Antes de mais nada, gostaria de deixar claro: considero Oscar Schmidt o maior jogador brasileiro da história do basquete. Isso não significa, porém,
que seja obrigado a concordar com tudo o que faz ou diz. Ainda acredito que existe liberdade de imprensa neste país.
Alguns internautas interpretaram minhas últimas colunas como ofensivas ou depreciatórias ao mito Oscar. Esta é a opinião deles, a qual respeito, mas que não refletem o pensamento deste colunista. Mas faço questão de reproduzir abaixo mensagem enviada por Samy Vaisman, assessor de imprensa de Oscar. Esse é o procedimento que a coluna adotou em outros casos semelhantes, sempre procurando deixar aberto o espaço a quem é citado e quer
dar a sua opinião.
Antes, também, uma observação: é incrível como as pessoas, principalmente no mundo do basquete, não gostam de ser contestadas! Mas esse é um tema para uma próxima coluna. Aliás, acabo de me lembrar de uma coluna
na qual rasguei elogios a Oscar, por sua incrível habilidade em driblar o tempo e a idade, mas nem por isso recebi nenhuma mensagem de seu staff. Por
que será? Segue, então, a resposta do assessor do Mão-Santa. E aproveito para dizer que aceito e aguardo a proposta para uma entrevista.
"Qual não foi minha decepção ao ler, antes na qualidade de assinante do Terra e freqüente visitante da área de esportes do site, e depois na posição
de assessor de imprensa de Oscar Schmidt (função que exerço há mais de dois
anos), a coluna do sr. Fernando Santos na tarde desta terça-feira, dia 23...
Em seu texto, o sr. Fernando Santos usa e abusa, a meu ver, de frases
recheadas de deboche e sarcasmo, além de mostrar uma tremenda falta de bom
senso e respeito quando se refere ao Papa João Paulo 2º e ao homem Oscar
Schmidt, como nos parágrafos iniciais quando diz "...os dois se recusam a
aceitar a derrota para o tempo... lutam com as forças que lhes restam contra
a idade... é difícil imaginar as razões que levam o papa a não renunciar.
Mas o pessoal do Vaticano tem lá os seus motivos milenares. Quanto a Oscar,
é fácil encontrar uma explicação: a sua obsessão por ultrapassar o recorde
histórico de Kareem Abdul-Jabbar..." Colocar Oscar na mesma linha em que se
dirige ao nome do Papa João Paulo II é uma grande honra para o atleta, mas
não considero 'os dois se recusam a aceitar a derrota para o tempo' e 'o
pessoal do Vaticano' formas muito educadas de se referir à autoridade máxima
da Igreja Católica e a Oscar, não superestimando, de forma alguma, o atleta,
nem colocando-o no mesmo patamar ao Papa que, apesar dos sérios problemas de
saúde e limitações físicas que enfrenta, resiste e ainda emociona bilhões de
pessoas de várias religiões pelo mundo...
E prossegue afirmando "... Salvo engano e uma polêmica estatística, Oscar
ficou neste domingo a 35 pontos da marca mundial de Kareem, de 46.725
pontos. O Mão-Santa não aceita que exorcizem seus números, principalmente os
do início da carreira..." Antes de mais nada, obedecendo às regras
gramaticais, não existe a expressão 'Mão-Santa' (com hífen), como criou o
autor da coluna. O que existe é um apelido carinhoso dado ao atleta há
muitos anos e que pode ser escrito da forma 'Mão Santa'. Mas ninguém está
aqui para questionar regras gramaticais e sim uma situação nada agradável e
gratuita oferecida pelo sr. Fernando Santos que merece todo o respeito por
estar integrando a equipe do Terra. Ao menos por isso.
Bem, quando ao trecho
'salvo engano e uma polêmica estatística... não aceita que exorcizem seus
números, principalmente os do início de carreira...', queria deixar bem
claro que esta marca, estes números e estatísticas divulgados e propagados
hoje em dia são exatamente os mesmos números e estatísticas divulgados e
propagados há quase sete anos, quando Oscar voltou da Europa. Pergunto
apenas o porquê do questionamento de tais marcas, números e estatísticas
agora, o porquê de tanta indignação e 'rebeldia' se estes são os mesmos
números que os que acompanham basquete e entendem ou se dizem entendidos
deste esporte, estão acostumados a ver e frisar desde então?
