O que há de comum entre o Mão-Santa Oscar e o papa João Paulo 2º?
Os dois se recusam a aceitar a derrota para o tempo. Cada um em sua
função, lutam com as forças que lhes restam contra a idade.
É difícil imaginar as razões que levam o papa a não renunciar.
Mas o pessoal do Vaticano tem lá os seus motivos milenares. Quanto a
Oscar, é fácil encontrar uma explicação: a sua obsessão por
ultrapassar o recorde histórico de Kareem Abdul-Jabbar.
Salvo engano e uma polêmica estatística, Oscar ficou neste
domingo a 35 pontos da marca mundial de Kareem, de 46.725 pontos. O
Mão-Santa não aceita que exorcizem seus números, principalmente os do
início da carreira. Mas nos últimos anos, pelo menos desde a época em
que ele rompeu a barreira dos 40 mil, a contagem regressiva para o
recorde começou.
E a cada partida, é mais nítida a intenção de Oscar. Por mais
que o time do Flamengo se esforce em busca do título carioca, todos os
companheiros parecem voltados a ajudar o cestinha a alcançar sua meta.
Como neste domingo, na derrota por 110 a 95 para o Vasco.
Oscar ficou em quadra quase todo o tempo. Só saiu nos últimos
três minutos, quando a reação era impossível. No time, ele tem uma
única função: arremessar, de preferência de três pontos. Fez 27 contra
o Vasco, e agora espera atingir o recorde no próximo sábado, contra o
Fluminense.
É inegável a importância de Oscar para o basquete brasileiro.
Da mesma forma que é incompreensível como os adversários pouco
exploram suas deficiências. O veterano cestinha se arrasta na defesa,
o que torna o time do Flamengo extremamente vulnerável. Nesta partida
específica, o Vasco demorou para descobrir o caminho da vitória, nas
jogadas de infiltração no garrafão, onde o Mão-Santa vive estacionado.
No ataque, Oscar faz o que sabe. Poupa energia na defesa para
gastar o que resta no ataque. É mesmo difícil marcá-lo. Neste Carioca,
sua média é superior a 30 pontos por partida. Claro que existem times
de qualidade insignificante, e apenas Vasco e Fluminense podem servir
de parâmetro. Mesmo assim, apenas ontem ele deixou de marcar menos de
30 pontos numa partida.
O final da carreira já poderia ter sido antecipado há dois ou
três anos. Mas Oscar não dá a mão a torcer. Depois do fracasso na vida
política e de ter disputado cinco Olimpíadas sem ter ganho nenhuma
medalha, ele tratou de descobrir uma maneira de gravar seu nome na
história. E isso será com o recorde de pontos, mesmo que contestado.
Mas com a bênção de todos os que reconhecem seu valor no basquete
brasileiro e mundial.
Amadorismo
Não poderia deixar de fazer duas observações sobre a partida
entre Vasco e Flamengo: 1) o jogo foi emocionante, digno de duas
grandes equipes, apesar de alguns problemas técnicos, irrelevantes
diante de um belíssimo espetáculo; 2) uma pena que só meia dúzia de
gatos pingados estavam no Maracanãzinho, em mais uma brilhante idéia
de nossos dirigentes de realizar jogos nas manhãs de domingo.