Não dá para acreditar nos números que sugerem Oscar Schmidt como o recordista mundial de pontos no basquete. Não há súmulas para comprovar todas os jogos, existem mais de 6 mil pontos sob suspeita e o próprio jogador já declarou que sua contabilidade não é confiável. Então, que recorde é esse?
Folha de S.Paulo, 8 de março de 1998. Às vésperas de completar o que chamou de 40 mil pontos na carreira, Oscar reconheceu que seus números eram "duvidosos". E aqui vale uma ressalva: a margem de erro pode ser para cima ou para baixo.
O buraco negro na carreira do cestinha vai de 1976 a 1982, quando ele jogou pelo Palmeiras (até 78) e Sírio. Os dois clubes, além da Federação Paulista de Basquete, declararam que não possuem súmulas oficiais desse período. Disse Oscar há quatro anos: "Foram usados arquivos pessoais, estatísticas oficiais e jornais".
Ao todo, são 6.384 pontos sob suspeita. Podem ser menos, podem ser mais. O certo é que não existe comprovação. Acredita-se que muitos desses pontos foram feitos com base em projeções, em médias, elaboradas por Oscar, com ajuda do jornalista Odir Cunha.
Por essa razão, a Federação Internacional de Basquete (Fiba) jamais reconheceu tal pontuação. Sem dados oficiais, não há recorde nenhum.
E há mais dúvidas sobre a contabilidade de Oscar. Na mesma época em que atingiu os tais 40 mil pontos, ele declarou, também à Folha de S.Paulo, que incluiu na sua estatística os pontos que marcou numa série amistosa que promoveu no Brasil. Foram jogos dos amigos campeões do Pan de 87 contra o time de Magic Johnson. "Coloquei por questão de simpatia", disse Oscar, à época.
Quer dizer então que Oscar selecionou quais os pontos que entrariam ou não na sua conta?
Há outros problemas. Em setembro último, o diário carioca "O Dia" revelou que o recorde de Kareem Abdul-Jabbar, de 46.725 pontos, já teria sido superado por Oscar durante uma série de partidas amistosas. Mas o cestinha resolveu desconsiderar esses jogos. Sua intenção era, desde o início do campeonato estadual do Rio, atingir a tal marca durante um jogo-espetáculo, como este preparado contra o Fluminense, no Maracanãzinho, com transmissão para TV (o ego agradece).
Não que Oscar não esteja à altura de tamanha homenagem. De forma alguma. A questão é que não existe um levantamento oficial e independente.
Nesta semana, surgiu ainda um fato curioso. A assessoria de imprensa do jogador distribuiu comunicado à imprensa recalculando a marca de Oscar. Descobriu-se, não se sabe como nem de onde, que havia um pontinho a mais na sua estatística. Assim, ele teria 46.723 pontos, e não 46.722 como acreditava-se após a partida contra o Comary. Partida essa que foi antecipada sem nenhuma justificativa que não fosse a de preparar o terreno para o showzinho deste sábado.
Oscar é um dos maiores cestinhas do mundo, mas não precisava chegar a tal ponto. Além da falta de confiabilidade em seus dados, não existe comparação com os números de Kareem Abdul-Jabbar. O norte-americano registrou sua marca em jogos do campeonato universitário, da NBA (incluindo playoffs) e do All-Star Game. Precisa mais?
Na história do basquete brasileiro, Oscar terá sempre uma posição de destaque. Será lembrado como um dos maiores. E não será um bloquinho de notas que iria alterar essa posição. Acredite, se quiser.