Quem gosta muito de futebol – ou seja, quase todo mundo – sabe exatamente
como as decisões funcionam. O sono difícil da véspera, a impressão de que
tudo o que se faz na vida antes do jogo começar não é para valer, o frio na
barriga na hora do apito inicial, suores, tremores e, acima de tudo, aquele
questionamento íntimo: por que diabos a gente sofre tanto com essas coisas?
Os torcedores do mundo todo, que dificilmente encontrarão a resposta para
essa pergunta, tiveram um final de semana de muito sofrimento. Tudo começou
no sábado, em Londres, onde o Arsenal do escritor Nick Hornby – um dos
atormentados pela fatídica pergunta, assunto de seu ótimo livro “Febre de
Bola” – conquistou o torneio mais antigo do mundo: a Copa da Inglaterra,
disputada desde 1872. Agora os Gunners, os fanáticos torcedores do Arsenal,
vão em busca do campeonato inglês, que será decidido esta semana.
Ainda no sábado, o Borussia Dortmund, do artilheiro Amoroso, faturou o
Campeonato Alemão com um gol incrível de seu compatriota Ewerton. O Bayer
Leverkussen, do zagueiro Lúcio, esteve bem perto do título inédito, mas
entregou os pontos na reta final. Quem também entregou os pontos no último
jogo foi o Lens, que perdeu o Campeonato Francês no choque direto com o
Lyon, de Juninho Pernambucano. Foi o primeiro título nacional da história do
Lyon.
O domingo de decisões começou com uma grande decepção: a derrota da
Internazionale para a Lazio, que acabou dando mais um título para a
campeoníssima Juventus. A estrela do nosso Ronaldo, mais uma vez, deixou
de brilhar bem na hora da decisão. Mas a sorte que abandonou o Fenômeno
brilhou para outro brasileiro, Fábio Aurélio, que marcou o gol do título
espanhol do Valência – na fila desde 1971.
Ainda que com regras bem menos claras e sem privilegiar as melhores
campanhas através do sistema de pontos corridos, os campeonatos regionais
brasileiros também viveram um domingo de finais. Na Bahia, um eletrizante
Ba-Vi começou a decidir o Campeonato do Nordeste. Quem saiu na frente foi o
Bahia, que conseguiu uma importante vantagem ao vencer o rival por 3 a 1. Na
Copa Centro-Oeste, o Gama confirmou a boa fase do futebol da Capital Federal
– que já tem o Brasiliense na final da Copa do Brasil – e bateu o Goiás por
3 a 2, no jogo de ida.
Já na Copa Sul-Minas, a única com uma final que colocou frente-a-frente
equipes das duas regiões nela representadas, o Atlético Paranaense tenta
defender a condição de melhor equipe do país, conquistada com justiça após a
vitoriosa campanha no Brasileirão 2001. Só que o Cruzeiro, que eliminou o
rival de toda a vida na semifinal do torneio, parece querer manter a fama de
“exterminador de atléticos”. Na primeira partida, disputada em plena Arena
da Baixada, o clube mineiro conseguiu uma heróica vitória de 2 a 1 – e agora
jogará em casa por um empate.
Mas nenhuma decisão foi tão emocionante quanto São Paulo x Corinthians pelo
Torneio Rio-SP. No primeiro tempo, amplamente dominado pelos tricolores,
assistimos a um duelo excessivamente cauteloso. O Corinthians simplesmente
não apareceu para jogar e, em função disso, a equipe do Morumbi não teve
muito trabalho para conquistar a vantagem – mesmo atuando desfalcada de seus
dois principais craques: França e Kaká.
Felizmente, o marasmo ficou esquecido nos vestiários durante o intervalo, e
as duas equipes disputaram uma vertiginosa etapa final. Provando mais uma
vez aos críticos de plantão que é um grande treinador, Parreira acertou o
Corinthians no meio-tempo e, em 20 minutos de futebol empolgante, seu time
fez os três gols que resolveram a partida.
O título desta coluna, no entanto, não se aplica só aos jogos do final de
semana. Hoje, às 14h, Felipão dará forma definitiva à Seleção que vai
representar o Brasil na Copa do Mundo. Que ele possa deixar de lado vaidades
e preconceitos e escalar os melhores de cada posição. A partir de hoje,
resta-nos apenas torcer muito. E continuar perguntando: por que diabos a
gente sofre tanto com essas coisas?