Faz muito tempo eu era ainda muito jovem mas já jornalista profissional, voltava de Campinas. Tinha perdido a condução da Rádio Difusora que me traria de volta a São Paulo. No ônibus da viação Cometa estávamos eu, Parada, grande centroavante do Guarani e Osvaldo, perigoso atacante, também do bugre campineiro. O jogo tinha sido contra o São Bento de Sorocaba, o Guarani vencera por 2 a 1, gol de pênalti marcado por Parada.
Osvaldo se levantou lá de trás do ônibus e brincou: “Poxa, Parada! Você quase perdeu o pênalti. Se o goleiro...” O goleador respondeu: “No futebol não tem se...” Aprendi a lição. Levei a frase para o rádio. Até agora repetem a mesma coisa sem saber porque.
Vi Romário chorando em várias fotos nas páginas dos jornais. Imaginei então se eu fosse o Romário. Mas no futebol e na vida não existe o se... Pouco me importa, mas se eu fosse o Romário acrescentaria alguma coisa além das lágrimas tipo:
“Olha Felipão, vim lá das quebradas do mundaréu, me fiz sozinho, poderia ter sido bandido, pivete, maloqueiro, mas não fui. Meus parceiros ficaram lá atrás. Virei jogador, menino prodígio, meu caminho foi o gol. Essa trilha sei de cor. Conheço os atalhos, as encruzilhadas. Sempre cheguei lá, porque sabia essa estrada, rodei o mundo. O gol me levou à Europa. Fui príncipe na Holanda, nobre na Espanha, fui rei na Copa do Mundo, coroado com festa e distinção. Mas nunca deixei de ter os problemas do dia-a-dia. Enfrentei o Parreira e o Zagallo, que não gostavam de mim. Fiz gols, entreguei a eles o troféu de campeão. O mundo deu voltas. Na França, uma dor na perna que tinha feito tantos gols, me traiu. Quando precisei dos amigos não os encontrei. Até mesmo o Zico, por despeito ou inveja, me tirou da Copa. Zagallo ficou com medo. Agora gostaria de acertar minhas diferenças. Acertar comigo mesmo, mas tudo que eu faço ainda é pouco. Só tenho para oferecer os meus gols, aos montes, às pencas. Na Seleção que agora me nega a camisa só perco para o Pelé, isto é, não perco para ninguém porque Pelé não é deste mundo. Tudo isso ainda é pouco, minhas lágrimas não são de arrependimento, elas não pedem perdão, são lágrimas de dor ao perceber que no país do futebol não basta apenas fazer gols. Pena que no futebol e na vida não exista o se...”