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Juarez Soares
Quinta-feira, 18 Outubro de 2001, 17h37
terraesportes@terra.com.br

Divórcio


Não, não era uma coluna social anunciando um desenlace, um final de romance da alta sociedade. Mas causou impacto. Depois de dez anos, estão separados Ricardo Teixeira e J. Hawilla, isto é, CBF e Traffic.

Chega ao fim um casamento que durou dez anos, talvez um pouco mais. Toda despedida é sempre triste. Assim, uma carta selou o adeus definitivo. Por escrito, Hawilla (Traffic) colocou um ponto final na convivência comercial, que originou milhões de reais.

Seguramente, bons negociantes, os dois saíram do negócio muito mais ricos do que entraram. Dizem, deram à Seleção Brasileira um caráter profissional no relacionamento patrocinador patrocinado, que hoje chamam de marketing. Aprendi na roça de onde vim, no nosso linguajar camponês, que quando há uma confusão colocando um ponto final numa união, a gente diz: “Pode crer que foi dinheiro, cachaça ou muié”.

Claro, não foi por causa de “muié”. Cachaça, também não. Dr. Ricardo sempre bebeu uísque. Por ironia, foi um refrigerante. Mas seguramente foi por causa de dinheiro. Como em todo desacordo, houve traição. Primeiro, Dr. Ricardo trocou de refrigerante na propaganda da camisa da Seleção, num negócio de 8 milhões de reais. Hawilla foi passado para trás. Depois, Dr. Ricardo acabou com a Copa Mercosul, cujos direitos eram do ex-sócio Hawilla.

Nesse caso, a CBF atendeu, talvez, o último pedido da TV Globo. Dr. Ricardo e J. Hawilla atravessaram juntos as agruras da CPI de onde o presidente da CBF saiu desmoralizado e J. Hawilla repleto de elogios. Hawilla se esqueceu de que o mundo é redondo e dá voltas.

Quando ele vendeu o Corinthians para os americanos, um outro profissional do marketing procurou a Traffic e explicou que a venda da publicidade do Excel, da Suvinil, tinha sido feita por amor ao Corinthians. A partir do momento em que o negócio era profissional, a empresa tinha direito à comissão.

Hawilla foi uma pedra de gelo, frio, calculista, profissional, perguntou: “Tem por escrito?” Não, não tinha por escrito. A transação tinha sido feita por amor ao clube em uma época ruim, onde os salários dos jogadores corriam o risco de não serem cumpridos.

Agora, certamente o negócio Traffic-refrigerante-CBF também não tinha nada por escrito. Se tinha ninguém honrou a palavra. Fora o companheiro Roberto Marinho, dificilmente um jornalista consegue ficar milionário. Pelo menos que eu me lembre. J.Hawilla, que foi repórter-eportivo, conseguiu.

Montou uma empresa. Bom vendedor, obteve sucesso. Fez a independência financeira, de suas futuras gerações. O país é livre, a iniciativa privada também. No Brasil, costuma-se medir a felicidade das pessoas pelo dinheiro que possuem. Nesse caso, Dr. Ricardo e J. Hawilla seriam um oceano de felicidade.

No último emprego de “Jotinha”, como alguns amigos o chamam, trabalhamos juntos como repórteres na TV Globo. Juntos participamos da greve dos jornalistas. Depois, cada um seguiu seu caminho. Eu. como empregado, Hawilla como patrão.

Por isso, a notícia do fim da convivência CBF – Traffic me chamou atenção. Curiosidade de jornalista. Nada além disso. Às vezes, fico pensando se J. Hawilla não era mais feliz quando na Praça Marechal, sede da TV, na calçada, mostrava com orgulho um carro Dodge (que não era do ano) recém-comprado na do amigo Constantino Cury. Pode ser que seja verdade: o dinheiro não traz felicidade. J. Hawilla que o diga!

 

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