Ronaldinho, o italiano, chegou na segunda-feira ao Rio às dez horas da noite. Calmo, ao lado da mulher Milene Domingues, empurrava o carrinho, carregado de roupas e malas. De quebra, levava o filhinho no colo. No saguão, pouca gente. De repente, apareceram os repórteres, essa classe sofrida que persegue a notícia.
Como acontece nesses momentos, solenes, câmeras, microfones e gravadores foram ligados. Ronaldinho, como quem faz um favor começou a responder as perguntas. Tudo ia bem, aparentemente, até que
um jornalista, atento, fez a pergunta inevitável: “E a ausência de
Romário, hein Ronaldinho?” Bastou, para o nosso herói despertar.
O Fenômeno pediu desculpas, foi seco, lacônico, disse que estava cansado e queria ir embora. Empurrando o carrinho, mulher e filho a tiracolo, foi se afastando. Deixou pergunta e resposta para trás. Levou, consigo, parte do mistério que envolve o mundo do futebol. Um microcosmo que pode ser, de amor e ódio, e, pior que tudo, de indiferença.
Não sei que tipo de relacionamento Ronaldinho tem com Romário. Nem mesmo sei se existe sintonia e amizade. Pelo gesto do viajante recém-chegado, não existe nada disso. O que me lembro é que, na Copa de 94, nos Estados Unidos, ainda quase um adolescente, Ronaldinho viu, sentado no banco de reservas, a explosão de Romário. Quando o Brasil precisou, Romário estava lá, no campo, fazendo gols. O Brasil não precisou de Ronaldinho, que ficou lá, na reserva. Quatro anos depois, a dor os uniu.
Na França, Romário contundido, isolado, sozinho, juntou sua tristeza e foi embora. No dia da última partida, horas antes da decisão, Ronaldinho não agüentou a barra. Um confronto de emoções e responsabilidade atormentou o jogador. Pressões de todos os lados, forças ocultas, o empurraram para dentro do campo. No Brasil, olhando pela televisão, Romário acompanhou o vexame final. Foi testemunha da dor do companheiro.
Companheiro? Nada disso. Apenas colega de profissão. E olhe lá...