Como observou a Dona Eulália – que para quem ainda não conhece é filósofa
esportiva e minha avó nas horas vagas – “os melhores perfumes estão nos
menores frascos”. Pois aquele pequenino estádio em São Caetano do Sul,
aquela singela casquinha de noz que atende pelo nome de Anacleto Campanella,
abrigou hoje o melhor do esporte nacional. Apenas 20 mil pessoas tiveram o
privilégio de ver de perto os dois finalistas do Campeonato Brasileiro.
Equipes que representam não apenas o jogo bem jogado, com amor e arte, mas
também um sopro de renovação para o nosso combalido futebol. Combalido, mas
esperançoso, após um ano de profundas transformações.
Essa final me fez lembrar de Coritiba e Bangu, que em 1985 também
protagonizaram um embate de um time pequeno, xodó dos torcedores dos demais
clubes, com uma grande equipe curitibana em busca da primeira glória
nacional. Hoje, como naquela ocasião, os paranaenses saíram vitoriosos. Só
que os finalistas de 2001, ao contrário dos de 1985, parecem ter brilho e
organização para conseguir mais – seja no cenário nacional, seja no
internacional. O tempo dirá se eu tenho razão ou se sou um profeta de
meia-pataca. Mas nesses minutos pós-decisão, onde tudo parece eterno e
imutável, afirmar algo diferente seria pura mesquinharia com dois times
deixaram tudo em campo: gols, raça, talento, paixão, entrega. E que nos
presentearam com uma final de pura antologia – para calar a boca dos
insensíveis que diziam que essa seria uma decisão “menor”.
Sobre as duas partidas, algumas coisas me chamaram a atenção. A mais
peculiar foi como os torcedores do São Caetano aprenderam rápido um mau
hábito de alguns fanáticos dos chamados grandes clubes. Após o time ter
chegado aos 2 x 1, no jogo da Arena da Baixada, eles soltaram um
incompreensível grito de “é campeão!”. Ora, iniciar a comemoração de um
título aos 10 minutos do segundo tempo de um jogo que estava mais do que
aberto e era disputado num ritmo frenético, com chances incríveis de gol e
bolas nas traves para ambos os lados, era uma clara afronta a humildade.
Perderam de 4 x 2. Hoje, o otimismo foi ainda mais exagerado: o pontapé
inicial ainda não havia sido dado e a torcida do Azulão já se esganiçava: “É
campeão! É campeão!”. E aqui uma rápida observação deste cronista: a torcida
do Atlético Paranaense só soltou o grito de campeão após os 42 minutos do
segundo tempo do segundo jogo, quando venciam por 5 x 2 no resultado
agregado. Um título se decide nos detalhes. Detalhes como esse.
Só que os méritos do Furacão não ficaram restritos à humildade de sua
incansável torcida – que canta o tempo todo, como se fanáticos do Boca
Juniors fossem. Não, amigo leitor, o time atleticano tinha muito mais. Tinha
o sóbrio e inspiradíssimo técnico Geninho. Tinha o melhor ataque do Brasil,
que fechou o ano com exatos 100 gols. E, principalmente, tinha Alex Mineiro
– o furibundo artilheiro das finais, que marcou oito gols nas últimas cinco
partidas do campeonato. No seu gol de hoje, ele deu novas luzes à
manjadíssima expressão popular que diz que “a bola procura o craque”. E aqui
permito-me acrescentar: a bola procura o time que procura mais o gol.
Ninguém procurou mais o gol em 2001 que o time do Atlético Paranaense e,
portanto, nada mais justo que o título tenha ficado com essa equipe
audaciosa, que deixou no rastro da conquista inédita uma lição para a
Seleção Brasileira: o ataque ainda é uma aventura válida.
O clássico das cinderelas foi vencido pela que arriscou mais. E isso me fez
notar que poucas vezes no futebol um apelido vestiu tão bem uma equipe como
este: Furacão. Amigos, o Atlético foi puro vendaval. Impetuoso, veloz,
fogoso, determinado, às vezes duro,ventou mil vendavais para cima dos
adversários. Ventou do Norte, do Leste e do Oeste; ventou do Sudoeste e
ventou do Sudeste; ventou também do Nordeste e do Noroeste. Mas sempre
ventou mais forte do Sul – de onde vem sua bela e apaixonada torcida.
Torcedores, técnico e jogadores atleticanos quiseram mais do que ninguém
esse título. E quando todos os ventos e todos os sonhos sopram numa mesma
direção, não há quem seja capaz de detê-los.
Num tempo de tantos heróis de mentira, conforta-me saber que ainda existem
heróis de verdade. Alex Mineiro e seus companheiros bordaram para sempre uma
estrela dourada na camisa rubro-negra do Atlético Paranaense. E vão encher
de estrelas a noite de Natal dos torcedores do Furacão.