"...Por mais que o time do Flamengo se esforce em busca do título carioca,
todos os companheiros parecem voltados a ajudar o cestinha a alcançar sua
meta. Como neste domingo, na derrota por 110 a 95 para o Vasco. Oscar ficou
em quadra quase todo o tempo. Só saiu nos últimos três minutos, quando a
reação era impossível. No time, ele tem uma única função: arremessar, de
preferência de três pontos. Fez 27 contra o Vasco, e agora espera atingir o
recorde no próximo sábado, contra o Fluminense..." Acredito que, mais uma
vez, o sr. Fernando Santos foi bastante infeliz em sua declaração. Quando
diz que os companheiros de equipe estão inclinados a fazer com que Oscar
alcance sua meta, prefiro acreditar que não afirmou isso querendo insinuar
que os mesmos são orientados para isso. Até porque isso colocaria em xeque
tbm a capacidade e as qualidades técnica e de comando do campeão mundial
Miguel Ângelo da Luz. Quem acompanha Oscar desde sua volta ao Brasil,
principalmente, seja nos ginásios, pela TV ou jornais, sabe que o ala é peça
importante em suas equipes e costuma jogar praticamente o jogo todo sempre,
vezes por falta de opções no banco, vezes por estratégia, vezes por estar em
um dia inspiradíssimo, assim como, quando não encontra seu melhor jogo,
também descansa por alguns poucos minutos no banco de reservas. Em 2000,
numa partida contra o extinto Vasco/Barueri, chegou a jogar 50 minutos em
partida de duas prorrogações. Além do mais, na última partida contra o
Vasco, como noticiado pela TV, Oscar anotou 29 pontos e não 27, como citado
na coluna.
Peço atenção para o trecho do - se não me engano - último parágrafo da
coluna que diz "... O final da carreira já poderia ter sido antecipado há
dois ou três anos. Mas Oscar não dá a mão a torcer. Depois do fracasso na
vida política e de ter disputado cinco Olimpíadas sem ter ganho nenhuma
medalha, ele tratou de descobrir uma maneira de gravar seu nome na História.
E isso será com o recorde de pontos, mesmo que contestado. Mas com a bênção
de todos os que reconhecem seu valor no basquete brasileiro e mundial..."
Acredito que a única pessoa a quem diga respeito encerrar a carreira e
quanto o fazer seja uma só: o próprio Oscar. Assim como questionam a
qualidade e rendimento do atacante Romário. A maior prova disso é que, desde
que chegou ao Flamengo há mais de dois anos (no período defendido pelo
colunista para o encerramento da carreira), foi cestinha de dois campeonatos
nacionais, dois estaduais, um Campeonato Sul-Americano e líder de
estatísticas de bolas de três pontos, entre outros 'fundamentos'. Conquistou
um Estadual, foi vice Brasileiro e terceiro Estadual e Sul-Americano, tendo
marcado quase 4.500 pontos até agora desde agosto de 1999. Recebeu, no
início do ano, inclusive, homenagem da alta direção da NBA (Liga Americana
de Basquete Profissional) por ter feito quase 60 pontos em duas ocasiões na
competição continental, o que mostra que sua qualidade e seus feitos
atravessam fronteiras. Fronteiras estas que o colocaram, por duas vezes, em
eleições feitas com fãs da NBA nos EUA, na 'seleção dos sonhos de todos os
tempos', formada apenas por dez não-americanos. Oscar não atuou na NBA,
embora tenha recebido cinco convites ao longo da carreira. Um ídolo, um
craque, um exemplo não se faz sozinho e nem com fatos fabricados e Oscar
lutou por 30 anos no basquete para se identificar e ser identificado com uma
imagem íntegra, honesta, nunca arranhada. Entre os inúmeros prêmios que
recebeu na carreira, destaco o 'Nelson Mandela', e o 'Un Canestro per la Vitta' (ambos na Itália), por sua luta contra o racismo, as medalhas Mérito
Esportivo (Presidência da República do Brasil) e Presidente da República Italiana (por sua luta contra o racismo) e a Ordem Olímpica do COI (1997). O sonho da carreira política acabou com a condição de vencedor em 539 das 651 cidades do Estado de São Paulo, com 5.752.202 votos, quinto maior votado da História para o Senado. O próprio Oscar é o primeiro a admitir sua total falta de estímulo e seu alívio atualmente por não ter ingressado na política. Falando em termos olímpicos, apesar de não ter conseguido uma medalha, Oscar detém todos os recordes da modalidade e o 'tratou de gravar seu nome na História' mostra, infelizmente, a total falta de conhecimento o sr. Fernando Santos sobre a carreira de Oscar. Estamos abertos e ficaríamos especialmente honrados em receber o Terra, na pessoa do sr. Fernando Santos,
para uma entrevista com Oscar, se for do desejo do mesmo e 'com a benção de
todos os que reconhecem seu valor no basquete brasileiro e mundial'. Que
assim seja."