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Marcos Caetano
Domingo, 09 Dezembro de 2001, 20h19
terraesportes@terra.com.br

Novos tempos


Nos misteriosos escaninhos da memória, cada um de nós deve ter um cantinho onde guarda os bons momentos que passou dentro de um cinema de bairro. Os meus foram o Baronesa, na Praça Seca, e o Caiçaras, de Bento Ribeiro – que tinha gloriosas goteiras prateadas, iluminadas que eram pela luz da projeção. Todo mundo também deve ter visto esses cinemas tão queridos virarem primeiro “poeiras” – com rodadas duplas combinando filmes de kung-fu e inofensivas pornochanchadas da Boca do Lixo – e depois desaparecerem para sempre, convertidos em igrejas evangélicas.

O preâmbulo sentimental foi apenas para justificar a citação de um filme meio antigo, com o qual quero ressaltar as brilhantes campanhas de São Caetano e Atlético-PR no Campeonato Brasileiro. O filme chama-se Hoosiers, e conta a história verídica de um técnico durão que enfrenta a conservadora cidadezinha de Hickory, no interior de Indiana, para ensinar um típico time de universitários brancos – bons nos arremessos e frouxos no jogo de contato físico – a jogar no estilo dos negros das grandes capitais.

A revista Sports Illustrated apontou Hoosiers como o melhor filme de esportes de todos os tempos. Mas mencionarei apenas uma cena. Ela se passa no início da temporada, quando o treinador vai apresentar o time à torcida. Não figurava no elenco o ídolo local, que havia deixado a equipe por não concordar com a nova tática. “Queremos Jimmy! Queremos Jimmy!” – gritava a turba furiosa. O treinador não perdeu tempo e foi ao microfone, apontando seus jogadores: “Esperamos que vocês gostem de nós pelo que somos, não pelo que não somos. Senhores, este é o seu time para o campeonato de 1951”. A multidão passou da revolta a um silêncio reflexivo. E os Hoosiers, time de uma universidade com apenas 64 alunos, acabaram campeões pela primeira vez na história.

Os dois times que chegam à final do Brasileiro de 2001 conseguiram tal feito exatamente porque jogaram com o que tinham – sem se preocupar com o que poderiam ter tido. É muito comum ver os torcedores dos grandes clubes cobrando o que ainda não têm e esquecendo-se de valorizar o que já está lá.

Querem sempre um novo técnico, o centroavante da outra equipe, um estádio maior, uma camisa de outra cor, o diabo. Quem se recorda da torcida do Palmeiras em sua tentativa fracassada de gestão do departamento de futebol do clube, dos vascaínos xingando Romário ou dos tricolores cariocas pegando no pé do excelente Oswaldo de Oliveira sabe bem do que estou falando.

São Caetano e Atlético Paranaense trabalharam com os recursos que tinham. Com esses recursos, procuraram fazer o melhor, e uma coisa de cada vez. Não pensaram no último campeonato, nem no próximo torneio, nem no jogo passado, nem na fase seguinte. Planejaram seu caminho com realismo e venceram. Agora, como prêmio pela clareza de propostas e propósitos, chegaram às finais e vão disputar a Libertadores. Só que os dois finalistas não foram os únicos vencedores do campeonato, posto que os oito clubes classificados também trabalharam com semelhante filosofia. E a análise das semelhanças entre esses clubes pode não apenas ensinar algo para os demais, mas apontar caminhos para o futuro do futebol brasileiro.

Os times que triunfaram no Campeonato Brasileiro, em primeiríssimo lugar, são bem administrados. Seus dirigentes não são folclóricos estelionatários, nem foram figuras fáceis na CPI do Senado. Também não pagam salários milionários a jogadores cheios de pretensão ou técnicos vaidosos, que se julgam mais importantes que suas equipes. Mas pagam esses salários mais baixos com dinheiro de verdade – e não com aquele de mentirinha, do Banco Imobiliário, que muitos cartolas usam como se fosse moeda forte.

Outra característica comum a esses times é a força do conjunto. Não foram registrados conflitos entre os integrantes de seus elencos. Nada de Ricardinho e Luxemburgo versus Marcelinho ou Petkovic às turras com Edílson. As equipes atuaram unidas. E, no final, a paz interna sempre chegava às arquibancadas – visto que em nenhum momento suas torcidas se tornaram violentas ou ameaçaram jogadores e dirigentes.

São Caetano e Atlético-PR provaram que superastros podem até ganhar partidas, mas não ganharão sozinhos os campeonatos. Para que eles brilhem é preciso organização, no sentido mais abrangente da palavra. Por isso, caro torcedor, da próxima vez que puder escolher entre um elenco de primas-donas e um clube bem administrado, fique com a segunda alternativa. As finais do Campeonato Brasileiro de 2001 e a aprovação unânime do relatório da CPI do futebol não deixaram dúvidas: o futebol vai viver novos tempos. E, felizmente, parece que serão tempos de renovação.

 

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