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Marcos Caetano
Domingo, 03 Fevereiro de 2002, 15h01
terraesportes@terra.com.br

Distante do torcedor


Foi-se a época em que, quando o torcedor reclamava, o técnico do Brasil acabava levando um pé no traseiro. Agora os tempos são outros: se um torcedor protesta, ele é que acaba levando um pontapé no derrière – aplicado por ninguém menos que o meigo treinador da Seleção. Não que eu ache que o tal torcedor goiano fosse algum santinho. Pode até ter distribuído muitos santinhos, visto que era cabo eleitoral de deputado. Mas duvido que ele fosse aquele típico torcedor entusiasmado, que às vezes passa da conta.

Não importa. Em nenhuma hipótese, o técnico da Seleção Brasileira poderia chegar a tal nível de destempero. Fico imaginando se Feola, Zezé Moreira, ou mesmo Zagallo e Parreira – muito mais pressionados em suas gestões do que o Felipão está sendo agora – seriam capazes de tal atitude. Claro que não. Nem mesmo nos tempos românticos do futebol, como na Copa de 50, quando Zizinho – como ele mesmo me contou – foi tomar uns tragos com o Obdulio Varela num boteco de Copacabana na madrugada da final, enquanto outros craques voltavam para suas casas de lotação, de trem e até na barca de Niterói.

Há quem diga que com a atitude de chutar o bumbum do torcedor o nosso Felipão provou que é valente, que não leva desaforo para casa. Não é bem assim. Valente era o João Saldanha, que encarou o Médici – o presidente militar do período mais truculento da história do Brasil – com sua famosa peitada: “Eu não escalo o ministério dele, portanto ele que não venha querer escalar o meu time”. Sinceramente, acharia o Felipão mais corajoso se ele não tivesse aquela deferência submissa, quase tristonha, toda vez que se referisse aos desmandos do Ricardo Teixeira. Ou se em vez de três zagueiros ele usasse três atacantes contra o time júnior da Bolívia.

Na verdade, o que esse episódio com o torcedor mostrou é o quanto a atual Seleção Brasileira está distante do povo. “Mas o torcedor apoiou” – dirão alguns. É claro – complemento eu –, somos brasileiros e amamos nosso time. Se quando o Fluminense tinha Rogerinho, Luiz Antônio e outros sete perebas, todos chamados Marcelo, eu torcia ensandecido, que dirá com a Seleção Brasileira. Comemorei cada gol de cabeça dos nossos muitos defensores como se fosse do Gérson, de canhotinha, ou do Didi, de folha-seca. Só que confundir vibração com aprovação popular seria subestimar a inteligência da torcida.

Seria um grande desrespeito ao bom-gosto do torcedor afirmar que ele está satisfeito com uma equipe que joga no melhor estilo do West Ham da Inglaterra: um bando de vara-paus na defesa, um pobre coitado tentando fazer sozinho a ligação entre a defesa e o ataque – e tome chuveirinho na área! Nossa defesa tem abundância de recursos humanos e é miserável em recursos técnicos. Já o ataque, sem Romário e França, anda miserável em ambos os quesitos. Isso, definitivamente, não é o futebol brasileiro.

A Seleção está distante do torcedor. Isso é fato. Tão distante que até o novo uniforme – aquele que se parece com uma fantasia de bate-bola (os mais antigos diriam “clóvis”) e com a fatiota do Jaspion – custará nada menos que 198 mangos. É isso mesmo: a camisa da Seleção Brasileira, num país ainda tão injusto socialmente como o Brasil, vai custar um salário mínimo. Não precisaria dizer mais nada.

Mas, para terminar com otimismo, quero dizer que tivemos o que celebrar no jogo de quinta-feira, além da goleada. Os motivos de comemoração atendem, respectivamente, pelos nomes de Gilberto Silva, Kleberson e Paulo César. Gilberto Silva e Kleberson são provas vivas de que é possível escalar volantes que não saibam apenas destruir jogadas. Tiveram grande atuação e, ainda que não acredite que o Felipão vá abrir mão do Émerson, foram um sopro de talento num setor em que a Seleção andava tão carente. Já Paulo César jogou nas duas laterais – e com personalidade. Chuta e passa bem, pode cair pelo meio, e é uma ótima opção para compor o grupo dos 23 que irão a Coréia.

Reafirmo o que venho dizendo: sou otimista sindicalizado, de carteirinha, e acho Copa do Mundo um negócio tão parelho, com um favoritismo tão grande para as seleções de maior tradição, que é perfeitamente possível que o Brasil vença. Para isso, vou torcer como um louco, pois esse negócio de crítico que espera o pior não é comigo. Mas ajudaria bastante se as pessoas que comandam a Seleção ouvissem mais e chutassem menos o torcedor – esse otimista velho de guerra.

 

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