mengalvio no Santos.
Desajeitado, os cobras do time, não levavam fé no Menga. Combinaram ele (Coutinho), Dorval, Pepe e Pelé de se “esconderem” toda vez que Mengalvio pegasse na bola. Quando isso acontecia todos corriam para trás dos zagueiros. Mengalvio não tinha para quem passar a bola. Perdia a jogada. Eles riam. Na terceira vez, Menga chutou a bola para fora do campo. O técnico Lula se assustou. O catarinense ganhou então o respeito e amizade de todos. Foi o equilíbrio do meio de campo do Santos por mais de dez anos. O velho e querido “Pluto”.
Mirandinha quebrou a perna, no apogeu da carreira. Sua tragédia ficou famosa, eternizada numa foto de Domicio Pinheiro. Coutinho falou emocionado: “Foi a primeira vez que eu fiquei com medo de jogar futebol”. Mirandinha, carregou sua cruz durante três anos. Por esforço pessoal e disciplina voltou a jogar pelo São Paulo. Na volta fez dois gols contra o Grêmio no Morumbi. Depois foi para os Estados Unidos, México, jogou mais oito anos. Um herói. Hoje tem três filhos, três artilheiros na família, dois jogam na Europa. Mirandinha só conta os dólares. Está de bem com a vida.
Badeco jogou enquanto teve vontade pelo Corinthians, pela Portuguesa, pelo América do Rio. Aproveitou o tempo, estudou, formou-se advogado, virou delegado da Polícia Federal. Aposentou. Voltou ao ninho antigo dos ex-companheiros jogadores. Ah!!! Durante o almoço eu e Mirandinha arriscamos uma cervejinha. Ficamos sem parceiros, Badeco e Coutinho só beberam água. Nem falamos da Seleção Brasileira. Nosso papo era sobre um futebol de melhor qualidade. Muito melhor. Qualquer dia conto o papo que rolou durante a sobremesa. Lembranças de um tempo em que o futebol só nos dava alegria. Nada mal para um começo de primavera.