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Fernando Santos
Sexta-feira, 28 Setembro de 2001, 21h31
terraesportes@terra.com.br

A beleza do jogo


Hortência apareceu deslumbrante em entrevista a Jô Soares. Loiríssima, rosto com pele de bebê, bronzeada, um belo decote, vestido preto colado a um corpo torneado. O gordo apresentador chegou a dizer: "O que não faz o esporte!". Na verdade, a expressão melhor seria "o que não faz quando se deixa o esporte".

O visual de Hortência desperta uma questão que vire-e-mexe é tema de discussão: pode uma jogadora, principalmente de basquete, ser boa em todos os sentidos? Ela pode, ao mesmo tempo, atender aos padrões mais exigentes de beleza e ser tecnicamente sedutora na quadra?

Lembro-me da primeira vez que vi Hortência pessoalmente. Foi em 1986, durante um treino da equipe de Sorocaba (se não me falha a memória), nos Jogos Abertos do Interior de São Paulo, em Rio Claro. Foi um choque. Na época, ela já tinha a fama de ser feia. Cara a cara, era muito mais feia. Mais feia ainda porque era inevitável a comparação com Paula, que defendia a cidade de Piracicaba. Não à toa Paula era chamada de princesa.

Quinze anos depois, Hortência é uma outra mulher. Com todo o dinheiro que ganhou, é de se imaginar que não tenha economizado recursos para satisfazer toda a sua vaidade. Eis então que ressurge a questão: ela não poderia conciliar a beleza com o talento? Ou feminilidade e condicionamento atlético não se misturam?

Há esportes onde as jogadores primam pela beleza. É o caso do tênis, que não se cansa de revelar musas, como Anna Kournikova, Martina Hingis, Steffi Graf ("Que pernas!", costuma dizer Vicente de Aquino, editor de Esportes do jornal "Agora São Paulo"). E o vôlei, com suas gerações de verdadeiras rainhas de passarela como Vera Mossa, Fernanda Venturini e Leila _esta que transferiu seu charme para outro palco de beldades: o vôlei de praia.

No basquete, porém, parece ser cada vez mais difícil esse tipo de convivência. Nos EUA, a WNBA se esforça a cada temporada para desvincular a imagem de suas jogadoras do lesbianismo. No Brasil, os clubes, nos últimos anos, investiram em uniformes cada vez mais justos, os chamados agarradinhos, na tentativa de tornar mais evidentes as formas femininas das jogadoras. Tudo com a intenção de atrair mais público (principalmente masculino) aos ginásios. Uma tremenda besteira!

A beleza é, então, fundamental? Essa resposta foi dada pela Federação Paulista de Futebol, no recente processo de seleção de atletas para o seu campeonato feminino. Os organizadores não escondem que estão à procura de jogadoras bonitas, tipo modelos de chuteiras. Nem que para isso tenham que sacrificar a qualidade técnica da competição. Outra enorme besteira! A MTV já organizou campeonatos de modelos. Um vexame total. Público: nenhum. Projeto arquivado!

Isso nos leva de volta ao tempo em que Hortência dominava as quadras. Feia, como ela admite com sua atual transformação, mas genial. Era uma enorme satisfação vê-la jogar. Não pela sua beleza física, que não existia, mas pela beleza de seu jogo. O que a transformou numa das maiores jogadoras de todos os tempos, não só no Brasil como no mundo inteiro. E o que nos faz concluir: se alguém procura o esporte com a única intenção de ver mulheres bonitas, está procurando no lugar errado. É melhor ir a um desfile de moda ou a uma casa de striptease.

Mas fica a questão: por que no basquete é cada vez mais raro ver jogadoras ao mesmo tempo bonitas e talentosas? Para isso, peço ajuda às próprias jogadoras, aos preparadores físicos e aos universitários.

 

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