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Juarez Soares
Quinta-feira, 04 Outubro de 2001, 15h58
terraesportes@terra.com.br

É o amor


Sempre ouvi dizer que existe uma grande diferença entre amor e paixão. Os entendidos contam que o amor é mais duradouro. São fiapos que sobram do tecido traçado no fogo da paixão. Estou pensando, é claro, nesses jogadores de futebol cuja maior qualidade é serem eméritos beijoqueiros.

Cada gol marcado, tome beijo no distintivo estampado na camisa do clube que momentaneamente defende. Querem dizer com esse gesto que estão apaixonados. Quando mudam de clube, para lá levam suas paixões e suas malas de beijos. Marcelinho Carioca que o diga.

São atitudes fugazes, levianas, que nada têm a ver com amor, com paixão. São beijos pagos a peso de ouro, são comprados por milhares de reais, pagos regiamente no final de cada mês. Beijo comprado não vale.

Estou escrevendo tudo isso pensando no Edmundo, que, dizem, ontem perdeu o emprego. Sua atitude deve ter sido muito grave para fazer um mineiro perder a calma. O mineiro Zezé Perrela. Olha que mineiro que se preza não perde a calma à toa. Mineiro que é mineiro não fica nervoso por atitudes levadas pelo amor.

Foi isso o que Edmundo fez. Seu desatino, seu gesto foi cometido por um sentimento nobre, talvez o mais nobre de todos: o amor. Edmundo afirmou antes do gesto que haveria de lhe doer muito, no fundo da alma, marcar um gol no seu ex-clube, o Vasco da Gama.

Talvez por isso, mesmo sem querer, na hora do pênalti jogou a bola mansamente, quase com carinho, nos braços do goleiro vascaíno. Erro fatal, atitude suicida. Para coroar sua tarde de infortúnio, seu desafeto (Romário), a cada gol marcado, e foram três, jogava beijos de amor para a galera.

Pobre Edmundo. Ele se esqueceu que no futebol de hoje não há lugar para os apaixonados sinceros. Perdeu o emprego por uma declaração de amor. Eu sabia de todos os seus defeitos, não sabia dessa sua nobre qualidade. Os apaixonados haverão de entendê-lo. É o suficiente.

 

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