Esqueça, pelo menos por um instante, as denúncias
contra Eurico Miranda. Os desmandos de uma administração
desastrosa. A chuva de acusações contra o cartola nas
CPIs. Faça de conta que isso não existe. Sobra, então, o
verdadeiro Vasco, um time de fibra, de uma torcida
apaixonante.
Assim o Vasco conquistou o bicampeonato carioca de
basquete. Um clube mergulhado no mar de lama da gestão
Eurico Miranda, com um time que soube como nunca se
erguer. Como bem disse ao final da partida deste domingo
o técnico Hélio Rubens: "Tenho orgulho de trabalhar numa
equipe como essa, com jogadores que foram, acima de
tudo, homens honrados".
É duro falar em crise num momento de comemoração.
Mas se há quem mereça esse título, são os jogadores e a
torcida. Porque o clube nada fez além de colocar em
risco um trabalho brilhante, e um grupo de jogadores que
se destaca, há dois anos, como o melhor do país.
São meses e meses de salários atrasados. A cada
cheque que não caía na conta, o Vasco tratava de
descontar com cestas no Flamengo. Foi uma vitória
pessoal de cada jogador, de cada integrante da comissão
técnica. Duro mesmo foi ver alguns dirigentes
comemorando ao final da partida. Esses deviam se
envergonhar.
Em quadra, como foi dito há uma semana, Rogério
voltou a fazer a diferença. Ele não foi apenas o
cestinha da quarta e última partida da final, como
comandou a reação defensiva no segundo tempo. Outro
destaque inegável do Vasco foi o pivô Nenê. Um jogador
que tem tudo para dominar o garrafão brasileiro por anos
e anos, mas que precisa, com urgência, aprender a não se
atrapalhar com as faltas.
E como também já havia sido dito aqui, o Vasco
teve mais cabeça. Soube reagir bem após virar o primeiro
tempo com 10 pontos atrás, numa partida atípica, maluca.
O time vascaíno logo abriu 13 pontos no primeiro quarto,
permitiu a virada do Flamengo, que chegou a ter 14 na
frente e terminou com 10 atrás.
A partida também teve um emocionante duelo
defensivo. Os dois times usaram todas as suas forças
numa verdadeira lição de que o basquete não é só atacar.
E, em se tratando de defesa, ninguém entende mais por
aqui do que Hélio Rubens. Aí, o caminho ficou aberto
para o merecido título.
Chegou a hora de Oscar
É inevitável constatar que, pelo menos nesta
partida decisiva, o Flamengo perdeu graças a Oscar. O
cestinha, que comandou a equipe durante todo o
campeonato, desta vez não teve pernas para correr nem
braços para arremessar. Se havia alguma dúvida de que o
tempo não passa para o jogador, ela acabou neste domingo.
Com Oscar no banco, o Flamengo tirou uma diferença
de até 13 pontos no placar e colocou 14 na frente. Isso,
graças ao esforço defensivo. O que não existiu quando
Oscar esteve em quadra. Para o adversário, é como atacar
cinco contra quatro.
Esse sempre foi o ponto chave para derrotar o
Flamengo: explorar a deficiência defensiva de Oscar, não
só nas jogadas de contra-ataque, como no corpo a corpo.
O Mão-Santa nunca foi um adepto da marcação, muito menos
agora, quando virou um quarentão.
Oscar ainda tem uma impressionante precisão nos
arremessos, mas na maioria das vezes isso não compensa a
deficiência na marcação. Foi o que ocorreu nesta
decisão. Em jogo de alto nível, acaba fazendo uma grande
diferença.
<>Ele já avisou que este foi o seu último
campeonato estadual. Deve encerrar a carreira após o
Nacional, que começa no início de 2002. Será um momento
para homenagens, e para guardar as últimas emoções de
uma carreira vitoriosa. E para descobrir que o tempo é
implacável com todos, até mesmo com os gênios.