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Juarez Soares
Domingo, 23 Dezembro de 2001, 16h27
terraesportes@terra.com.br

Mais difícil que a Seleção


Sempre fui um crítico duro do novo técnico do Corinthians, Carlos Alberto Parreira. Desde a Copa dos Estados Unidos foi assim. No entanto, sempre tive muito claro a frase de perfil filosófico de que: “Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”.

Parreira é um treinador diferenciado de seus colegas brasileiros. Ele é um profissional educado, tem compostura, procedimento adequado a todas as situações. Fala bem o português, além do inglês, do francês, do espanhol, italiano e etc. Por esse aspecto, pode ser chamado, com justiça, de “professor”, um termo tão banalizado pelos jogadores quando, para puxar o saco, se referem ao próprio técnico.

Parreira tem uma qualidade que não reconheço em nenhum outro técnico desse país. Ele tem classe. Durante a Copa dos Estados Unidos, participei, talvez, do maior programa de críticos dos últimos tempos da TV brasileira, o “Apito Final”, comandado por Luciano do Valle. O time era composto por Mário Sérgio, Rivelino, Tostão, Armando Nogueira, Gérson e, modéstia à parte, eu. Criticamos duramente a Seleção Brasileira. Não admitíamos aquela retranca imposta por Parreira, o Brasil jogando sempre na defesa. Achávamos a tática uma calamidade. E quase foi.

Se Baggio e Baresi não chutassem os pênaltis para fora, a história seria outra. Vale o registro. Depois do Brasil campeão do mundo, os repórteres encomendados, desses que viajam às custas da CBF, tentaram jogar Parreira contra o ‘Apito Final’. Perguntaram se ele queria dar resposta a todos que o criticaram. Nesse momento, Parreira respeitou e se fez respeitar. Mostrou seu cartão de visita, manteve a elegância: “Responder o quê? Eu sou o campeão do mundo”.

À noite, recebeu um dos poucos elogios do nosso programa. A vida seguiu, a roda girou, nosso time se desfez. Parreira foi treinar outras equipes. No Brasil, ele quase nunca conseguiu sucesso. No nosso país é um treinador comum. Quando alguém quer elogiá-lo diz que ele é estudioso. Dirão alguns que ele ganhou um título treinando o Fluminense. Mas, com Gérson na meia-esquerda, até eu.

Parreira vai ter agora a sua mais árdua lição desde que se tornou técnico. Treinar o Corinthians é muito mais difícil que treinar a Seleção. A paixão dos torcedores, a incompetência dos dirigentes, o time que tem poucos craques. Ele vai andar em cima do fio da navalha. Pena que não tenha trazido na comissão técnica João Paulo Medina, um craque profissional de elite. Desejo ao novo técnico muita sorte. Ele vai precisar. Para ser um vencedor no Corinthians, não basta apenas ser estudioso ou bom moço. É preciso muito mais. O tempo dirá.

Apenas um lembrete:

Tenho pelo Atlético-PR muito respeito e admiração pela campanha deste ano. Mas acho que o São Caetano pode tirar a diferença de dois gols e se tornar Campeão Brasileiro.

 

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