O All-Star Game deste domingo terminou, para mim, no intervalo. Foi no exato momento em que o narrador Ivan Zimerman (que me perdoe se a grafia
estiver incorreta) anunciou a internação do ex-jogador Ubiratan no Incor, o
Instituto do Coração, em São Paulo. Foi, ao mesmo tempo, um instante de terrível preocupação, mas também de muita esperança. Afinal, não há lugar melhor para recuperar alguém que havia sofrido três paradas cardíacas.
No sábado à noite, na redação paulista do diário Lance!, recebi a
notícia da situação de Ubiratan. Foi um susto, um impacto. Toda uma história
de glórias passou por minha cabeça. E colegas perguntaram: onde estava Ubiratan. Sofrendo, em Brasília, de onde chegou a triste informação.
Vi Ubiratan jogar pela primeira vez no final dos anos 70. Era início
de minha admiração pelo basquete. Era também o fim de uma era. Bira foi,
durante sua carreira, um exemplo. Um jogador admirado até mesmo pelo time
adversário. Era sinal de respeito, empenho e dedicação. Nos clubes e,
principalmente, em sua brilhante história na seleção brasileira.
Bira, o jogador, era um guerreiro no garrafão. Com aquele jeito
desengonçado. Seu estilo nos lances livres, creio, era inigualável. Muito
estranho. Mas nada capaz de intimidá-lo, de tirar o coração que colocava em
cada partida. O mesmo coração que agora ameaça jogar contra ele.
Com a raça que demonstrou nas quadras e com os médicos agora à sua
disposição, acredito que ele poderá vencer a mais difícil de suas batalhas.
Força, Bira!
Na Philadelphia...
Foi muito desconfortável acompanhar a segunda metade do All-Star Game
sabendo da situação de Ubiratan. Lá, nos EUA, garotos milionários fazendo
firula na quadra, alguns sem a menor graça. Enquanto isso, Bira em coma,
aquele que foi um exemplo, que poderia muito bem ser chamado de Professor do
Garrafão.
Como muitos outros, o ASG de 2002 foi um duelo de egos. Mas isso não
tira o mérito da escolha de Kobe Bryant como o MVP da partida. Não só pelos
31 pontos, mas porque ele realmente mereceu. Mesmo que, em alguns instantes,
tenha sido exageradamente fominha, na tentativa de emplacar o maior número
possível de pontos para assegurar o prêmio.
Em 1998, Kobe já merecia ter sido eleito o MVP. Mas, no quarto
período, estranhamente o técnico George Karl, da equipe do Oeste, deixou
Bryant mofando no banco. Até hoje, acredita-se que foi uma determinação do
departamento de marketing da NBA, que queria dar o prêmio de MVP como uma
homenagem a Michael Jordan. O rei já dava sinais de que deixaria o basquete,
o que acabou se confirmando no início da temporada seguinte, marcada pela
greve patronal.
Desta vez, Bryant tratou de garantir o prêmio bem antes do quarto
período. No intervalo, já tinha 23 pontos. E, no último período, a história
se repetiu. Ele ficou a maior parte do tempo no banco, esperando pelo final
da partida e pelo anúncio oficial do prêmio. Estranhamente, um dos
assessores técnicos do Oeste era Del Harris, que era treinador do Lakers
quando Kobe chegou a Los Angeles, trocado com o Charlotte Hornets por Vlade
Divac e Elden Campbell. Naquela época, Bryant era reserva no time de Harris.
O prêmio acabou aumentando ainda mais o ego do garoto prodígio do
Lakers. Ele cresceu na Philadelphia, mesmo local onde conquistou o segundo
título da NBA, com as três vitórias seguidas do Lakers nas finais da
temporada passada. E ainda calou as vaias da torcida, que esperava por um
show de Allen Iverson, que nada fez. O dia, pelo menos nos EUA, foi mesmo de
Kobe Bryant.