CAPA ESPORTES
 Últimas
 Mundial 2002
 Esportes TV
 Terragol
 Esportes Show
 Cartões
 Notícias por e-mail
 Chance de gol
 Futebol
 Fórmula 1
 Automobilismo
 Tênis
 Basquete
 Vôlei
 Surfe
 Aventura
 Mais esportes
 Colunistas
 Fale com a gente



Marcos Caetano
Segunda-feira, 20 Maio de 2002, 15h49
terraesportes@terra.com.br

Com b minúsculo


O ato de escrever, para mim, sempre foi um grande prazer. Sinto-me invadido por um ânimo adolescente cada vez que ligo o computador e olho para a tela em branco, convidando-me a preenchê-la com palavras que façam sentido e, principalmente, entretenham quem as lê. Hoje, tenho que confessar, não estou me sentindo exatamente assim. Por quê? – perguntará o leitor, já temendo pelo pior, ou seja, chegar até o pé da coluna sem obter o mais básico dos direitos dos leitores: encontrar textos que divirtam, informem, instiguem a reflexão ou ao menos façam o tempo passar mais depressa. E, de preferência, tudo isso ao mesmo tempo.

Ao preocupado amigo, devo informar que a razão de tal frouxidão anímica é simples: preciso escrever sobre o Brasil x Catalunha de sábado. Como, por dever jornalístico, não poderei enaltecer nossa atuação, já sei que amanhã toparei com mensagens de torcedores acusando-me de ser antipatriota e não estar ajudando a Seleção em seu esforço pelo penta. Essas avaliações, especialmente no dia seguinte àquele em que festejei o aniversário da minha filha Clarissa com a casa toda enfeitada de verde-e-amarelo – sim, o tema da festinha foi a Seleção – terão sabor particularmente injusto.

Há quem confunda crítica com desamor. Para esses, dou sempre o mesmo exemplo: imagine o mais apaixonado torcedor do nosso Ameriquinha, um sujeito que, mesmo lutando contra a procela em tantos anos de sofrimento, preservou sua fé no clube amado. Ora, estaria esse torcedor impedido de criticar a equipe que fez vergonha no Rio-SP? É claro que não. E é por isso que não posso escrever aqui que a Seleção Brasileira jogou bem, ainda que torça com todas as minhas forças para que voltemos de Yokohama com aquela taça debaixo do braço.

Quais foram, então, as virtudes e defeitos da nossa Seleção no jogo contra os catalães? As virtudes foram bem poucas, como qualquer pessoa desprovida de fanatismo – se é que as há, nesses idos de maio – pôde observar. Elas atendiam pelos nomes de Ronaldinho Gaúcho e Denílson. Virtudes individuais, portanto, não de equipe. Tanto que os gols saíram de bola parada ou dos pés de nosso solista pampeiro. Gol de bola parada, claro, também vale – e se temos um jogador que é grande candidato a terminar a Copa como o craque do torneio, sorte nossa. Mas grandes times são aqueles que não dependem apenas dos lampejos do craque – mesmo se esse craque for o Pelé. Uma seleção que pretende ganhar uma competição importante precisa, por exemplo, de um centroavante ameaçador, coisa que Luizão e Ronaldinho Carioca – permitam-me chamá-lo assim, já que foi o único convocado da Cidade Maravilhosa – não foram no sábado. Lentos, previsíveis, errando cabeçadas, sem poder de finalização, foram presas fáceis mesmo para os marcadores catalães, que atuam juntos apenas uma vez por ano. As cavadas de faltas do habilidoso Denílson foram nossa principal jogada de ataque. Apenas para não parecer insistente, juro que não vou fazer comparações entre os dois centroavantes chamados por Scolari e vocês-sabem-quem. Lembro, entretanto, que para tal posição a Argentina poderá escolher entre os perigosos Batistuta, Caniggia, Crespo, Piojo Lopez e Killy Gonzalez.

Um time verdadeiramente poderoso também não pode falhar tanto na retaguarda. Anderson Polga e Edmílson conseguiram a façanha de errar mais do que Roque Júnior – e isso é preocupante. Tão preocupante quanto o frango engolido pelo Marcos. Mas a maior das obviedades é que não podemos atuar sem um jogador de articulação. Candidatos existem: Ricardinho, Juninho Pernambucano, Felipe e Zinho. Kléberson e Émerson – que, provocação máxima, jogou com a sete de Garrincha – jamais farão essa função.

No fim das contas, fiquei com a sensação de que o gaúcho que pode realmente ganhar essa copa para nós estará em campo, com a camisa 10, e não gritando do banco. E que, ao menos até aqui, os integrantes da família Scolari se mostram muito unidos e entrosados – até a hora em que alguém coloca uma bola de futebol entre eles. Talvez por concordar um pouco comigo, nosso treinador tenha usado no sábado um agasalho com o nome do Brasil... com b minúsculo.

 

veja lista das últimas colunas

Juarez Soares Marcos Caetano Fernando Santos