O basquete brasileiro vive um momento de transição. Novas
oportunidades se abrem para uma geração esquecida, a dos estudantes,
enquanto tradicionais celeiros de craques passam por situação à beira da
dramaticidade. É, acima de tudo, tempo de reflexão.
As boas novas chegam com duas competições colegiais, algo que há
muito não ocorria no país. O que promete causar mais agito é, sim dúvida,
o torneio promovido pela NBA com escolas particulares de São Paulo. A
garotada já está sendo recrutada e os jogos devem começar ainda este mês.
Outro torneio, este patrocinado pela Nestlé e organizado pela
empresa de marketing da ex-jogadora Hortência, já teve o seu lançamento
oficial. Menos elitista, também conta com escolas públicas.
Quem quer dar os primeiros passos no basquete tem opções restritas.
Se não é sócio de algum clube, torna-se ainda mais difícil. A escola,
então, passa a ser um instrumento importante.
Mas é necessário que os organizadores tenham a consciência de que se
trata de um trabalho sem imediatismos. Espera-se que não se trate apenas
de um jogada de marketing oportunista e que possa fazer sucesso por muitos
anos.
Ao mesmo tempo em que nascem essa novas oportunidades, a situação
em alguns clubes tradicionais não é das melhores. O maior exemplo é a
equipe masculina de Mogi das Cruzes, que agoniza na penúltima colocação do
Campeonato Nacional.
Em situação semelhante está Franca, com toda sua tradição e que,
pela primeira vez, não deve conseguir a classificação aos playoffs. Sinal
dos tempos difíceis, com patrocinadores escassos. Apesar dos maus
resultados na quadra, não se pode esquecer do trabalho de base feito na
cidade. Basta lembrar que sua última grande revelação, o pivô Ânderson
Varejão, hoje está no Barcelona da Espanha.
Vale também registrar que entre as mulheres o drama é ainda maior.
O Campeonato Paulista, o principal do país, só conseguiu reunir seis
equipes. E a principal jogadora brasileira, Janeth, continua impedida de
atuar aqui, por absoluta falta de investimentos à altura de uma estrela
internacional.
São situações que revelam o período instável do basquete
brasileiro: escolas fortalecidas, com apoio publicitário e até da NBA, e
clubes com orçamentos cada vez mais apertados, além da agonia nos times
femininos. O momento indica que, talvez mais importante do que bons
técnicos, o que o Brasil precisa é de administradores esportivos
profissionais, que sejam capazes de lidar com essa situação delicada. O
que possam traçar um caminho menos espinhoso para um futuro recente.